Relação entre Taleban e grupos terroristas é ‘forte e simbiótica’, diz Conselho de Segurança

Com o apoio dos radicais afegãos, Al-Qaeda reconstrói sua capacidade operacional, enquanto o TTP lança ataques contra o Paquistão

Grupos extremistas continuam a encontrar abrigo no Afeganistão sob o governo do Taleban, mantendo com os radicais afegãos uma relação “forte e simbiótica”. É o que aponta um relatório do Conselho de Segurança da ONU (Organização das Nações Unidas), que analisou a segurança internacional sob o prisma do extremismo islâmico.

O documento destaca duas organizações extremistas que mantêm relação cordial com os talibãs: Al-Qaeda e Tehrik-e Taliban Pakistan (TTP), popularmente conhecido como Taleban do Paquistão.

“Vários grupos terroristas têm maior liberdade de manobra sob as autoridades de fato do Taleban. Eles estão fazendo bom uso disso, e a ameaça do terrorismo está aumentando tanto no Afeganistão quanto na região”, diz o relatório.

O documento destaca a luta do Taleban contra seu principal inimigo doméstico, o Estado Islâmico-Khorasan (EI-K). Apesar das tentativas de conter o avanço da facção, ela segue como a principal ameaça terrorista no Afeganistão, onde tem entre quatro mil e seis mil seguidores, incluídos aí familiares de combatentes.

Já Al-Qaeda e TTP são tratados de maneira diversa e têm liberdade para operar no país. Embora tenham procurado “reduzir o perfil desses grupos”, os talibãs não cumprem as disposições do Acordo de Doha, um compromisso antiterrorismo que firmaram com os EUA.

Tehrik-e Taliban Pakistan (TTP), o popular Taleban do Paquistão (Foto: reprodução/Twitter)

“Há indícios de que a Al-Qaeda está reconstruindo a capacidade operacional, que o TTP está lançando ataques no Paquistão com o apoio do Taleban, que grupos de combatentes terroristas estrangeiros estão projetando ameaças além das fronteiras do Afeganistão e que as operações do EI-K estão se tornando mais sofisticadas e letais (se não mais numerosas)”, afirma o documento.

Embora a relação entre o Taleban e os extremistas não seja novidade, havia a expectativa de que ela fosse reduzida com o passar do tempo, a partir do momento em que os radicais assumiram o governo do Afeganistão, em agosto de 2021. Porém, não é isso que te ocorrido.

Como já havia dito em em maio de 2022, a ONU diz que a Al-Qaeda ainda tem um “porto seguro” sob o Taleban e “pretende fortalecer sua posição no Afeganistão”. O documento reforça que o grupo extremista “tem interagido com o Taleban, apoiando o regime e protegendo figuras importantes do Taleban.”

“O número de membros centrais da Al-Qaeda no Afeganistão permaneceu estável em 30 a 60, incluindo principalmente figuras importantes localizadas em Cabul, Kandahar, Helmand e Kunar. Estima-se que o número de combatentes da Al-Qaeda no país seja de 400, chegando a dois mil se incluídos familiares e apoiadores”, afirma o relatório.

Prova de que insurgentes da organização são recebidos no país é o fato de que o ex-líder da Al-Qaeda Ayman al-Zawahri foi morto em território afegão, em um ataque das forças armadas dos EUA no dia 1º de agosto de 2022.

Anteriormente, a ONU já havia lembrado que a Al-Qaeda chegou a parabenizar publicamente os talibãs pela ascensão ao poder. E alegou que um filho de Osama Bin Laden, Abdallah, visitou o Afeganistão em outubro de 2021 para reuniões com o Taleban.

No Brasil

Casos mostram que o Brasil é igualmente um porto seguro para extremistas. Em dezembro de 2013, levantamento do site The Brazil Business indicava a presença de ao menos sete organizações terroristas no Brasil: Al Qaeda, Jihad Media Battalion, Hezbollah, Hamas, Jihad Islâmica, Al-Gama’a Al-Islamiyya e Grupo Combatente Islâmico Marroquino.

Em 2001, uma investigação da revista VEJA mostrou que 20 membros terroristas de Al-Qaeda, Hamas e Hezbollah viviam no país, disseminando propaganda terrorista, coletando dinheiro, recrutando novos membros e planejando atos violentos.

Em 2016, duas semanas antes do início dos Jogos Olímpicos no Rio, a PF prendeu um grupo jihadista islâmico que planejava atentados semelhantes aos dos Jogos de Munique em 1972. Dez suspeitos de serem aliados ao Estado Islâmico foram presos e dois fugiram.

Mais recentemente, em dezembro de 2021, três cidadãos estrangeiros que vivem no Brasil foram adicionados à lista de sanções do Tesouro Norte-americano. Eles são acusados de contribuir para o financiamento da Al-Qaeda, tendo inclusive mantido contato com figuras importantes do grupo terrorista.

Para o tenente-coronel do Exército Brasileiro André Soares, ex-agente da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), o anúncio do Tesouro causa “preocupação enorme”, vez que confirma a presença do país no mapa das organizações terroristas islâmicas.

“A possibilidade de atentados terroristas em solo brasileiro, perpetrados não apenas por grupos extremistas islâmicos, mas também pelo terrorismo internacional, é real”, diz Soares, mestre em operações militares e autor do livro “Ex-Agente Abre a Caixa-Preta da Abin” (editora Escrituras). “O Estado e a sociedade brasileira estão completamente vulneráveis a atentados terroristas internacionais e inclusive domésticos, exatamente em razão da total disfuncionalidade e do colapso da atual estrutura de Inteligência de Estado vigente no país”. Saiba mais.

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