Enviada diplomática dos EUA realiza encontro com líderes da junta militar no Níger

Victoria Nuland se encontrou com autoridades golpistas na segunda-feira, em um esforço diplomático para restaurar a democracia em um país que é um parceiro-chave de Washington

Na segunda-feira (7), uma diplomata dos Estados Unidos viajou até o Níger, onde teve discussões “francas” e “desafiadoras” com os líderes do golpe de Estado, orquestrado por militares no fim do mês passado. A visita foi relatada no site do Departamento de Estado norte-americano.

Victoria Nuland, vice-secretária interina de Estado e subsecretária de Assuntos Políticos, explicou que as novas autoridades frente ao poder central têm uma posição firme que não está em conformidade com a constituição do Níger.

Ela enfatizou que, apesar das dificuldades, as portas para diálogo “continuam abertas”. Nuland relatou que sua viagem foi solicitada pelo secretário de Estado, Antony Blinken, durante sua participação nas negociações de paz na Ucrânia em Jeddah, na Arábia Saudita, no último fim de semana. O objetivo, segundo ela, foi abordar diplomaticamente o desafio à ordem democrática representado pela situação no país africano.

Victoria Nuland, vice-secretária interina de Estado e subsecretária de Assuntos Políticos (Foto: Brookings Institution/Flickr)

Nuland detalhou que esteve reunida com uma ampla gama de representantes da sociedade civil nigerina, incluindo “amigos de longa data dos Estados Unidos”, jornalistas e ativistas. Além disso, ela manteve encontros com Moussa Salaou Barmou, autodeclarado chefe da Defesa, e três coronéis que o apoiam, em conversas “extremamente diretas e por vezes desafiadoras”.

No entanto, seus pedidos para se encontrar pessoalmente com o presidente Mohamed Bazoum foram recusados. Apesar de terem tido conversas telefônicas, Nuland e sua equipe não puderam vê-lo pessoalmente, dada sua situação delicada em prisão domiciliar virtual, juntamente com sua família. Ela também lamentou a impossibilidade de encontrar Abdourahmane Tiani, o autoproclamado presidente.

Na segunda-feira, o Departamento de Estado dos Estados Unidos confirmou que manteve um contato direto com os líderes do golpe no Níger, ocorrido nos últimos 10 dias, instando-os a “recuar em suas ações”.

Entenda

Em 26 de julho, o Níger foi palco de um golpe, no qual o general Abdourahamane Tchiani, alegando “deterioração da situação de segurança” no país devastado pela ação de grupos jihadistas, se autodeclarou líder dois dias depois após destituir o presidente democraticamente eleito, Mohamed Bazoum. 

A ascensão ao poder de Bazoum, eleito no final de fevereiro de 2021, marcou uma transferência pacífica de poder histórica no Níger desde sua independência da França em 1960. Ele agora encontra-se sob custódia de sua guarda presidencial no palácio da presidência. O político é reconhecido como um aliado fundamental nos esforços ocidentais para combater a insurgência islâmica na região do Sahel, e Niamei é um dos principais beneficiários da ajuda externa.

Apesar dos apelos de diversos países e blocos regionais, clamando pela reinstauração do presidente deposto, Tchiani rejeitou tais chamados, argumentando que configuram “interferência nos assuntos internos do país”.

A Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO), principal bloco econômico da região e composto por 15 nações, realizará uma nova reunião de emergência na próxima quinta-feira para deliberar sobre a atual crise.

Um dos países mais pobres do mundo, conforme classificação da ONU (Organização das Nações Unidas), luta contra o alastramento do Boko Haram, ligado à Al-Qaeda, e do ISWAP (Estado Islâmico da África Ocidental), ambos da Nigéria, que já expandiram sua atuação para o Níger.

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