Promotor aumenta lista de agentes do governo afegão assassinados sob o regime do Taleban

Associação de Procuradores do Afeganistão diz que ao menos 37 servidores foram mortos desde que os radicais chegaram ao poder

A morte de Mohammad Naqi Taqi, um ex-promotor de Justiça do Afeganistão, foi confirmada na semana passada por familiares dele, que citaram sinais de tortura no corpo. O caso, ainda não esclarecido, engrossa a lista de agentes do governo afegão assassinados desde que o Taleban assumiu o comando do país, em agosto de 2021. As informações são da rede Radio Free Europe (RFE).

Conforme o relato dos parentes, Taqi foi morto violentamente junto de uma irmã, com os corpos encontrados na província oriental de Nangarhar. Eles teriam sido convidados para participar de um evento na região e aceitaram, sendo mortos posteriormente por agressores não identificados.

“Eles foram envenenados primeiro e depois torturados, porque vestígios de tortura severa podiam ser vistos em seus cadáveres”, disse o filho do ex-promotor

Integrantes do Taleban no Afeganistão (Foto: Wikimedia Commons)

Taqi, advogado de formação, passou a atuar como promotor no gabinete do procurador-geral afegão. Porém, deixou o cargo quando o Taleban assumiu o poder, juntando-se a inúmeros outros ex-agentes do governo afegão que passaram a ser perseguidos pelos radicais por terem servido ao Estado durante o período de ocupação estrangeira no Afeganistão.

Diferente de muitos colegas, entretanto, o promotor optou por permanecer no país em vez de tentar refúgio em uma nação estrangeira. Atualmente, há diversos ex-membros do Ministério Público afegão que vivem no Paquistão, onde lutam para evitar a expulsão em meio ao processo iniciado por Islamabad para tirar do país os estrangeiros em situação irregular.

Desde a tomada de poder pelo Taleban, a Associação de Procuradores do Afeganistão afirma que ao menos 37 funcionários do Ministério Público foram assassinados.

“A anistia geral que o Taleban tem alardeado desde que voltou ao poder está sendo completamente desconsiderada”, disse Abid Andrabi, membro da entidade. “Os membros do Taleban têm acertado contas pessoais com os funcionários militares e civis do governo anterior.”

Execuções

Desde a tomada de poder pelo Taleban, ocorreram ao menos 800 casos de abusos de direitos humanos contra ex-funcionários do governo afegão ou ex-integrantes das forças de segurança nacionais, conforme relatório divulgado em agosto pela Missão de Assistência das Nações Unidas no Afeganistão (Unama, na sigla em inglês).

documento cita 218 execuções extrajudiciais, além de prisões e detenções arbitrárias, tortura, maus-tratos e desaparecimentos forçados perpetrados contra “indivíduos filiados ao antigo governo da República Islâmica do Afeganistão e suas forças de segurança.”

Segundo a Unama, as principais vítimas são ex-membros das Forças Armadas do Afeganistão, das polícias locais e nacional e da Direção Nacional de Segurança, o serviço de inteligência afegão.

Na maioria dos casos, os indivíduos foram detidos pelas forças de segurança de fato, muitas vezes brevemente, antes de serem mortos. Alguns foram levados para centros de detenção e mortos enquanto estavam sob custódia, e outros foram levados para locais desconhecidos e mortos, com os corpos abandonados ou entregues a familiares.

A maioria dos casos ocorreu nos primeiros quatro meses após a tomada de poder, até 31 de dezembro de 2021. Quase metade das 218 execuções extrajudiciais foram realizadas nesse período. As violações de direitos humanos não cessaram depois, embora o ritmo tenha diminuído. Em 2022, por exemplo, foram documentados os assassinatos de 70 ex-agentes do governo por membros do Taleban.

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