Nas últimas semanas, o Paquistão apertou o cerco contra pessoas que vivem irregularmente no país, o que tem afetado particularmente os afegãos. Mais de 300 mil deles já deixaram o território paquistanês, um processo que, de acordo com analistas ouvidos pela rede Deutsche Welle (DW), pode gerar problemas de segurança para Islamabad.
O expurgo pode afetar até 1,7 milhão de afegãos que vivem irregularmente no Paquistão. E não foi bem recebido pelo Taleban, que governa o Afeganistão desde agosto de 2021, quando ascendeu ao poder após a evacuação das forças ocidentais que ocupavam o país.
Na semana passada, o primeiro-ministro paquistanês em exercício, Anwar ul-Haq Kakar, disse que a decisão foi motivada pelo aumento dos episódios de terrorismo no Paquistão nos últimos meses.
Islamabad enviou ao Taleban afegão uma lista de membros do grupo extremista Tehrik-e Taliban Pakistan (TTP), popularmente conhecido como Taleban do Paquistão, que supostamente estariam se escondendo no Afeganistão. Pediu que fossem presos e enviados de volta, mas alega que não houve qualquer ação nesse sentido.

Pois é justamente a boa relação entre o TTP e o Taleban do Afeganistão que pode se virar contra o Paquistão. De acordo com o Dr. Faizullah Jan, analista baseado em Peshawar, o retorno dos afegãos provavelmente sobrecarregará o governo talibã, criando ainda um sentimento antipaquistanês entre a população.
Uma consequência dieta disso, de acordo com a Dra. Noreen Naseer, da Universidade de Peshawar, pode ser uma aliança entre o TTP e o Taleban afegão, aumentando assim o poder do grupo paquistanês para realizar ataques no Pqusitão.
Hoje, apesar das alegações frequentes de que o Taleban apoia o grupo homônimo paquistanês, não há qualquer comprovação disso. O distanciamento entre Cabul e Islamabad, entretanto, abriria caminho para os radicais que governam o Afeganistão formalizarem a aliança.
“Existe o receio de que soldados de infantaria do Taleban afegão possam se juntar ao TTP nos ataques ao Paquistão, o que poderia criar graves desafios de segurança para o Paquistão”, disse Ihsanullah Tipu Mehsud, um especialista em militância baseado em Islamabad.
Diante de tal cenário, a turbulência poderia se espalhar pelo Paquistão, inflamando por exemplo os grupos separatistas do Baluchistão, como o Exército de Libertação Baluchi (ELB) e a Frente de Libertação do Baluchistão (BLF), igualmente responsáveis por ataques terroristas no país.
O Baluchistão se estende por três países, Paquistão, Irã e Afeganistão. É uma região árida, montanhosa e rica em recursos minerais, cujo nome vem dos baluchis, um povo muçulmano essencialmente sunita que é originário do Irã e habita a área.
A porção paquistanesa é a mais extensa, na porção ocidental do país, e tem sido palco de muita violência nos últimos anos. Os grupos separatistas que atuam na região entraram em conflito com o governo do Paquistão, o que gerou milhares de mortes desde 2004.
“Os afegãos seculares e nacionalistas já não gostam do Paquistão”, afirma o general paquistanês reformado Ghulam Mustafa, que vê espaço até para a Índia ser inserida no problema devido à rivalidade com o governo paquistanês.
“Em caso de conflito, o Paquistão poderia enfrentar a Índia na frente oriental e um governo não amigável na frente ocidental”, declarou o militar.