Ataque de grupo ligado ao Estado Islâmico deixa ao menos dez mortos em Uganda

Ação foi atribuída ao grupo Forças Democráticas Aliadas, que atacou inclusive uma paróquia cristã no leste do país africano

Um ataque atribuído ao grupo extremista ADF (Forças Democráticas Aliadas, da sigla em inglês) deixou ao menos dez mortos na segunda-feira (18) no oeste de Uganda, segundo informações do site local Monitor. Os insurgentes são ligados ao Estado Islâmico (EI).

Um dos alvos dos extremistas no ataque foi a paróquia de Kyabandara, sugerindo que o ataque foi direcionado contra a maioria cristã do país africano. Um bar, uma depósito de cereais e um hotel também foram atacados e incendiados.

Apenas uma das vítimas foi identificada, uma vereadora local conhecida como Night. Junto dela morreram outras quatro pessoas, enquanto as demais seis vítimas faziam a segurança de uma fazenda de milho e foram espancadas até a morte.

A ação da ADF parece uma reação à declaração do presidente Yoweri Museveni de que ao menos 200 membros do grupo foram mortos em uma grande operação de contraterrorismo liderada por Uganda no leste da República Democrática do Congo, onde os extremistas também marcam presença.

“Temos realizado ataques aéreos contra os terroristas na RD Congo. Normalmente identificamos esses alvos através da inteligência técnica e humana. Usando esses meios, você pode saber que muitos terroristas foram mortos”, disse o presidente na semana passada através da rede social X, antigo Twitter, acrescentando que o total de vítimas chegou a 200.

Carro da ONU queimado em ataque das Forças Democráticas Aliadas em 2014, na República Democrática do Congo (Foto: Sylvain Liechti/UN Photo)
Por que isso importa?

A ADF é uma organização paramilitar ugandense acusada de estar por trás de milhares de mortes nos últimos anos. O grupo nasceu em 1995, como oposição ao presidente Yoweri Museveni, e tem atuando majoritariamente em áreas remotas. Com o tempo, a facção ultrapassou as fronteiras de Uganda e passou a agir também na RD Congo.

No começo de maio deste ano, o governo congolês declarou lei marcial em Kivu do Norte e na província vizinha de Ituri, de modo a estancar a violência atribuída ao grupo rebelde. Porém, o número de civis mortos só cresceu.

Cerca de três meses depois, em agosto, o atual presidente congolês Felix Tshisekedi declarou que forças especiais dos Estados Unidos seriam enviadas à região a fim de estudar a viabilidade de instalação de uma unidade antiterrorismo para o enfrentamento da violência islâmica.

A ADF foi colocado na lista de sanções financeiras em março por Washington, classificada como terrorista. A organização declarou publicamente ser um braço do Estado Islâmico (EI), que por sua vez assumiu a responsabilidade por alguns de seus ataques.

No entanto, um relatório divulgado em junho por especialistas da ONU (Organização das Nações Unidas) afirma não haver evidências de apoio direto do EI à ADF.

Terrorismo no Brasil

Episódios recentes mostram que o Brasil é visto como porto seguro pelos extremistas e é, também, um possível alvo de ataques. Em dezembro de 2013, levantamento do site The Brazil Business indicava a presença de ao menos sete organizações terroristas no Brasil: Al-Qaeda, Jihad Media Battalion, Hezbollah, Hamas, Jihad Islâmica, Al-Gama’a Al-Islamiyya e Grupo Combatente Islâmico Marroquino.

Em 2016, duas semanas antes do início dos Jogos Olímpicos no Rio, a PF prendeu um grupo jihadista islâmico que planejava atentados semelhantes aos dos Jogos de Munique em 1972. Dez suspeitos de serem aliados ao EI foram presos e dois fugiram.

Mais tarde, em dezembro de 2021, três cidadãos estrangeiros que vivem no Brasil foram adicionados à lista de sanções do Tesouro Norte-americano. Eles foram acusados de contribuir para o financiamento da Al-Qaeda, tendo inclusive mantido contato com figuras importantes do grupo terrorista.

A ameaça voltou a ser evidenciada com a prisão, em outubro de 2023, de três indivíduos supostamente ligados ao Hezbollah que operavam no Brasil. Eles atuavam com a divulgação de propaganda do grupo extremista e planejavam atentados contra entidades judaicas.

Para o tenente-coronel do exército brasileiro André Soares, ex-agente da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), tais episódios causam “preocupação enorme”, vez que confirmam a presença do país no mapa das organizações terroristas islâmicas.

“A possibilidade de atentados terroristas em solo brasileiro, perpetrados não apenas por grupos extremistas islâmicos, mas também pelo terrorismo internacional, é real”, diz Soares, mestre em operações militares e autor do livro “Ex-Agente Abre a Caixa-Preta da Abin” (editora Escrituras).

A opinião é compartilhada por Barbara Krysttal, gestora de políticas públicas e analista de inteligência antiterrorismo.

“O Brasil recorrentemente, nos últimos dez, cinco anos, tem tido um aumento significativo de grupos terroristas assediando jovens e cooptando adultos jovens para fazer parte de ações terroristas no mundo todo”, disse ela, que também vê o país sob ameaça de atentados. “Sim, é um polo que tem possibilidade de ser alvo de ações terroristas.”

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