Forças de segurança suprimem protesto simbólico com violência no Irã, diz ONG

Human Rights Watch denuncia o aumento da repressão estatal no país após ato que lembrou a "Sexta-Feira Sangrenta"

As forças de segurança iranianas empregaram força excessiva contra manifestantes que lembraram, no dia 30 de setembro, o aniversário de um ano da repressão governamental conhecida como a “Sexta-feira Sangrenta”, episódio ocorrido durante a onda de protestos na República Islâmica em 2022, conforme denunciado pela ONG Human Rights Watch (HRW).

Relatos indicam o uso de projéteis de espingarda, balas de borracha e gás lacrimogêneo, além de agressões físicas, nos dias 29 de setembro e 20 de outubro. Diante do incidente, a organização insta a Missão Internacional das Nações Unidas de Apuração de Fatos (FFM, da sigla em inglês) sobre o Irã a investigar o padrão de abuso de força e detenções arbitrárias em protestos, especialmente em áreas com grandes minorias étnicas e religiosas, como a cidade de Zahedan, no Sistão, e na província do Baluchistão.

Tara Sepehri Far, investigadora sênior sobre o Irã na HRW, destacou a intensificação brutal das autoridades iranianas contra “manifestações que clamam por mudanças fundamentais”, especialmente em localidades com importantes grupos minoritários.

“As autoridades iranianas estão mais empenhadas do que nunca em esmagar brutalmente os protestos do seu próprio povo”, disse.

Protesto contra o regime na República Islâmica e pela liberdade do povo iraniano na Alemanha, em outubro de 2022 (Foto: WikiCommons)

A Human Rights Watch conduziu entrevistas com três testemunhas do protesto em 29 de setembro e uma do protesto em 20 de outubro. Além disso, foram verificados e analisados 14 vídeos postados no Telegram entre 29 de setembro e 5 de outubro.

Os vídeos mostram forças de segurança utilizando gás lacrimogêneo contra os manifestantes, além de agredi-los fora da Mesquita Maki, no centro de Zahedan. De acordo com as testemunhas, as forças de segurança dispararam balas de chumbo e paintball na parte superior do corpo dos manifestantes, os agrediram com cassetetes e detiveram um grande número de participantes, incluindo crianças.

Os recentes protestos mantêm viva a memória da repressão fatal ocorrida em Zahedan, capital majoritariamente balúchi da província de Sistão e Baluchistão, uma das regiões mais economicamente marginalizadas do Irã. Na chamada “Sexta-feira Sangrenta”, em 30 de setembro de 2022, as forças de segurança iranianas empregaram força letal ilegal, resultando na morte e ferimento de várias dezenas de manifestantes, marcando o dia com o maior número de vítimas durante os protestos de 2022. Entre os mortos estavam pessoas que saíam da oração de sexta-feira no Salão de Oração Grand Mosalla.

Segundo a HRW, as autoridades locais não tomaram medidas para buscar justiça para as famílias das vítimas da Sexta-feira Sangrenta. Uma fonte informada revelou que funcionários do governo pressionaram as famílias em busca de silêncio, oferecendo diyah, uma compensação financeira sob a lei islâmica, em troca. A maioria das famílias rejeitou essa oferta, buscando em vez disso responsabilização pelos responsáveis pelas mortes de seus entes queridos. As vítimas sem documentação adequada não receberam compensação.

Tara destacou que, ao longo do último ano, os habitantes de Sistão e Baluchistão têm protestado regularmente contra um governo autocrático, e, em vez de atender às suas demandas, as autoridades iranianas recorreram à repressão severa e à detenção arbitrária, inclusive de adultos e crianças.

Por que isso importa?

Os protestos que se seguiram à morte de Mahsa Amini começaram no Curdistão, província onde ela vivia, e depois se espalharam por todo o país, com gritos de “morte ao ditador” e pedidos pelo fim da República Islâmica.

As forças de segurança iranianas passaram a reprimir as manifestações de forma violenta, com relatos de centenas de mortes nas mãos da polícia e inúmeros casos de execuções judiciais abusivas, aplicadas contra manifestantes julgados às pressas.

No início de outubro de 2022, a ONG Human Rights Watch (HRW) publicou um relatório que classifica o regime iraniano como “corrupto e autocrático”, denunciando uma série de abusos cometidos pelas forças de segurança na repressão aos protestos populares.

Além dos mortos e feridos, a ONG destaca os casos de “centenas de ativistas, jornalistas e defensores de direitos humanos” que, mesmo de fora dos protestos, acabaram presos pelas autoridades. E cita também o corte dos serviços de internet, com plataformas de mídia social bloqueadas em todo o país desde o dia 21 de setembro, por ordem do Conselho de Segurança Nacional do Irã.

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