Taleban aproveita conivência da ONU para lucrar com ajuda humanitária, diz relatório

Órgão de fiscalização alerta que grupo radical está se aproveitando da ajuda internacional por meio de um esquema de organizações ilícitas

Um recente estudo feito por um órgão de vigilância do governo dos Estados Unidos para a assistência ao Afeganistão revelou que o regime talibã está se beneficiando economicamente de ajuda internacional, através do estabelecimento de ONGs fraudulentas que fazem do apoio humanitário uma fonte de receita para o grupo radical. As informações são da rede Radio Free Europe.

O relatório trimestral mais recente da Inspetoria Geral Especial para a Reconstrução do Afeganistão (Sigar), que abrange o período até 30 de julho de 2023, aponta que o Taleban assumiu o crédito e tem controle sobre grande parte do auxílio estrangeiro, especialmente a ajuda da ONU (Organização das Nações Unidas).

Além disso, os talibãs estariam se beneficiando da assistência educacional financiada por Washington através da geração de receitas fiscais, estabelecendo ONGs fraudulentas, praticando extorsão e se infiltrando em organizações existentes para obter ou direcionar ajuda de doadores internacionais, acrescentou o relatório.

População afegã, especialmente na capital Cabul, vive sob o governo talibã (Foto: WikiCommons)

O documento também ressaltou que a ONU continua a mostrar um alto nível de respeito aos insurgentes que assumiram o poder central do país em agosto de 2021, tornando a organização global “vulnerável à influência” desse grupo radical.

Desde a tomada de poder pelo movimento fundamentalista, o povo afegão foi jogado à pobreza e hoje enfrenta uma batalha contra a insegurança alimentar. A distribuição de alimentos por meio de ajuda humanitária tem enfrentado imensa dificuldade desde que um decreto do Taleban em dezembro passado proibiu o trabalho de mulheres afegãs em ONGs, levando muitas agências a suspenderem as atividades por falta de mão de obra.

O relatório da Sigar detalhou que os Estados Unidos continuam sendo o principal doador ao povo afegão, tendo alocado mais de US$ 2,35 bilhões desde a ascensão do Taleban ao poder. Além disso, menciona que o governo extremista substituiu funcionários públicos em ministérios importantes por membros leais ao grupo e supervisionou um aumento significativo nas invasões de organizações não governamentais.

O documento revela, também, que vários funcionários da ONU em diferentes agências relatam que os talibãs conseguiram se infiltrar e exercer influência efetiva sobre a maioria dos programas de assistência gerenciados pelas Nações Unidas.

Segundo a rede ABC News, autoridades de ONGs informaram ao órgão de vigilância norte-americano, responsável pelo estudo, que os talibãs estão exercendo pressão sobre as organizações, forçando-as a empregar apoiadores do grupo extremista ou a adquirir produtos de empresas associadas ao Taleban.

Taleban nega

Bilal Karimi, vice-porta-voz do Taleban, negou as acusações, afirmando que o Emirado Islâmico, como os talibãs se referem ao Afeganistão, regula os assuntos nacionais de acordo com seus princípios, segundo repercutiu a agência de notícias afegã Tolo News no último sábado (21).

Qari Mansor Ahmad Hamza, porta-voz do Ministério da Educação afegão, rejeitou o relatório do Sigar, afirmando que as acusações carecem de embasamento. Ele ainda argumentou que a qualidade da educação e das instalações escolares no Afeganistão apresentou “melhorias significativas” em relação ao passado.

No entanto, o inspetor-geral John Sopko expressou preocupações sobre a possibilidade de a assistência financeira dos EUA cair nas mãos do Taleban, impactando na vida da população empobrecida do país.

Tags: