Fome irá ameaçar uma em cada três crianças afegãs no ano que vem, diz ONG

A insegurança alimentar no território afegão deve agravar-se até o final do inverno em março, afetando 7,8 milhões de crianças

Quase oito milhões de crianças no Afeganistão, média de uma em cada três, enfrentarão níveis críticos de fome ao entrar no próximo ano, relatou a ONG Save the Children.

A preocupante estimativa foi apontada em novos dados divulgados pelo IPC (Classificação Integrada de Fases de Segurança Alimentar), sistema global de monitoramento da fome, que indicam um aumento nos níveis de má nutrição durante os meses de inverno, embora a situação tenha melhorado em comparação com o ano passado.

Cerca de 15,8 milhões de pessoas, mais de um terço da população afegã, enfrentarão insegurança alimentar aguda até março de 2024, com 7,8 milhões sendo crianças. O inverno, que teve início em dezembro e irá se estender até março, reduz as oportunidades de emprego, elevando os preços de alimentos e combustíveis, segundo o IPC.

Além disso, o Afeganistão lida com o retorno de afegãos do Paquistão em meio à atual repressão a estrangeiros ilegais no país vizinho, e do Irã, totalizando cerca de 460 mil desde setembro.

Mãe aguarda com seus filhos do lado de fora da janela do consultório de nutricionista em uma clínica médica gratuita na cidade de Farah (Foto: WikiCommons)

O Afeganistão enfrentou três cortes consecutivos na assistência alimentar neste ano, aumentando a vulnerabilidade de famílias que perderam casas e alimentos devido aos fortes terremotos que atingiram a província de Herat, no oeste do país. Sem uma injeção urgente de financiamento durante o inverno, milhões de afegãos correm o risco de passar fome, alerta a Save the Children.

Ouvida pela ONG, uma mulher identificada como Zeba e sua família estão entre os afetados. “Às vezes, não temos pão para comer, e dormimos com fome. Ver minha filha enfraquecer a cada dia e chorar por comida é devastador”, relatou.

A brutalidade do inverno também representa desafios adicionais, com um episódio anterior resultando na morte de pelo menos 160 pessoas devido às temperaturas extremas. Diante da situação, a Save the Children apela à comunidade internacional para aumentar urgentemente a assistência humanitária e evitar uma crise alimentar durante o período mais frio do ano no Afeganistão.

A ONG observa que, quando crianças enfrentam a fome, sua saúde fica comprometida, aumentando o risco de desnutrição e enfraquecimento do sistema imunológico. O rigoroso inverno ameaça agravar esses problemas de saúde, podendo resultar em complicações respiratórias, hipotermia e pneumonia.

O legado da fome

A fome também impacta de maneira duradoura o desenvolvimento físico, cognitivo e psicológico das crianças. Arshad Malik, diretor da Save the Children no Afeganistão, alerta que a estimativa é de que 7,8 milhões de crianças iniciarão 2024 sem terem o suficiente para comer.

“A combinação de fome e o frio intenso em grande parte do Afeganistão cria uma situação perigosa para as crianças. É fundamental atender às suas necessidades nutricionais. A falta de financiamento coloca vidas em risco a cada dia que passa”, disse.

Malik observou que, além do financiamento humanitário imediato para atender às necessidades básicas, é preciso coordenar esforços concentrados para abordar as causas fundamentais da crise alimentar no país, impulsionada por uma combinação de mudanças climáticas, instabilidade econômica, falta de empregos e altos preços dos alimentos.

“O Afeganistão está enfrentando desastre após desastre – inundações, terremotos e secas têm impactado profundamente a vida das crianças. O país agora enfrenta a pressão adicional de centenas de milhares de pessoas retornando do Paquistão e do Irã. 2024 deve ser um ano melhor para as crianças afegãs”, disse.

E acrescentou: “também precisamos ver a comunidade internacional retomando a programação de necessidades básicas para apoiar a recuperação da economia afegã.”

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