Ataque suicida deixa nove mortos na Somália, entre eles uma autoridade do governo

Al-Shabaab assumiu a autoria do ataque e disse que o alvo era o comissário Abdullahi Wafow, morto com mais oito pessoas

Um ataque realizado por um homem-bomba na região sul da Somália, na quarta-feira (27), matou nove pessoas, entre elas uma autoridade governamental local. A ação suicida foi reivindicada pelo Al-Shabaab, grupo extremista ligado à Al-Qaeda. As informações são do site The Defense Post.

“O comissário Abdullahi Wafow foi morto em uma explosão junto com outras oito pessoas, a maioria deles seguranças”, disse à agência AFP Ibrahim Ali, um policial da cidade de Marka, onde ocorreu o ataque. “A polícia ainda está investigando o incidente, mas há indícios de que um homem-bomba realizou o ataque mortal”.

Ao assumir a responsabilidade pela “operação de martírio”, como classificou em um comunicado, o Al-Shabaab afirmou que o alvo era mesmo o comissário.

“O homem-bomba correu até o comissário e se explodiu”, disse Abdukadir Hassan, que testemunhou a explosão. “Eu estava perto de onde ocorreu o incidente e a cena era horrível, com esses pedaços de carne humana ao redor”.

Também na quarta, as forças de segurança da Etiópia anunciaram ter matado 85 militantes do grupo extremista. A ação ocorreu na região de Ferfer, perto da fronteira com a Somália, e foi consequência direta de um ataque dos insurgentes a duas vilas somalis igualmente na região fronteiriça, ocorrido na semana passada.

Ataques terroristas na região de fronteira são raros, dada a forte presença militar de tropas da Etiópia, que tem com a nação vizinha um acordo de cooperação no combate ao extremismo. Entretanto, o Al-Shabaab, uma facção somali da Al-Qaeda, agiu para vingar a recente morte de um jihadista do lado etíope da fronteira.

Forças da Somália após a tomada do último bastião urbano do Al-Shabaab, em outubro de 2012 (Foto: Wikimedia Commons)
Por que isso importa?

O Al-Shabbab chegou a controlar a capital da Somália, Mogadíscio, até 2011, quando foi expulso de lá pelas forças da União Africana. Atualmente, controla territórios nas áreas rurais da Somália e luta para derrubar o governo nacional.

O grupo concentra seus ataques no sul e no centro do país. As atividades envolvem ataques a órgãos e oficiais do governo e a entidades de ajuda humanitária, além de extorsão contra a população local e proteção de terroristas internacionais que se escondem no país.

Dados apontam que os extremistas estiveram em mais de 400 episódios violentos no país entre julho e setembro do ano passado – o maior número desde 2018.

Um relatório do International Crisis Group (Grupo de Crise Internacional, em tradução literal), cuja meta é prevenir guerras em todo o mundo, diz que derrotar o Al-Shabaab é uma tarefa complexa devido à quantidade de seguidores em território somali, algo na casa dos cinco mil. Assim, a melhor estratégia para o governo somali seria a negociação

“Combinada com a disfunção e a divisão entre seus adversários, a agilidade dos militantes permitiu que se inserissem na sociedade somali”, diz o documento. “Há um crescente consenso nacional e internacional de que o Al-Shabaab não pode ser derrotado apenas por meios militares”.

O relatório, porém, afirma que a diplomacia não vem sendo considerada pelo governo. “Há pouco apetite entre as elites somalis ou os parceiros internacionais do país para explorar alternativas, principalmente conversas com líderes militantes”. E acrescenta: “A alternativa é mais luta sem um fim à vista”.

No Brasil

Casos mostram que o Brasil é um porto seguro para extremistas. Em dezembro de 2013, levantamento do site The Brazil Business indicava a presença de ao menos sete organizações terroristas no Brasil: Al Qaeda, Jihad Media Battalion, Hezbollah, Hamas, Jihad Islâmica, Al-Gama’a Al-Islamiyya e Grupo Combatente Islâmico Marroquino.

Em 2001, uma investigação da revista VEJA mostrou que 20 membros terroristas de Al-Qaeda, Hamas e Hezbollah viviam no país, disseminando propaganda terrorista, coletando dinheiro, recrutando novos membros e planejando atos violentos.

Em 2016, duas semanas antes do início dos Jogos Olímpicos no Rio, a PF prendeu um grupo jihadista islâmico que planejava atentados semelhantes aos dos Jogos de Munique em 1972. Dez suspeitos de serem aliados ao Estado Islâmico foram presos e dois fugiram.

Mais recentemente, em dezembro de 2021, três cidadãos estrangeiros que vivem no Brasil foram adicionados à lista de sanções do Tesouro Norte-americano. Eles são acusados de contribuir para o financiamento da Al-Qaeda, tendo inclusive mantido contato com figuras importantes do grupo terrorista.

Para o tenente-coronel do Exército Brasileiro André Soares, ex-agente da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), o anúncio do Tesouro causa “preocupação enorme”, vez que confirma a presença do país no mapa das organizações terroristas islâmicas.

“A possibilidade de atentados terroristas em solo brasileiro, perpetrados não apenas por grupos extremistas islâmicos, mas também pelo terrorismo internacional, é real”, diz Soares, mestre em operações militares e autor do livro “Ex-Agente Abre a Caixa-Preta da Abin” (editora Escrituras). “O Estado e a sociedade brasileira estão completamente vulneráveis a atentados terroristas internacionais e inclusive domésticos, exatamente em razão da total disfuncionalidade e do colapso da atual estrutura de Inteligência de Estado vigente no país”. Saiba mais.

Tags: