População síria está ‘totalmente desamparada’, diz especialista da ONU

Segundo Paulo Pinheiro, os reais interesses e necessidades da população síria não são levados em conta durante a guerra

A Comissão Independente de Inquérito da Síria divulgou na terça-feira (12) o relatório mais recente sobre a situação do país árabe, afetado por 12 anos de guerra. O documento será apresentado e discutido no Conselho de Direitos Humanos em 22 de setembro.

O presidente da Comissão, Paulo Pinheiro, conversou com a ONU News, de Genebra, e ressaltou a preocupação com o desamparo vivido pela população síria. 

“O problema dessa guerra na Síria é que durante todos esses anos os interesses verdadeiros e as necessidades da população síria não foram levados em conta. A maioria das partes em conflito estão mais preocupadas com suas próprias agendas e a situação foi se agravando cada vez mais”, disse ele

Pinheiro destacou que a situação econômica é “extremamente grave, com 90% da população numa situação abaixo da linha da pobreza.”

Segundo o presidente da Comissão, este é um fator que reforça o apelo por uma revisão das sanções em vigor no país. 

Sanções econômicas e aumento da pobreza

“É necessário que os países que impuseram sanções setoriais econômicas façam uma revisão dessas sanções. As elites no país e classes governantes, as sanções nunca se abatem sobre elas e sim sobre a população. E é necessário saber efetivamente qual o peso do papel da influência dessas sanções econômicas na situação de pobreza crescente do povo na Síria”, disse Pinheiro

Pinheiro citou protestos em diversas regiões do país, que tem em grande parte uma motivação econômica e social.

Ele também mencionou que a população civil está “totalmente desamparada” e sem proteção. E lembrou que a Comissão emitiu apelos de cessar-fogo após os terremotos que atingiram o país no início do ano, mas “os combates continuaram.” 

Criança no acampamento de Roj, no nordeste da Síria (Foto: Unicef/Alessio Romenzi)
Caminhos diplomáticos

O especialista disse que a reintegração da Síria como membro da Liga dos Estados Árabes não deve criar “ilusões” de volta à “normalidade”, mas afirmou que, “na diplomacia, qualquer abertura de diálogo é positiva.” 

“A centralidade de tudo que fazemos é o respeitar dos interesses fundamentais da população síria. É para isso que se quer a paz. A paz precisa vir, o cessar-fogo, para que o mundo tenha condições de ajudar a população síria tanto no país como os quase 7 milhões de refugiados na Europa e em outros países vizinhos”, afirmou. 

Pinheiro disse esperar que as questões de direitos humanos sejam consideradas no processo de reintegração da Síria à Liga dos Estados Árabes, bem como a proteção de direitos econômicos e civis. 

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