Nos últimos anos, a China consolidou o controle sobre minerais essenciais que sustentam indústrias globais, desde semicondutores até carros elétricos. Metais de terras raras, como samário e disprósio, são vitais para eletrônicos, motores elétricos e aplicações militares. Beijing domina 90% da produção mundial de ímãs de terras raras e controla tecnologias críticas de processamento. As informações são do The New York Times.
O país implementou regras rigorosas de exportação que exigem documentação detalhada sobre o uso dos metais e licenças especiais para envio ao exterior. Desde dezembro de 2024, a China restringiu minerais estratégicos como gálio, germânio, antimônio e tungstênio, afetando diretamente empresas nos EUA, Europa e Japão.

Em abril de 2025, o governo chinês expandiu os controles, incluindo sete elementos de terras raras e seus ímãs, limitando a produção de montadoras e fornecedores globais. Além disso, novas regras proibiram a transferência de tecnologia e exportação de equipamentos essenciais para processamento de terras raras, dificultando a construção de indústrias concorrentes fora da China.
Em outubro, as restrições se intensificaram: Beijing bloqueou exportações de cinco novos elementos de terras raras, materiais para baterias, serras diamantadas e até ímãs produzidos fora do país, mas contendo minúsculas quantidades de terras raras chinesas. Essas medidas dão ao país uma posição estratégica sobre cadeias de suprimentos globais, permitindo inclusive influenciar mercados militares e de semicondutores.
Especialistas alertam que, embora essas regras fortaleçam o poder da China, elas também podem gerar danos à própria economia do país a longo prazo, prejudicando sua imagem como fornecedora confiável. O controle rigoroso sobre minerais essenciais mostra como Beijing transforma recursos estratégicos em ferramentas de poder econômico e geopolítico.
“Ouro do século 21”
As chamadas terras raras (da sigla em inglês REE, Rare–Earth Element) são 17 metais essenciais à fabricação de produtos de alta tecnologia, usados para fazer os ímãs utilizados tanto para fins comerciais quanto de uso militar – incluindo fabricação de jatos de combate, como o F-35.
Não à toa, esses depósitos de minerais estratégicos, por conta de sua aplicação em produtos high tech, são responsáveis pela extração das “vitaminas da indústria”, “combustível do futuro” e “ouro do século 21”, apelidos que refletem sua importância no setor.
Hegemonia chinesa
A China lidera a produção mundial de elementos de terras raras. Apesar das iniciativas dos Estados Unidos e da Europa para diversificar suas fontes de importação de REE, a China ainda mantém um papel central no fornecimento global desses recursos estratégicos, segundo a Newsweek.
Atualmente, a China produz 60% das terras raras do mundo, mas processa quase 90%, o que significa que importa terras raras de outros países e as processa, enquanto Mianmar e os Estados Unidos ficaram com 15% e 9%, respectivamente. Isto deu à China um quase monopólio. A Benchmark Minerals Intelligence sinalizou que os Estados Unidos estão particularmente expostos a restrições de processamento de terras raras pesadas, uma vez que a China separa 99,9% delas.
Em 2022, a China forneceu 72% das importações de terras raras dos EUA, segundo o Serviço Geológico dos EUA, seguida pela Malásia com 11%, Japão com 6% e Estônia com 5%.
Os dados da União Europeia (UE) indicam que o bloco de 27 países dependia da China para suprir 40,3% de suas necessidades de elementos de terras raras (REE) em termos de peso naquele ano, comparado a 30,6% provenientes da Malásia e 24,5% da Rússia.
Embora o ítrio, o neodímio e outros elementos de terras raras não sejam geologicamente escassos, sua extração e refino são processos complexos.
Washington está cada vez mais preocupada com a dependência dos REE chineses, considerando isso uma questão crítica de segurança nacional. Na terça-feira, o Comitê Seletivo da Câmara sobre o Partido Comunista Chinês anunciou a formação de um grupo de trabalho focado em combater o domínio da China nas cadeias de abastecimento de minerais essenciais.
“Os minerais críticos são essenciais para a eletrônica de consumo e a tecnologia militar avançada. A dependência dos EUA da China para esses materiais pode se tornar uma grande vulnerabilidade em caso de conflito”, afirmou John Moolenaar, presidente do comitê, no comunicado de imprensa.
No seu discurso sobre o estado da União em 2022, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, destacou a crescente importância das terras raras, prevendo que “o lítio e as terras raras serão em breve mais importantes do que o petróleo e o gás”. Ela projetou um aumento de cinco vezes na demanda por esses metais na próxima década.
A Lei das Matérias-Primas Críticas, que entrou em vigor no mês passado, exige que a UE obtenha 10% de suas matérias-primas críticas e processe 40% internamente.
No ano passado, Beijing intensificou os controles sobre relatórios de exportações de elementos estratégicos de terras raras, aparentemente em resposta às restrições dos EUA sobre semicondutores e equipamentos de fabricação de chips, que a administração Biden afirma ter como objetivo conter os avanços tecnológicos militares da China.
Além disso, o Ministério do Comércio da China anunciou restrições aos equipamentos utilizados para processar elementos de terras raras e ímãs.