Taleban persegue líderes religiosos que questionam decisões do regime

Nem figuras conhecidas, que costumavam apoiar o grupo, escapam da repressão imposta pelos radicais no Afeganistão

O Taleban tem ampliado sua repressão a opositores no Afeganistão, atingindo agora até líderes religiosos que expressam críticas ou defendem posições moderadas. A mais recente onda de detenções atinge clérigos muçulmanos de destaque, incluindo figuras conhecidas por apoiar anteriormente o grupo. As informações são da Radio Azadi, braço afegão da rede Radio Free Europe (RFE).

Um dos casos mais notórios é o de Abdul Qadir Qanat, religioso conhecido em Kabul por participações em programas de televisão e discursos públicos. “Eles amarraram suas mãos e o levaram em um veículo junto com seu filho”, contou um amigo de Qanat, que pediu anonimato por temer represálias. “Até agora, não sabemos por que ele foi detido ou quais são as acusações. Estamos muito preocupados, pois ele tem diabetes.”

Reunião de líderes do governo talibã no Afeganistão (Foto: twitter.com/IeaOffice)

Qanat foi preso após criticar publicamente a centralização de poder nas mãos do Taleban. Ele e o também clérigo Sirajuddin Nabil foram detidos por se manifestarem durante um encontro religioso. Já em janeiro, Qanat havia sido levado pelas autoridades junto com Mahmood Hassan, outro religioso que questionou o monopólio político do grupo.

A repressão atingiu ainda Bashir Ahmad Hanafi, influente estudioso muçulmano da província de Helmand, conhecido por apoiar o Taleban no passado. Segundo amigos, ele foi detido após criticar a proibição da educação para mulheres e meninas. Relatos da imprensa indicam que Hanafi foi condenado a oito meses de prisão e proibido de deixar o país por dois anos por “incitar a opinião pública contra o sistema [político] atual”.

Para ativistas, as prisões evidenciam a intolerância do regime a qualquer forma de oposição. “O Taleban não leva em consideração nenhum princípio ou lei no tratamento dos acusados”, afirmou a defensora de direitos humanos Safia Arefi. “Eles nem sequer informam as famílias sobre os detidos.”

Desde que retomou o controle do Afeganistão em 2021, o Taleban vem reprimindo gradualmente diversas parcelas da sociedade. Mulheres, jornalistas e até agricultores foram os primeiros alvos. Agora, a perseguição se estende a religiosos. “Há um entendimento de que existem consequências por cruzar uma linha que não é muito claramente definida”, afirmou o analista Obaidullah Baheer. “Mas qualquer coisa que se aproxime de crítica não é tolerada e acaba sendo punida.”

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