Crise humanitária no Sudão já afeta 25 milhões de pessoas, a maioria crianças

População sofre com deslocamento em massa, escassez de recursos, fome aguda e riscos à saúde, com 14 milhões de menores atingidos

Conteúdo adaptado de material publicado originalmente pela ONU News

Mais de 25 milhões de pessoas, incluindo 14 milhões de crianças, enfrentam uma crise humanitária urgente no Sudão, desencadeada pelos conflitos entre as Forças Armadas Sudanesas (SAF, na sigla em inglês) e as Forças de Apoio Rápido (RSF, na sigla em inglês) desde abril de 2023. 

O alerta foi feito por um grupo de especialistas de Direitos Humanos da ONU na segunda-feira (5), que também apontam para a extrema necessidade de assistência. Cerca de três milhões de crianças com menos de cinco anos sofrem de desnutrição aguda. 

O Sudão testemunha um deslocamento em massa sem precedentes, com aproximadamente 9,05 milhões de pessoas deslocadas internamente, representando cerca de 13% de todas as IDPs globalmente. 

Com quase quatro milhões de crianças deslocadas, o Sudão também enfrenta a maior crise de deslocamento de crianças do mundo. Mais de 170 escolas em todo o país se transformaram em abrigos de emergência para pessoas deslocadas internamente. 

Segundo os peritos, 20 milhões de crianças sudanesas não estão frequentando a escola e estão expostas ao risco de venda, abuso sexual, exploração, separação familiar, sequestro, tráfico e recrutamento e uso por grupos armados. 

Milhares de refugiados atravessam a fronteira para o Chade fugindo da violência no Sudão (UNHCR/Aristophane Ngargoune)

A maioria dos deslocados internos, 67%, reside em comunidades anfitriãs e nos chamados “locais de reunião”, incluindo escolas, assentamentos informais ou áreas abertas e prédios abandonados, e vive em condições terríveis com apoio limitado de organizações de ajuda internacional. 

Os especialistas afirmam que eles enfrentam uma grave escassez de alimentos e não têm acesso a água potável, assistência médica, suprimentos médicos essenciais e saneamento básico. A superlotação resultou na rápida disseminação de doenças. 

Cerca de dez mil casos suspeitos de cólera, incluindo 275 mortes associadas, foram relatados em todo o Sudão, inclusive em locais onde os deslocados internos estão se refugiando. 

Fome e saúde

De acordo com os dados do grupo de especialistas, cerca de 17,7 milhões de sudaneses, 37% da população, enfrentam fome aguda devido ao conflito, exacerbando tensões entre comunidades. 

A escassez de recursos, ajuda humanitária limitada e presença militar aumentam riscos, incluindo violência direcionada, restrições de movimento e abusos generalizados, incluindo violência sexual. A situação é agravada por ataques étnicos e políticos.

O acesso à saúde continua limitado, com 70% a 80% dos hospitais do país supostamente inoperantes devido à deterioração da situação de segurança ou à falta de centros médicos em áreas de deslocamento. 

As vítimas de violência baseada em gênero não conseguem ter acesso à assistência e aos cuidados de que necessitam, devido a uma combinação de insegurança, falta de assistência humanitária suficiente e falta de acesso dos agentes humanitários às pessoas afetadas pelo conflito. 

Respeito aos direitos humanos

Peritos de direitos humanos da ONU pedem às empresas no Sudão que respeitem os direitos humanos e expressam sérias preocupações com a impunidade de crimes durante o conflito

Eles ainda pedem a interrupção imediata dos combates, proteção de civis e cumprimento das leis humanitárias e de direitos humanos, incluindo facilitação de ajuda humanitária e responsabilização por violações.

Os especialistas opinam que negociações urgentes, incluindo cessar-fogo, são essenciais para a transição do Sudão para um governo civil. Eles adicionam que compromissos públicos com direitos humanos devem ser cumpridos, investigações de violações asseguradas. 

Segundo os dados citados, o apelo humanitário de 2024 tinha apenas 3,1% financiado em 21 de janeiro.

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