Taleban proíbe mulheres desacompanhadas em voos domésticos e internacionais

Desde sábado começaram a surgir relatos de mulheres impedidas de embarcar por não terem um homem ao lado

O Taleban, que desde agosto de 2021 governa o Afeganistão, proibiu as companhias aéreas em atividade no país de aceitarem em seus voos, tanto domésticos quanto internacionais, mulheres desacompanhadas de um homem. As informações são da agência Reuters.

A nova proibição foi confirmada por duas fontes que pediram para ter as identidades preservadas, por motivos de segurança. Ambas confirmaram que o Ministério para a Promoção da Virtude e Prevenção do Vício, principal órgão da repressão talibã, enviou uma carta às companhias aéreas no sábado (26) com as diretrizes.

Desde sábado começaram a surgir relatos de mulheres impedidas de embarcar, embora o Taleban tenha informado que elas ainda seriam autorizadas voar até esta segunda-feira (28), desde que tivessem comprado os bilhetes anteriormente.

Uma mulher afegã vestida com uma burca tradicional caminha pelo trânsito no centro de Cabul (Foto: Jason Brisebois/Flickr)

Por que isso importa?

As mulheres são as que mais sofrem nas mãos do regime radical dos talibãs. As que tinham cargos no governo afegão antes da ascensão extremista foram impedidas de trabalhar, e a cúpula do governo que prometia ser inclusiva é formada somente por homens. A perda do salário por parte de muitas mulheres que sustentavam suas casas tem contribuído para o empobrecimento da população afegã.

Na educação, o governo extremista voltou a proibir nas escolas do Afeganistão a entrada de meninas a partir do que, no Brasil, equivale à 6ª série do ensino fundamental. Isso levou Washington a cancelar um encontro que teria com os líderes talibãs, no qual seriam debatidas questões financeiras.

Mulheres também não podem sair de casa desacompanhadas, e há relatos de solteiras e viúvas forçadas a se casar com combatentes. Para lembrar as afegãs de suas obrigações, os militantes ergueram cartazes em algumas áreas para informar os moradores sobre as regras. Em partes do país, as lojas foram proibidas de vender mercadorias a mulheres desacompanhadas.

Há também um código de vestimenta para as mulheres, forçadas a usar o hijab quando estão em público. Como forma de protestar, mulheres afegãs em todo o mundo fizeram um movimento online em setembro do ano passado, postando fotos nas redes sociais com tradicionais roupas afegãs coloridas, sempre acompanhadas de hashtags como #AfghanistanCulture (cultura afegã) e #DoNotTouchMyClothes (não toque nas minhas roupas).

A proibição do esporte feminino é outra realidade sob o governo talibã. Embora o grupo extremista não tenha emitido uma nota oficial sobre o veto, ele se faz presente na rotina das atletas afegãs. Depois do críquete feminino, cuja proibição foi anunciada pelo vice-líder da comissão cultural do Taleban, Ahmadullah Wasiq, a repressão atingiu outra modalidade muito popular no país: o taekwondo.

O Afeganistão tem apenas duas medalhas olímpicas em sua história: dois bronzes conquistados pelo atleta do taekwondo Rohullah Nikpai em Beijing 2008 e Londres 2012. As conquistas de Nikpai no masculino popularizaram o esporte no país, inclusive entre as mulheres. Porém, com o Taleban no poder, a prática tem se restringido aos homens, e as escolas que ofereciam aulas de taekwondo para mulheres fecharam as portas ou passaram para a clandestinidade.

Tags: