Ativista Paul Rusesabagina, de ‘Hotel Ruanda’, teve voo interceptado para prendê-lo

Ruandês, que vivia na Bélgica, é crítico feroz do presidente de seu país e foi preso acusado de "terrorismo"

Preso desde 31 de agosto, o ativista conhecido por inspirar o filme “Hotel Ruanda” (2004), Paul Rusesabagina, foi enganado para retornar ao país africano. “Como cheguei aqui… isso é uma surpresa”, disse Rusesabagina em tom irônico. “Eu não estava vindo para cá.”

Em entrevista monitorada por policiais ao jornal norte-americano “The New York Times”, o ativista afirmou que acreditava ir para Bujumbura, no Burundi, no dia 27 de agosto.

Rusesabagina foi enganado para retornar a Ruanda, diz governo de Kagame
O ativista Paul Rusesabagina concede entrevista ao New York Times na prisão em Kigali, Ruanda, em setembro de 2020 (Foto: Reprodução/NY Times)

Segundo sua família, o ativista afirmou que iria palestrar em igrejas do Burundi a convite do pastor Constantin Niyomwungere. As autoridades ruandesas, no entanto, afirmam que o ativista ia ao país para coordenar grupos armados terroristas.

Ao embarcar no menor aeroporto de Dubai, o jato particular o levou para Kigali, capital da Ruanda. O avião era operado por GainJet, uma empresa grega geralmente utilizada pelo presidente de Ruanda, Paul Kagame.

Já em Ruanda, Rusesabagina, que tinha mandado de prisão no país, foi detido imediatamente. “Ele se entregou. Foi uma operação maravilhosa”, disse o general-chefe de Ruanda, Joseph Nzabamwita.

O presidente de Ruanda, Paul Kagame, em reunião do governo em junho de 2020 (Foto: Flickr/Paul Kagame)

Prisão ilegal

Em seu último relatório, a organização Human Rights Watch definiu a prisão de Rusesabagina como “ilegal” e um “desaparecimento forçado”. Ou seja, houve perseguição e caputra do ativista antes da extradição a Ruanda.

Dissidentes afirmam que esse tipo de operação é típica de Kagame. No ano passado, outro líder da oposição com destino a Comores também acabou em Ruanda, lembrou a reportagem.

O ativista, que jurou nunca mais voltar a Ruanda, é um dos líderes de uma coalizão opositora a Kagame e perseguido há 13 anos. Preso, Rusesabagina prepara-se para ser julgado por assassinato, incêndio criminoso e terrorismo.

Nos primeiros três dias de prisão, o ativista ficou com vendas nos olhos e pulsos e tornozelos amarrados. “Não muitos”, disse ele quando questionado sobre a frequência dos interrogatórios.

Acompanhado de dois policiais e mantido em difícil acesso, seu filho, Tesor Rusesabagina, afirma que o pai é vigiado constantemente e, por isso, não consegue revelar o que realmente está acontecendo em Ruanda.

“Com armas ao redor, ele está falando na barriga da besta. E a besta pode morder a qualquer momento”, pontuou.

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