Irã executa jovem de 23 anos que participou de protestos por Mahsa Amini

Mohammed Ghobadlou atropelou e matou um policial nas manifestações de 2022 e foi condenado em julgamento contestado por ativistas

Sob acusação de “travar guerra contra Deus” e “corrupção na terra”, o cabelereiro iraniano Mohammed Ghobadlou, de 23 anos, foi executado nesta terça-feira (23). Ele foi condenado após atropelar e matar um policial e ferir cinco pessoas durante os protestos nacionais de 2022, conforme divulgado pela agência de notícias do Judiciário local, Mizan.

A despeito da sentença, defensores dos direitos humanos questionam a imparcialidade do julgamento, alegando que o jovem não recebeu um tratamento justo, segundo informações da agência Al Jazeera.

Após a confirmação pelo Supremo Tribunal, Ghobadlou teve a pena de morte executada nesta manhã (horário local). Ele foi condenado à morte em novembro de 2022 por atacar a polícia em Teerã com um carro durante os protestos decorrentes da morte de Mahsa Amini, ocorrida em setembro de 2022 pelas mãos da polícia da moralidade, após a jovem ser detida por violar o código de vestimenta para mulheres.

Mohammed Ghobadlou (Foto: redes sociais/reprodução)

A Justiça iraniana havia adiado a execução em fevereiro de 2023, solicitando uma avaliação da saúde mental do réu. Isso, por fim, acabou não impedindo a aplicação da pena de morte. Segundo a Mizan, o Supremo Tribunal confirmou a sentença de morte de acordo com a lei islâmica de retaliação no Irã.

Amir Raisian, advogado de Ghobadlou, denunciou a execução como “completamente ilegal”. Argumentando que a saúde mental e o transtorno bipolar de Ghobadlou, tratado por sete anos, deveriam ser levados em conta, o advogado afirmou que seu cliente tinha o direito de apelar da sentença de morte e receber um novo julgamento, especialmente após a anulação da pena capital pelo tribunal supremo.

Os protestos de 2022 resultaram em centenas de mortes, incluindo dezenas de membros das forças de segurança, e milhares foram detidos sob a alegação oficial de “distúrbios” incitados por influências estrangeiras.

Ghobadlou tornou-se a oitava pessoa a ser executada após ser condenada por homicídio ou violência contra as forças de segurança durante os protestos. Ao menos sete homens, muitos deles na casa dos 20 anos, foram executados por seus supostos envolvimentos nos protestos, ao passo que milhares de outros foram detidos, de acordo com informações da ONG Anistia Internacional.

Preso por mais de 480 dias, o réu enfrentou ameaça de execução iminente em janeiro de 2023. Protestos diante da prisão de Rajai Shahr, onde ele estava detido, ocorreram após relatos de que ele seria enforcado. Embora o Judiciário iraniano tenha tratado os relatos como uma “campanha de engano”, ativistas acreditam que os protestos ajudaram a adiar a execução, segundo o jornal Times of Israel.

Apesar de a Anistia Internacional afirmar que Ghobadlou não teve um julgamento justo e que sua condição bipolar foi ignorada, a agência Mizan contradiz isso, dizendo que o homem teria recusado a ideia de ter um problema mental durante o julgamento.

Por que isso importa?

Mahsa Amini, de 22 anos, visitava Teerã, capital do país, quando foi abordada pela polícia da moralidade por não usar “corretamente” o hijab, o véu obrigatório para as mulheres. Sob custódia, ela desmaiou, entrou em coma e morreu três dias depois.

Familiares alegam que a jovem foi violentamente agredida sob poder das autoridades. O governo, por sua vez, alega que ela sofreu um ataque cardíaco.

A morte dela, em 16 de setembro de 2022, desencadeou protestos em todo o país. As manifestações começaram no Curdistão, província onde vivia a jovem, e depois se espalharam por todo o país, com gritos de “morte ao ditador” e pedidos pelo fim da República Islâmica.

As forças de segurança iranianas passaram a reprimir as manifestações de forma violenta, com relatos de centenas de mortes nas mãos da polícia e inúmeros casos de execuções judiciais abusivas, aplicadas contra manifestantes julgados às pressas.

Mais recentemente, Armita Garavand, uma adolescente de 17 anos, morreu em circunstâncias idênticas no Irã. Testemunhas também acusam a polícia da moralidade de agredi-la, incidente ocorrido no metrô de Teerã e igualmente relacionado ao uso do Hijab.

Como no caso de Mahsa, Armita foi internada, entrou em coma e morreu dias depois. O regime também nega responsabilidade pela morte e afirma que a adolescente sofreu uma queda de pressão, caiu de forma repentina e bateu a cabeça.

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