Situação no Afeganistão se deteriora dois anos após a retomada do regime talibã

Milhões de afegãos enfrentam ameaça devido à crise humanitária e sérios abusos contra as mulheres

Após assumirem o controle do Afeganistão em 15 de agosto de 2021, as autoridades do Taleban têm agravado suas restrições aos direitos das mulheres, meninas e à mídia, informou a ONG Human Rights Watch (HRW).

Nos últimos dois anos, essas autoridades negaram educação, trabalho, mobilidade e reunião para mulheres e meninas. A organização extremista impôs uma forte censura midiática e restringiu o acesso à informação, enquanto aumentava a detenção de jornalistas e críticos.

O país enfrenta uma grave crise humanitária, com mais de 28 milhões de pessoas – dois terços da população – necessitando urgentemente de ajuda. A ONU (Organização das Nações Unidas) relatou que quatro milhões de pessoas sofrem com desnutrição aguda, incluindo 3,2 milhões de crianças menores de 5 anos.

“A população no Afeganistão vive um pesadelo de direitos humanos e humanitário sob o controle do Taleban”, disse Fereshta Abbasi, pesquisadora do Afeganistão na HRW. Ela ressaltou a urgência da rejeição das regras abusivas pelo Talibã e a necessidade de responsabilização internacional.

Mães com seus bebês recebem ajuda do Unicef no Afeganistão (Foto: Mark Naftalin/Unicef)

Juntamente com conflitos prolongados, eventos climáticos extremos e alto desemprego, as severas restrições impostas às mulheres e meninas têm sido uma das principais causas da insegurança alimentar. Isso resultou na perda de empregos, particularmente para mulheres, e na proibição do emprego delas em organizações humanitárias, exceto em áreas limitadas. A educação superior e secundária também é inacessível para mulheres e meninas.

Em dezembro do ano passado, o Taleban anunciou a proibição de mulheres trabalharem com organizações não governamentais, incluindo a ONU, com exceções para setores de saúde, nutrição e educação. Isso prejudicou gravemente os meios de subsistência das mulheres, tornando difícil determinar se estão recebendo assistência sem sua participação em distribuição e monitoramento. As restrições impactaram de forma desproporcional mulheres e meninas, que já enfrentam dificuldades no acesso a alimentos, saúde e moradia.

“A misoginia do Taleban mostra um completo desrespeito pelos direitos das mulheres”, afirma Abbasi. “Essas políticas não prejudicam apenas ativistas, mas também mulheres comuns que buscam uma vida normal.”

Para ela, a comunidade internacional precisa abordar a crise humanitária no Afeganistão sem reforçar as políticas restritivas do Taleban. “Restrições severas à mídia e bloqueios de transmissões internacionais dificultam o acesso à informação no país. Denúncias são arriscadas devido a prisões arbitrárias”, disse.

As forças talibãs têm efetuado prisões arbitrárias, tortura e execuções de ex-agentes de segurança e membros de grupos de resistência. O Estado Islâmico (EI), ativo no país, mirou escolas e mesquitas, particularmente a etnia hazara xiita.

Refugiados afegãos enfrentam condições terríveis em países terceiros. Os governos envolvidos têm a responsabilidade de garantir caminhos legais e seguros para aqueles em risco. Devem cumprir compromissos e reassentar grupos vulneráveis rapidamente.

“O Taleban agravou a crise ao restringir direitos e dissidência”, diz Abbasi. “Governos envolvidos precisam pressionar pela reversão dessas políticas, restaurando direitos fundamentais e fornecendo assistência vital.”

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