Etiópia exclui partido da região de Tigré da lista de organizações terroristas

Medida é mais um passo rumo à paz definitiva no norte do país, imerso em um violento conflito armado desde 2020

A Etiópia deu na quarta-feira (22) mais um passo para encerrar definitivamente o conflito no norte do país, iniciado em 2020, e estabelecer um novo governo na região. Por decisão do parlamento nacional, a TPLF (Frente de Libertação do Povo Tigré), partido político com um braço armado que atua em Tigré, foi excluída da lista nacional de organizações terroristas.

“A Câmara dos Representantes do Povo aprovou a ideia de remover a TPLF da relação do terrorismo”, disse o órgão legislativo em sua conta no Facebook.

A medida fortalece o acordo de paz firmado em novembro de 2022 entre os rebeldes de Tigré e da região vizinha de Amhara e o governo central. E permite que a TPLF participe do governo regional interino, sob a liderança do porta-voz do partido, Getachew Reda, segundo a agência Al Jazeera.

“Uma vez que a comunidade Tigré faz parte do nosso país, o povo de Tigré faz parte do acordo de paz que permite ao povo de Tigré obter um lugar no parlamento para decidir e participar igualmente nos assuntos do seu país”, afirmou a Câmara dos Representantes no comunicado.

O texto diz ainda que a decisão foi tomada por maioria dos votos, 61 a 5, e acrescenta que Redwan Hussein, conselheiro do primeiro-ministro Abiy Ahmed para assuntos de segurança, “trabalhará para garantir uma paz sustentável no nosso país, fornecendo plataformas de discussão nacionais”.

Evento celebra os 40 anos da TPLF, em Tigré, na Etiópia, em 2015 (Foto: Divulgação/Flickr)
Por que isso importa?

A região de Tigré, no extremo norte da Etiópia, esteve imersa em conflitos por dois anos desde novembro de 2020, quando disputas eleitorais levaram Addis Abeba a determinar a tomada das instituições locais. A disputa opõe a TPLF às forças de segurança nacionais da Etiópia.

Os militares chegaram a reconquistar Tigré, mas os rebeldes viraram o jogo e começaram a ganhar território. No final de junho de 2021, eles anunciaram um processo de “limpeza” para retomar integralmente o controle da região e assumiram o comando de Mekelle.

Pouco após a derrota do exército, o governo da Etiópia decretou um cessar-fogo e deixou Tigré. Os soldados do exército da aliada Eritreia também deixaram de ser vistos por lá. Posteriormente, com o avanço dos rebeldes, que chegaram às regiões vizinhas de Amhara e Afar, o exército foi enviado novamente para apoiar as tropas locais.

Durante o conflito, a TPLF se aliou ao OLA (Exército de Libertação Oromo, da sigla em inglês), que em 2020 se desvinculou do partido político homônimo e passou a defender de maneira independente a etnia Oromo, a maior da Etiópia.

A coalizão passou a superar o exército nos confrontos armados e chegou a ameaçar rumar para a capital, sem sucesso. A situação estava relativamente calma em 2022 até agosto, quando nos confrontos eclodiram. Três meses depois, um cessar-fogo foi firmado, e os rebeldes começaram a depor suas armas.

Acredita-se que dezenas de milhares de pessoas tenham morrido no conflito, com milhões de deslocados das regiões de Tigré, Amhara e Afar. Em março de 2023, os EUA acusaram todas as partes envolvidas no conflito de cometerem crimes de guerra e crimes contra a humanidade.

A denúncia recai não apenas sobre as forças armadas da Etiópia e da Eritreia, país vizinho que apoiou o governo etíope durante o conflito. Também atinge as milícias de oposição, quais sejam a TPLF e as forças rebeldes de Amhara.

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