ONG estima 13 crianças mortas por dia em campo para deslocados no Sudão: ‘Catástrofe’

Médicos Sem Fronteiras diz que situação em Darfur do Norte é 'catastrófica' e exige uma rápida resposta humanitária

A situação é “catastrófica” no campo de deslocados de Zamzam, em Darfur do Norte, no Sudão. A afirmação é da ONG Médicos Sem Fronteiras (MSF), cujas estimativas apontam para 13 crianças mortas diariamente no local, que abriga cada vez mais pessoas fugindo do conflito que assola o país africano.

A falta de comida é um problema terrível no campo, onde “todos os limites de emergência para desnutrição foram atingidos.” Ainda de acordo com a entidade, é necessária uma “intervenção imediata” para que vidas sejam salvas, sendo para isso indispensável o aval das duas facções em guerra.

De acordo com a MSF, os exames nutricionais mostram que quase 25% das crianças apresentam desnutrição aguda, sendo que 7% sofrem de desnutrição aguda grave (SAM). Os números são ainda piores entre as crianças dos seis meses aos dois anos de idade, com quase 40% de desnutrição aguda e 15% de desnutrição aguda grave.

Crianças submetidas a exames nutricionais em Silkiy, estado de Kassala, Sudfão (Foto: Ahmed Amin Ahmed Mohamed Osman/Unicef)

“O que estamos vendo no campo de Zamzam é ​​uma situação absolutamente catastrófica. Estimamos que pelo menos uma criança morre a cada duas horas no campo”, afirmou Claire Nicolet, chefe de resposta emergencial da MSF no Sudão.

A desnutrição também atinge 40% das mulheres grávidas e lactantes, com uma mortalidade diária de 2,5 pessoas a cada dez mil. Segundo a entidade, estes números estão mais de duas vezes acima do limiar emergencial.

“Nossa estimativa atual é de cerca de 13 mortes de crianças por dia. Aquelas com desnutrição grave que ainda não morreram correm alto risco de morrer dentro de três a seis semanas se não receberem tratamento. A sua condição é tratável se conseguirem chegar a um centro de saúde. Mas muitas não conseguem”, acrescentou Nicolet. 

Segundo ela, o problema já existia antes mesmo do conflito, mas ultimamente se agravou bastante. OS alimentos que costumavam ser entregues pela ONU (Organização das Nações Unidas) pararam de chegar em maio, forçando as pessoas a abrirem mão de uma das duas refeições diárias às quais tinham acesso.

Soma-se a isso a falta de água potável, situação capaz de gerar doenças potencialmente fatais sobretudo para crianças desnutridas. Mesmo as saudáveis são afetadas, devido ao risco de que as doenças da água as tornem desnutridas, iniciando-se um ciclo mortal.

Para amenizar o drama, a MSF instou as duas parte sem conflito no Sudão a reabrirem o aeroporto regional de El Fasher, para que os intervenientes humanitários possam regressar rapidamente e prestar apoio às pessoas, não só no campo de Zamzam, mas em todo o estado de Darfur do Norte.

Por que isso importa?

O Sudão vive um violento conflito armado que coloca frente a frente dois generais que comandam o país africano desde o golpe de Estado de 2021: Abdel Fattah al-Burhan, chefe das Forças Armadas Sudanesas (SAF, na sigla em inglês), e Mohamed Hamdan “Hemedti” Daglo, à frente da milícia das Forças de Apoio Rápido (RSF, na sigla em inglês).

As tensões decorrem de divergências sobre a incorporação dos combatentes das RSF às Forças Armadas, o que levou a milícia a se insurgir. Hemedti tem entre 70 mil e cem mil homens sob seu comando, de acordo com a rede Deutsche Welle (DW), enquanto al-Burhan lidera um efetivo de cerca de 200 mil.

No dia 16 de abril, um domingo, explosões puderam ser ouvidas no centro da capital Cartum, mais precisamente no entorno do quartel-general militar do Sudão e do palácio presidencial, locais estratégicos reivindicados tanto por militares quanto pelas RSF.

O aeroporto internacional da capital, tomado pela milícia, foi bombardeado com civis dentro. Aeronaves foram destruídas, e caças da Força Aérea sudanesa e tanques foram usados contra os paramilitares.

Embora as SAF sejam mais bem equipadas e em maior número, as RSF são igualmente bem treinadas, o que equilibra as ações. O balanço de forças apenas prolonga as hostilidades e a violência decorrente, com nenhum dos dois lados conseguindo se impor sobre o inimigo.

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