Após ataque em Moscou, EUA e Europa estão na mira do Estado Islâmico, dizem analistas

Ataque em Moscou foi o mais ousado do EI-K até agora e mostrou que o grupo tem força suficiente para agir fora do Afeganistão

O ataque terrorista reivindicado pelo Estado Islâmico-Khorasan (EI-K) em Moscou, no dia 22 de março, deve servir de alerta para os Estados Unidos e a Europa. Na opinião de especialistas em terrorismo e segurança, a organização extremista vem se fortalecendo e almeja expandir sua área de atuação para além das fronteiras do Afeganistão, onde está sediada.

“Acho que a ameaça está crescendo”, disse à rede Fox News o general aposentado Frank McKenzie, ex-chefe do Comando Central (Centcom) das Forças Armadas norte-americanas. “Acho que devemos esperar novas tentativas desta natureza contra o Estados Unidos, bem como contra os nossos parceiros e outras nações no exterior. Acho que isso é inevitável.”

Fuzileiros navais de unidade antiterrorismo dos EUA (Foto: divulgação/Sgt. Esdras Ruano)

O EI-K é atualmente a mais violenta das facções do Estado Islâmico (EI) do Iraque e da Síria. Originário do Afeganistão, o grupo já vem atuando fora de seu território original, com ações no Irã e na Turquia. Mas a operação externa mais ousada foi mesmo a de Moscou, com mais de 140 mortos.

Ao menos quatro homens com rifles automáticos invadiram a casa de espetáculos Crocus City Hall durante o show de uma banda que foi bastante popular nos tempos da extinta União Soviética, segundo informações da agência Associated Press (AP). O show estava prestes a começar quando os homens começaram a disparar contra a multidão.

Para analistas, o que explica o crescimento da facção é sua agressiva campanha de recrutamento, que tem gerado cada vez mais seguidores. Amira Jadoon, autora de um livro sobre o EI-K, disse à rede CNN que nos últimos três anos o grupo “se tornou mais ambicioso e agressivo nos seus esforços para ganhar notoriedade e relevância em toda a Ásia Central e do Sul, lançando a sua campanha de propaganda multilíngue mais agressiva e expandindo os tipos de ataques que conduz.”

Em abril de 2022, a União Europeia (UE) calculou que o EI-K tinha cerca de quatro mil integrantes no Afeganistão. “Um número relativamente pequeno, mas crescente, de antigos membros dos serviços de informações e de unidades militares de elite do Afeganistão terá alegadamente se juntado ao EI-K para resistir aos Taleban”, afirmou o órgão.

Novo relatório de segurança, este publicado pelo Conselho de Segurança da ONU (Organização das Nações Unidas) em agosto de 2023, fez projeção semelhante. “O grupo teria aumentado as suas capacidades operacionais dentro do Afeganistão, com combatentes e familiares estimados entre quatro e seis mil indivíduos”, diz o documento.

Edmund Fitton-Brown, analista do think tank norte-americano Counter Extremism Project, afirma que, antes de agir na Europa ou na América do Norte, o EI-K tende a visar países vizinhos, como ocorreu no ataque que matou quase cem pessoas no Irã. Segundo ele, o grupo “tem o desejo e uma capacidade crescente de se projetar além do Afeganistão e realizar ataques regionais.”

A presença de extremistas ligados ao EI-K no Ocidente, no entanto, já pode ser observada. Em dezembro de 2023, autoridades norte-americanas anunciaram a prisão de um adolescente de 17 anos que tentava embarcar em um voo com o objetivo de se juntar ao grupo no Afeganistão. Na Alemanha, dois afegãos foram presos acusados de preparar um ataque contra o parlamento sueco em nome da facção.

Fitton-Brown avalia que, no caso europeu, a ameaça por ora é “ingênua e embrionária”, mas que isso pode mudar em breve. Ele destaca o recrutamento de seguidores em países da Ásia Central, na Rússia e na Turquia, e em menor escala escala na Alemanha.

“Espero estar errado, mas estou muito preocupado com os Jogos Olímpicos de Paris”, disse ele, citando o evento esportivo que ocorre entre julho e agosto deste ano na capital francesa.

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