Taleban invade a sede e fecha a única rádio feminina do Afeganistão

Oficiais do governo alegam violações de licença, enquanto grupo de direitos humanos condena a medida e pede retomada das transmissões

A única emissora de rádio feminina do Afeganistão, a Radio Begum, foi fechada após uma invasão de agentes do Taleban à sua sede em Cabul na terça-feira (4). A medida amplia as restrições impostas às mulheres no país desde a tomada do poder pelo grupo em 2021. A informação foi divulgada pela própria emissora e reproduzida pela rede CNN.

A rádio, gerida por mulheres e dedicada à educação feminina, afirmou que os agentes do Ministério da Informação e Cultura confiscaram equipamentos e documentos da equipe, incluindo jornalistas do sexo feminino.

“Sequestraram computadores, discos rígidos, arquivos e telefones dos funcionários da Begum, incluindo jornalistas mulheres, e levaram sob custódia dois funcionários homens da organização que não ocupam cargos de gerência”, declarou a emissora em um comunicado.

O ministério confirmou a suspensão das atividades da rádio, alegando violações das normas de transmissão e uso inadequado da licença. Entre as acusações, está a suposta transmissão de conteúdos para um canal de televisão estrangeiro sem autorização. O governo, no entanto, não revelou qual emissora estaria envolvida nem detalhou os próximos passos para a rádio.

Jornalista afegã durante transmissão em uma estação de rádio em 2018 (Foto: UNAMA/Fardin Waezi)

A organização Repórteres Sem Fronteiras (RSF) condenou a suspensão da emissora e exigiu que as transmissões fossem retomadas imediatamente. O grupo alertou para o impacto crescente das restrições do Taleban à mídia e à presença das mulheres no espaço público.

Até a proibição, a Radio Begum transmitia seis horas diárias de aulas, além de programas sobre saúde, psicologia e espiritualidade voltados para mulheres em grande parte do país. A emissora sempre ressaltou que seu objetivo é fornecer educação para meninas afegãs e apoiar as mulheres no país, sem envolvimento em atividades políticas.

Além das transmissões via rádio, a estação tem canais parceiros que oferecem aulas online produzidas em Paris. O conteúdo inclui uma variedade de disciplinas, servindo como alternativa educacional para meninas afegãs proibidas de frequentar escolas além da sexta série.

Mulheres e jornalistas na mira do Taleban

Desde a retomada do poder, o Taleban tem endurecido as regras para a mídia e restringido progressivamente os direitos das mulheres. O grupo inicialmente prometeu um governo mais moderado do que durante seu regime nos anos 1990, mas, na prática, impôs uma série de proibições, incluindo o fechamento de escolas para meninas e a exclusão de mulheres de universidades e do mercado de trabalho.

O Taleban também proibiu que mulheres frequentem espaços públicos, como parques e academias, e determinou que elas não podem viajar desacompanhadas de um tutor masculino. Muitas organizações internacionais, incluindo a ONU (Organização das Nações Unidas), foram forçadas a afastar funcionárias após decretos do regime.

No ano passado, pelo menos 12 veículos de comunicação foram fechados, segundo a RSF. No ranking mundial de liberdade de imprensa da organização, o Afeganistão ocupa a 178ª posição entre 180 países.

Além disso, o regime impôs restrições severas à presença de vozes femininas no espaço público. O som da voz de uma mulher foi banido em várias situações, incluindo cantos, leituras e discursos, dificultando ainda mais o alcance da Rádio Begum entre seu público-alvo.

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