Estados Unidos ligam russos do Wagner Group ao golpe de Estado em Burkina Faso

Empresa militar privada associada ao governo russo teria sido o motivo do racha entre o presidente deposto e militares

Rumores de que a Rússia teria conexão com o golpe militar em Burkina Faso nesta semana chegaram até o Pentágono, embora autoridades de defesa em Washington tratem o assunto com cautela e não confirmem as alegações. A suspeita é de que uma empresa militar privada frequentemente associada ao Kremlin tenha motivado a ruptura entre governo e forças armadas. As informações são da rede Voice of America (VOA).

Na terça-feira (25), um dia após o Exército burquinense ter detido o presidente Roch Marc Christian Kaboré e outros funcionários de alto escalão, Alexander Ivanov, chefe do Sindicato de Oficiais para Segurança Internacional e porta-voz não oficial do Wagner Group na República Centro-Africana (RCA), ofereceu treinamento para os militares de Burkina Faso. A RCA usa os serviços dos mercenários da organização paramilitar russa na segurança contra a insurgência jihadista desde 2017.

“O Departamento de Defesa está ciente das alegações de que o Grupo Wagner pode ter sido uma força por trás da aquisição militar em Burkina Faso”, declarou na quinta-feira (27) Cindi King, porta-voz do Departamento de Defesa.

Junta em Burkina Faso confirmou golpe ao vivo na TV estatal: presidente detido, parlamento dissolvido e constituição suspensa (Foto: RTB/Captura de tela)

O site de notícias norte-americano Daily Beast foi o primeiro a relatar a suposta relação do Wagner Group com o golpe em Burkina Faso. O veículo citou fontes próximas ao presidente deposto, dizendo que seus atos finais no cargo foram contrários aos pedidos dos militares burquinenses para contratar os combatentes.

“O presidente rapidamente rejeitou a ideia”, disse um oficial à reportagem. “Kaboré não queria se deparar com nenhum problema com o Ocidente por se alinhar com a Rússia”.

O Pentágono parou de se pronunciar sobre as acusações. “Não podemos falar sobre os relatórios ou qualquer fator potencial que levou a este evento”, disse King sobre o golpe no país africano.

O chefe do Comando Africano dos EUA confirmou na semana passada as alegações da França e de outros Estados europeus sobre a presença de mercenários do Wagner no Mali, contratados pela junta militar daquele país mesmo diante dos inúmeros apelos e avisos dos EUA e outras nações.

Organização obscura

Wagner Group é um grupo paramilitar privado cercado de mistério. Não há informações precisas sobre a misteriosa organização, mas há indícios de que ao menos dez mil pessoas já integraram o grupo, cuja primeira empreitada de que se tem notícia foi em 2014, quando se aliou a separatistas pró-Rússia contra o governo da Ucrânia. Desde então, há sinais de presença dos mercenários em conflitos em diversos países, como Líbia, Síria, Sudão, Moçambique e República Centro Africana.

Em agosto, um tablet perdido ajudou a expor os segredos da organização. Uma reportagem da rede britânica BBC teve acesso ao equipamento, que expõe a participação da milícia na guerra civil da Líbia, sugere a proximidade entre associados do grupo e o governo russo e dá fortes indícios de que os mercenários são responsáveis por inúmeros crimes de guerra.

O governo russo nega qualquer vínculo com o Wagner Group, mas um mercenário ouvido pela BBC sugere o oposto. Ele afirmou que a organização “é uma estrutura que visa promover os interesses do Estado para além das fronteiras do nosso país”. E classificou os combatentes como “profissionais da guerra”, pessoas em busca de emprego ou apenas “românticos que querem servir seu país”.

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