ONU e governos ocidentais são criticados após veto a afegãs em reunião com Taleban

Representantes das Nações Unidas e diplomatas se reuniram em Doha e aceitaram as condições dos radicais para a realização do evento

Representantes do Taleban, governantes de fato do Afeganistão, e da ONU (Organização das Nações Unidas) se reuniram no domingo (30) em Doha, no Catar, para tratar de questões diversas. Como condição para comparecer à reunião, os radicais exigiram que mulheres afegãs fossem impedidas de participar. E a exigência foi aceita, o que gerou críticas de especialistas ouvidos pela rede Fox News.

O tratamento dispensado às mulheres afegãs é o principal foco das críticas globais direcionadas ao grupo radical, que governa o país desde a saída das tropas ocidentais em agosto de 2021. A situação das afegãs foi classificada pela própria ONU em setembro de 2023 como “apartheid de gênero”, de acordo com o relator especial sobre a situação de direitos humanos no Afeganistão, Richard Bennett.

Segundo ele, a discriminação sistemática, generalizada e institucionalizada estabelecida no país tem o objetivo de excluir as mulheres de todas as facetas da vida. Na ocasião, Bennett pediu ao Taleban que reverta suas “políticas draconianas e misóginas” e lamentou que o Afeganistão tenha se tornado “um lugar onde as vozes das mulheres desapareceram completamente.” 

Reunião de líderes do governo talibã no Afeganistão (Foto: twitter.com/IeaOffice)

As restrições impostas ás afegãs incluem a proibição de estudar, trabalhar e sair de casa sem a presença de um homem. Isso levou à perda de emprego por muitas mulheres e contribui para o empobrecimento da população. Em julho do ano passado, o Taleban também vetou mulheres de gerenciar salões de beleza, impactando severamente a renda de famílias já afetadas pela crise financeira.

Antes do evento, o porta-voz talibã Zabihullah Mujahid afirmou que os direitos das mulheres afegãs não seriam debatidos em Doha, justificando o veto. “Nossas reuniões, como a de Doha ou com outros países, não têm nada a ver com a vida de nossas irmãs, nem permitiremos que elas interfiram em nossos assuntos internos”, disse ele, segundo a rede Voice of America (VOA).

A agência Reuters, entretanto, afirma que a questão foi levantada por enviados internacionais e citada pela ONU. “O Afeganistão não pode retornar ao seio internacional, ou se desenvolver plenamente econômica e socialmente, se for privado das contribuições e do potencial de metade de sua população”, disse na segunda-feira (1º) a chefe de assuntos políticos das Nações Unidas, Rosemary DiCarlo.

Embora a violência contra as mulheres tenha sido debatida, a reunião se concentrou em outras questões, como o tráfico de drogas, o crescimento do setor privado no Afeganistão e as restrições financeiras bancárias impostas ao grupo pela comunidade internacional. Após o evento, sobraram críticas à própria ONU e aos demais presentes por aceitarem a imposição do Taleban.

“A constante rendição da comunidade diplomática às demandas terroristas apenas reforça a visão do Taleban”, disse à Fox News Jason Howk, diretor da ONG Amigos Globais do Afeganistão. “Mulheres e meninas no Afeganistão estão vivendo em uma prisão a céu aberto e são tratadas como menos que humanas. Sequestro, estupro, tortura e assassinato são realidades diárias para mulheres sob o sistema de apartheid de gênero do Taleban.”

Quem também contestou a posição da ONU mas das nações presentes ao evento foi a jornalista Lynne O’Donnell, ex-chefe dos escritórios de Cabul das agências de notícias Associated Press (AP) e France Presse (AFP). Ela chegou a ser presa pelos radicais em 2022 e forçada a se retratar publicamente após uma reportagem analisando o cenário no país desde a tomada de poder. Uma das revelações feitas por O’Donnell foi a de que afegãs presas eram estupradas pelos talibãs

“A ONU, os EUA, a UE (União Europeia), o Reino Unido, a comunidade internacional em geral, estão conspirando com o Taleban, como sempre fizeram”, afirmou a jornalista.

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