Instalação da ONU é alvo de ataque em Gaza, com ao menos nove pessoas mortas

Bombardeio atingiu um centro de treinamento que abriga 30 mil pessoas no sul do enclave. Israel nega autoria e culpa o Hamas

A ONU (Organização das Nações Unidas) anunciou na quarta-feira (24) que uma de suas instalações em Khan Younis, no sul da Faixa de Gaza, foi alvo direto de um ataque que deixou ao menos nove pessoas mortas e 75 feridas.

O local abriga dezenas de milhares de palestinos e é gerido pela Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina no Oriente Próximo (UNRWA). Muitas pessoas têm se deslocado para o sul de Gaza devido às hostilidades mais intensas no norte, onde começou o conflito, e desde então as operações israelenses por lá vêm aumentando.

“Outro dia horrível em Gaza. O número de mortos é provavelmente maior. O centro de formação profissional de Khan Younis é uma das maiores instalações da UNRWA, abrigando quase 30 mil pessoas”, disse Philippe Lazzarini, comissário geral da agência.

Lazzarini ainda sugeriu que o ataque foi realizado por Israel. “O complexo é uma instalação claramente marcada, e suas coordenadas foram compartilhadas com as autoridades israelenses, tal como fazemos com todas as nossas instalações. Mais uma vez, um flagrante desrespeito às regras básicas da guerra.”

Campo de refugiados da UNRWA em Khan Yunis, no sul da Faixa de Gaza (Foto: Abed Zaqout/Unicef)

Thomas White, diretor da UNRWA para assuntos de Gaza, disse que o local foi atingido por disparos de tanques de guerra. E acrescentou que as Forças de Defesa de Israel (IDF, na sigla em inglês) fecharam o acesso à área, impedindo que mesmo agentes da entidade se aproximassem do centro de treinamentos, segundo a agência Reuters. Quem tentava sair também foi impedido.

Inicialmente, o governo israelense deu sinais de que realmente realizou o ataque, argumentando que a área mais ampla no entorno do centro serve de abrigo para combatentes do Hamas, grupo extremista palestino que em 7 de outubro atacou Israel, dando início ao conflito atual.

“Desmantelar a estrutura militar do Hamas no oeste de Khan Younis é o cerne da lógica por trás da operação”, disse Israel, que posteriormente mudou de tom e negou a autoria. Alegou ter analisado seu sistema operacional sem detectar qualquer ataque do gênero, sugerindo então que na verdade foi o próprio Hamas que atingiu o edifício.

A negativa israelense surgiu após a manifestação do governo dos EUA, cujo Departamento de Estado criticou o ocorrido. “Deploramos o ataque de hoje ao centro de treinamento da ONU em Khan Younis”, disse Vedant Patel, porta-voz do órgão.

“Os civis devem ser protegidos, a natureza protegida das instalações da ONU deve ser respeitada e os trabalhadores humanitários devem ser protegidos para que possam continuar a fornecer aos civis a assistência humanitária vital de que necessitam”, acrescentou.

Sul de Gaza sob ataque

Segundo a UNRWA, esta não foi a única ação contra a população palestina no sul de Gaza. “Os ataques persistentes a locais civis em Khan Younis são totalmente inaceitáveis ​​e devem parar imediatamente. Pessoas estão sendo mortas e feridas. À medida que os combates se intensificam em torno dos hospitais e abrigos que acolhem os deslocados, as pessoas ficam presas lá dentro e as operações de salvamento são impedidas”, disse a agência. 

“Várias missões para avaliar a situação foram negadas. Ontem (quarta-feira) à noite, a ONU finalmente conseguiu chegar às áreas afetadas para tratar pacientes traumatizados, trazer suprimentos médicos e evacuar pacientes feridos para Rafah”, prosseguiu a entidade. 

Jamie McGoldrick, coordenador humanitário interino da ONU para o Território Palestino Ocupado, também ressaltou que o ataque mais recente em Khan Younis ocorre em meio ao aumento das hostilidades em torno da cidade, onde agentes humanitários a serviço da ONU atuam para fornecer à população serviços básicos, como alimentação, apoio médico, abrigo, água e saneamento.

McGoldrick destacou ainda a situação humanitária catastrófica na cidade de Rafah, perto da fronteira com o Egito e um ponto de passagem de ajuda rumo ao enclave. Atualmente, cerca de 250 caminhões passam pela fronteira “num dia bom”, segundo a ONU, sendo que no passado eram cerca de 500 veículos levando diariamente produtos básicos.

Normalmente com uma população de cerca de 280 mil habitantes, Rafah tem hoje entre 1,2 milhão e 1,4 milhão, conforme as pessoas fogem dos combates em outras áreas e se aglomeram na região, montando abrigos e tendas improvisadas nas ruas.

As condições miseráveis ​​e insalubres levaram a surtos de infecções respiratórias e de hepatite A, ambas até então erradicadas em Gaza. A meningite e outras doenças também estão surgindo. 

De acordo com dados das Nações Unidas, o conflito deslocou mais de 75% da população de Gaza, com quase 1,7 milhões milhão pessoas vivendo agora na UNRWA e em abrigos públicos de emergência, bem como em locais informais. 

Autoridades de saúde palestinas afirmam que pelo menos 25,7 mil habitantes de Gaza foram mortos até agora pelos ataques de Israel.

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