Uma longa disputa empresarial entre uma mineradora australiana e investidores chineses expôs o crescente conflito mundial por minerais essenciais. Isso ocorre enquanto os Estados Unidos e seus aliados buscam reduzir o domínio de Beijing em um setor que será crucial para a chamada revolução verde. As informações são do Washington Post.
A disputa no conselho administrativo teve início no ano passado, quando a Northern Minerals, uma mineradora australiana de pequeno porte com grandes ambições nos mercados globais de terras raras, precisou arrecadar fundos. No entanto, conforme indicado por registros corporativos e entrevistas, quando a empresa começou a investigar quem, de fato, havia adquirido seus US$ 16 milhões em novas ações, os executivos começaram a ficar apreensivos.
Alguns meses antes, o governo australiano havia impedido um investidor chinês, que já era o maior acionista da empresa, de aumentar sua participação para 19,9% por questões de segurança nacional. Agora, a Northern Minerals desconfiava que o mesmo investidor — um magnata de minerais críticos chamado Wu Tao — poderia ter utilizado procurações para contornar essa proibição e dobrar sua participação de qualquer forma.
Adam Handley, o atual presidente executivo da Northern Minerals, afirmou em entrevista que consideraram “adequado” encaminhar a questão ao governo.
Uma investigação governamental resultou em uma ordem para que a empresa de Wu Tao e outras quatro vendessem US$ 15,5 milhões em ações até setembro. Wu não comentou publicamente sobre a decisão e rejeitou pedidos de comentário, alegando estar muito ocupado.
O caso atraiu a atenção da mídia na Austrália, que no ano passado exportou cerca de US$ 100 bilhões em minerais, como minério de ferro e lítio, para a China. No entanto, Beijing também fornece minerais essenciais que tanto a Austrália quanto o restante do mundo necessitam. O país possui a maior parte das reservas globais de terras raras, fundamentais para a produção de diversos produtos, incluindo celulares e turbinas eólicas, e tem liderado a produção e o refino desses minerais por décadas.
Países como a Austrália e os Estados Unidos estão buscando reduzir sua dependência da China para esses minerais essenciais, especialmente porque Beijing já demonstrou disposição para interromper os fornecimentos por motivos políticos. Atualmente, a Northern Minerals tem o objetivo de se tornar uma das pioneiras na oferta de disprósio e térbio — elementos de terras raras pesadas utilizados em veículos elétricos e caças — fora do território chinês.
Hegemonia chinesa
A China lidera a produção mundial de elementos de terras raras. Apesar das iniciativas dos Estados Unidos e da Europa para diversificar suas fontes de importação de REE, a China ainda mantém um papel central no fornecimento global desses recursos estratégicos, segundo a Newsweek.
Atualmente, a China produz 60% das terras raras do mundo, mas processa quase 90%, o que significa que importa terras raras de outros países e as processa, enquanto Mianmar e os Estados Unidos ficaram com 15% e 9%, respectivamente. Isto deu à China um quase monopólio. A Benchmark Minerals Intelligence sinalizou que os Estados Unidos estão particularmente expostos a restrições de processamento de terras raras pesadas, uma vez que a China separa 99,9% delas.
Em 2022, a China forneceu 72% das importações de terras raras dos EUA, segundo o Serviço Geológico dos EUA, seguida pela Malásia com 11%, Japão com 6% e Estônia com 5%.
Os dados da União Europeia (UE) indicam que o bloco de 27 países dependia da China para suprir 40,3% de suas necessidades de elementos de terras raras (REE) em termos de peso naquele ano, comparado a 30,6% provenientes da Malásia e 24,5% da Rússia.
Embora o ítrio, o neodímio e outros elementos de terras raras não sejam geologicamente escassos, sua extração e refino são processos complexos.
Washington está cada vez mais preocupada com a dependência dos REE chineses, considerando isso uma questão crítica de segurança nacional. Na terça-feira, o Comitê Seletivo da Câmara sobre o Partido Comunista Chinês anunciou a formação de um grupo de trabalho focado em combater o domínio da China nas cadeias de abastecimento de minerais essenciais.