Consumo de carvão por China e Índia continua a crescer e atinge níveis históricos

Agência Internacional de Energia projeta que os dois países responderão em 2023 por 70% do consumo global do combustível

Conforme aumenta a preocupação com o aquecimento global, com as temperaturas no atual verão quebrando recordes no Hemisfério Norte, cresce também a necessidade de conter o uso de combustíveis fósseis. China e Índia, entretanto, parecem caminhar na contramão, e o consumo de carvão desses dois países atingiu níveis históricos.

“Em 2021, a China e a Índia já representavam dois terços do consumo global, o que significa que juntas usaram o dobro de carvão do resto do mundo combinado. Em 2023, sua participação será próxima a 70%”, diz relatório da Agência Internacional de Energia (IEA, na sigla em inglês).

Mina de carvão: China e Índia respondem por 70% do consumo global (Foto: Albert Hyseni/Unsplash)

A situação preocupante contrasta com a da Europa e dos Estados Unidos, onde o consumo de carvão é cada vez menor. Há três décadas, europeus e norte-americanos representavam 40% do mercado mundial. No início deste século, respondiam por 35% do consumo global de carvão. Hoje, a fatia de ambos não chega a 10%.

“O carvão é a maior fonte individual de emissões de carbono do setor de energia. Na Europa e nos Estados Unidos, o crescimento da energia limpa colocou o uso de carvão em declínio estrutural”, disse o diretor de mercados de energia e segurança da IEA, Keisuke Sadamori. 

Em termos globais, porém, o consumo de carvão em 2022 aumentou 3,3%, atingindo 8,3 bilhões de toneladas em todo o mundo. “Em 2023 e 2024, é provável que pequenos declínios na geração de energia a carvão sejam compensados ​​por aumentos no uso industrial de carvão”, segundo a IEA.

Em março de 2023, a China superou 400 milhões de toneladas, enquanto a Índia bateu a marca de 100 milhões de toneladas. Embora chineses e indianos sejam os maiores responsáveis pela alta histórica, não estão sozinhos. Outro país do Sudeste Asiático contribui para o recorde global: a Indonésia, que exportou quase 50 milhões de toneladas, um volume inédito.

“A demanda continua teimosamente alta na Ásia, mesmo que muitas dessas economias tenham aumentado significativamente as fontes de energia renovável”, afirmou Sadamori. “Precisamos de maiores esforços e investimentos políticos, apoiados por uma cooperação internacional mais forte, para impulsionar um aumento maciço de energia limpa e eficiência energética para reduzir a demanda por carvão em economias onde as necessidades de energia estão crescendo rapidamente.”

Crise energética chinesa

No caso chinês, o histórico recente do setor energético nacional ajuda a explicar o aumento da produção e do consumo de carvão, sendo a China líder global nos dois segmentos. Consequentemente, trata-se do país que mais emite gases causadores do efeito estufa.

Em setembro de 2021, diversos apagões aconteceram sobretudo no nordeste da China, com ao menos dez províncias forçadas a aderir a um programa de racionamento de energia. Na ocasião, o jornal estatal Global Times levantou a hipótese de uma “lacuna doméstica potencialmente grande no fornecimento”, capaz de eventualmente levar a uma “crise de energia”.

Durante o racionamento, indústrias foram obrigadas a interromper a produção, impactando em uma economia que atualmente não mostra o mesmo crescimento vertiginoso de anos anteriores. E o problema pode se repetir em 2023, com recordes de temperatura registrados no país e a consequente tendência de que o consumo de energia pela população aumente drasticamente.

A situação é ainda mais delicada porque a escassez de água na China reduziu a produção energética nacional, mais um fator que contribui para aumentar a importância das indústrias a carvão.

Tags: