Facção afegã do Estado Islâmico volta a agir contra minoria e mata sete em Cabul

Ataque mais uma vez ocorreu no bairro de Dashti Barchi, na capital afegã, e as vítimas são pessoas da minoria étnica xiita dos hazara

O Estado Islâmico-Khorasan (EI-K) assumiu a autoria de um atentado a bomba que deixou sete pessoas mortas e 20 feridas em Cabul, capital do Afeganistão, na terça-feira (7). O grupo concentrou seu ataque mais uma vez na comunidade xiita, segundo informações da agência Associated Press (AP).

Khalid Zadran, porta-voz da polícia afegã comandada pelo Taleban, disse que um explosivo foi ativado dentro de um micro-ônibus no bairro de Dashti Barchi, habitado majoritariamente pela minoria étnica dos hazara, que sofrem perseguição no país e nos últimos anos se tornaram um alvo preferencial da facção afegã do Estado Islâmico (EI).

Em Dashti Barchi foram registrados ataques contra escolas, hospitais e mesquitas, considerando somente o período em que os talibãs governam o Afeganistão. Em 26 de outubro deste ano, o alvo foi um clube esportivo da região, onde quatro pessoas foram mortas em virtude de um ataque realizado pelo EI-K.

Cabul, no Afeganistão (Foto: Farid Ershad/Unsplash)
A ineficácia do Taleban

A situação levou a ONG Human Rights Watch (HRW) a publicar um relatório, em setembro de 2022, no qual afirma que o Taleban, desde que assumiu o governo de fato do Afeganistão, em 15 de agosto de 2021, tem sido ineficiente em sua obrigação de proteger a população, particularmente algumas minorias xiitas.

O documento foca particularmente no caso dos hazara, que foram perseguidos pelos próprios talibãs durante a passagem anterior do grupo pelo poder, entre 1996 e 2001. Atualmente, embora tenham se aproximado dos radicais que governam o país, tornaram-se alvo frequente do EI-K.

Até o momento do relatório, a HRW havia registrado 13 ataques do EI-K contra os hazaras desde que o Taleban chegou ao governo. Setecentas pessoas haviam morrido ou ficado feridas nessas ações, números que incontestavelmente aumentaram desde setembro do ano passado.

O descaso com a minoria xiita contraria uma das muitas promessas feitas pelo Taleban quando chegou ao poder. “Como governo responsável, somos encarregados de proteger todos os cidadãos do Afeganistão, especialmente as minorias religiosas do país”, disse em outubro de 2021 o porta-voz do Ministério do Interior Saeed Khosty, numa promessa que não vem sendo cumprida.

Um ataque marcante atingiu a Escola Abdul Rahim Shahid de ensino médio, em Dashti Barchi, no dia 19 de abril de 2022. Entre alunos, professores e funcionários, 20 pessoas foram mortas ou feridas na ação do EI-K. Uma segunda explosão ainda foi relatada no mesmo dia no Centro Educacional Mumtaz, a alguns quilômetros de distância.

Além de cobrar uma mudança de postura do Taleban, a fim de melhor proteger as minorias atingidas pelo EI-K, o relatório reivindica uma ação global que pressione os governantes afegãos nesse sentido.

“Os governos envolvidos com o Taleban devem exigir uma melhor proteção das comunidades hazara e xiita e devem incentivar e apoiar mecanismos para fortalecer a responsabilidade por crimes cometidos no Afeganistão, inclusive contra as comunidades hazara e xiita”, diz a ONG.

Por que isso importa?

O EI-K não é novo no cenário afegão. O grupo extremista opera no país desde 2015 e surgiu na esteira da criação do Estado Islâmico (EI) do Iraque e da Síria. Foi formado originalmente por membros de grupos do Paquistão que migraram para o Afeganistão fugindo da crescente pressão das forças de segurança paquistanesas. Não há diferença substancial entre o EI e o EI-K, somente o local de origem, a região de Khorasan, originalmente no Irã.

Agora que a ocupação estrangeira no Afeganistão terminou e que o antigo governo foi deposto pelo Taleban, os principais alvos do EI-K têm sido a população civil e os próprios talibãs, tratados como apóstatas pelo Khorasan sob a acusação de que abandonaram a jihad por uma negociação diplomática.

Os ataques suicidas são a principal marca do EI-K, que habitualmente tem uma alta taxa de mortes por atentado. O mais violento de todos eles ocorreu durante a retirada de tropas dos Estados Unidos e da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), quando as bombas do grupo mataram 182 pessoas na região do aeroporto de Cabul.

No início de outubro, dezenas de pessoas morreram em um ataque suicida a bomba contra uma mesquita na província de Kunduz, no nordeste do Afeganistão. Já em novembro, nova ação do EI-K, esta contra um hospital de Cabul, deixou 25 pessoas mortas e cerca de 50 feridas.

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