Afeganistão vive apagão de internet e mulheres perdem última esperança de estudar

Bloqueio imposto pelo Taleban afeta milhões de afegãos, interrompe serviços essenciais e prejudica especialmente as mulheres, que perdem acesso à educação online

O Afeganistão enfrenta um apagão total de internet imposto pelo Taleban, medida que afeta milhões de pessoas e representa mais um duro golpe para as mulheres do país. As informações são da BBC.

Desde que retomaram o poder em 2021, os talibãs proibiram meninas acima de 12 anos de frequentar a escola, restringiram empregos para mulheres e baniram livros escritos por autoras das universidades. Agora, ao suspender a conexão com o mundo exterior, eliminaram também a possibilidade de aprendizado online, considerada a última esperança por muitas estudantes.

Mulheres usando a internet em Herat, Afeganistão (Foto: WikiCommons)

Segundo relatos, a medida interrompeu serviços essenciais, prejudicou empresas e suspendeu voos no aeroporto de Cabul. Organizações internacionais, como a Netblocks, confirmam que o país passa por um apagão total da internet. Para estudantes e professoras, a paralisação representa a perda de anos de esforço. Fahima Noori, que sonhava em concluir a universidade de forma online, afirmou à reportagem que agora se sente “desamparada”.

Já um professor identificado como Zabi, que dava aulas de inglês e preparava turmas para o IELTS (International English Language Testing System, um exame internacional de proficiência em inglês), diz que dezenas de alunos perderam provas pela queda da rede.

A justificativa do Taleban é vaga e até agora não houve explicação oficial para o bloqueio. O regime havia dito que criaria uma rota alternativa para acesso, mas não detalhou quando ou como isso aconteceria. Enquanto isso, famílias e empreendedores relatam prejuízos graves. Um cambista de Takhar estima que seu negócio foi afetado em 90%, além de lamentar que suas três filhas perderam o único meio de continuar os estudos.

O bloqueio da internet soma-se a uma série de restrições impostas pelo Taleban em nome dos princípios “islâmicos” da lei Sharia. No início de setembro, cerca de 140 livros escritos por mulheres foram banidos das universidades, incluindo títulos técnicos. Também foram proibidos o ensino de direitos humanos. Organizações internacionais alertam que essas medidas aprofundam a exclusão feminina e isolam ainda mais o Afeganistão do restante do mundo.

Misoginia

Desde o colapso do governo afegão, a repressão contra mulheres e meninas tem sido marca do Taleban. Elas não podem estudar, trabalhar ou sair de casa desacompanhadas de um homem. A perda do salário por parte de muitas mulheres que sustentavam suas casas tem contribuído para o empobrecimento da população afegã. E foram relatados casos de solteiras ou viúvas forçadas a se casar com combatentes.

Em 2023, os radicais proibiram inclusive o trabalho das mulheres afegãs em organizações não governamentais e na ONU (Organização das Nações Unidas), o que levou muitas dessas entidades a suspenderem a ajuda humanitária que ofereciam à população do Afeganistão, uma das mais necessitadas de tal suporte em todo o mundo.

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