Irã diz que já condenou ao menos 400 pessoas por participação em protestos

Governo iraniano já executou ao menos duas pessoas acusadas de crimes contra autoridades locais durante as amnifestações

A Justiça do Irã condenou até agora ao menos 400 pessoas a penas de até dez anos de prisão por envolvimento nos protestos populares que tomaram as ruas do país nos últimos meses. A informação foi divulgada pelo chefe do Judiciário da província de Teerã, Ali Alghasi-Mehr, e reproduzida pelo jornal britânico Guardian.

“Cento e sessenta pessoas foram condenadas a penas entre cinco e dez anos de prisão, 80 pessoas a dois a cinco anos e 160 pessoas a até dois anos”, disse ele, que chamou os condenados de “desordeiros”, termo que vem sendo usado pelo governo para se referir aos manifestantes.

Considerando que os dados referem-se somente a uma das 31 províncias iranianas, no caso a maior delas, o número de condenados tende a ser maior em todo o país. Especialistas em direitos humanos designados pela ONU (Organização das Nações Unidas) falam em mais de 14 mil pessoas detidas em todo o país, embora não citem o número de sentenciados.

Em Estocolmo, na Suécia, cidadãos protestam contra a repressão no Irã (Foto: Artin Bakhan/Unsplash)

Também foram registradas ao menos duas execuções de cidadãos envolvidos com os protestos. A primeira pena capital foi cumprida na última quinta-feira (8), quando o rapper Moshen Shekari foi enforcado após ter o recurso de sua sentença rejeitado pela Suprema Corte do Irã. Ele foi acusado de “inimizade contra Deus” após supostamente ter ferido um agente estatal durante os atos no país.

Um segundo manifestante foi executado na segunda-feira (12). Majidreza Rahnavard, de 23 anos, foi enforcado em público na cidade de Mashhad, no nordeste do país. Ele foi condenado à morte sob acusação de ter esfaqueado dois membros das forças de segurança durante protestos. Há ao menos mais nove execuções confirmadas, que podem acontecer a qualquer momento.

Na segunda-feira (112), a ONG Anistia Internacional repudiou as mortes. “A terrível execução pública de Majidreza Rahnavard hoje expõe o judiciário do Irã pelo que ele é: uma ferramenta de repressão que envia indivíduos para a forca para espalhar o medo e se vingar dos manifestantes que ousam enfrentar o status quo“, disse Diana Eltahawy, vice-diretora da entidade para o Oriente Médio e Norte da África. 

Por que isso importa?

Nos últimos meses, protestos populares tomaram as ruas do Irã após a morte de Mahsa Amini, uma jovem de 22 anos que visitava Teerã, capital do país, quando foi abordada pela “polícia da moralidade” por não usar “corretamente” o hijab, o véu obrigatório para as mulheres. Sob custódia, ela desmaiou, entrou em coma e morreu três dias depois.

Os protestos começaram no Curdistão, província onde vivia Mahsa, e depois se espalharam por todo o país, com gritos de “morte ao ditador” e pedidos pelo fim da república islâmica. As forças de segurança iranianas passaram a reprimir as manifestações de forma violenta, com relatos de dezenas de mortes.

No início de outubro, a ONG Human Rights Watch (HRW) publicou um relatório que classifica o regime iraniano como “corrupto e autocrático”, denunciando uma série de abusos cometidos pelas forças de segurança na repressão aos protestos populares. Ao menos 500 pessoas morreram nas mãos de agentes estatais, entre elas mais de 50 crianças.

Além dos mortos e feridos, a HRW cita os casos de “centenas de ativistas, jornalistas e defensores de direitos humanos” que, mesmo de fora dos protestos, acabaram presos pelas autoridades. Condena ainda o corte dos serviços de internet, com plataformas de mídia social bloqueadas em todo o país desde o dia 21 de setembro, por ordem do Conselho de Segurança Nacional do Irã.

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