EUA enviam 61 toneladas de armas e munição para combater o Al-Shabaab na Somália

Pacote inclui fuzis AK-47, metralhadoras pesadas e munições, além da promessa de ajudar o país a derrubar o embargo de armas da ONU

O governo norte-americano anunciou, através de sua embaixada na Somália, a ampliação do apoio militar às forças do país africano para combater o Al-Shabaab, grupo extremista ligado à Al-Qaeda. Para tanto, 61 toneladas de armamento e munição desembarcaram na terça-feira (28) em Mogadíscio, capital do país africano.

O pacote inclui fuzis de assalto AK-47, metralhadoras pesadas e munições. “Esta assistência militar apoiará as atuais operações do SNA (Exército Nacional da Somália) contra o Al-Shabaab nos Estados de Galmadug e Jubaland”, bem como um novo grupamento de combatentes das forças especiais somalis, popularmente conhecidas como Danab, para o qual o processo de recrutamento já começou.

“Estamos muito orgulhosos de ser parceiros do Exército Nacional da Somália e do povo somali nesta luta. Essa munição será fornecida à Danab, que é uma das muitas forças corajosas que lutam contra o Al-Shabaab”, disse o encarregado de negócios Tim Trinkle.

Atualmente, o Al-Shabaab é alvo de uma grande operação de contraterrorismo realizada pelo governo da Somália com o apoio dos EUA. Washington havia decidido, durante o governo de Donald Trump, retirar suas tropas do território somali, mas Joe Biden reativou a missão e enviou cerca de 500 soldados ao país africano em 2022.

Fuzileiros navais de unidade antiterrorismo dos EUA (Foto: divulgação/Sgt. Esdras Ruano)

Hussein Sheikh-Ali, consultor nacional de segurança do governo da Somália, usou sua conta no Twitter para destacar as ações do país na luta contra o grupo extremista, considerado por Washington “a maior e mais mortal rede da Al-Qaeda no mundo”, de acordo com a agência Associated Press (AP).

“A erradicação de AS (Al-Shabaab) & Daesh (sigla pejorativa usada para se referir ao Estado Islâmico) e sua ideologia extremista requer uma estratégia exaustiva. Observe que NÃO há atalhos. UNIDADE DE PROPÓSITO é uma obrigação”, disse Sheikh-Ali.

Washington e seus parceiros na operação de contraterrorismo, Catar, Turquia, Emirados Árabes Unidos e Reino Unido, emitiram um segundo comunicado. Nele, prometem “fortalecer a coordenação da assistência de segurança internacional” e destacam a “importância de garantir a entrega oportuna de assistência de estabilização para áreas recém-liberadas”.

Entre as missões da aliança está o oferecimento de apoio ao governo da Somália “para cumprir os parâmetros de referência em gerenciamento de armas e munições”, a fim de viabilizar o fim do embargo de armas imposto ao país africano pelo Conselho de Segurança da ONU (Organização das Nações Unidas).

O documento engloba não apenas a segurança, mas também questões humanitárias e ambientais. O grupo de países expressa “preocupação com a atual crise humanitária causada pela pior seca já registrada” no país, destaca o “apoio de atores internacionais para atender às necessidades imediatas do povo somali” e fala em fortalecer “a capacidade da Somália de resistir a futuros choques climáticos”.

Por que isso importa?

O Al-Shabaab chegou a controlar Mogadíscio até 2011, quando foi expulso de lá pelas forças da União Africana (UA). Atualmente, controla territórios nas áreas rurais da Somália e luta para derrubar o governo nacional, tendo inclusive se expandido para a vizinha Etiópia.

O grupo concentra seus ataques no sul e no centro da Somália. As atividades envolvem ataques a órgãos e oficiais do governo e a entidades de ajuda humanitária, além de extorsão contra a população local e proteção de terroristas internacionais que se escondem no país.

Um levantamento feito pela ONU e divulgado em dezembro de 2022 aponta que 613 civis morreram no ano passado na Somália em ações terroristas. A maioria dessas pessoas, 315, foi vítima de dispositivos explosivos improvidas (IEDs, na sigla em inglês).

Os números, apresentados pelo Escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH), apontam, ainda, casos de vítimas civis atingidas pelas forças do governo, por milícias armadas aliadas às forças armadas somalis e por outros “atores não identificados”. As mais de 600 mortes representam um aumento de um terço em relação a 2021, maior número registrado no país desde 2017.

Devido ao crescimento do Al-Shabaab, o presidente Hassan Sheikh Mohamud iniciou, em agosto do ano passado, uma grande ofensiva contra os insurgentes. Na ocasião, ele comparou a facção a “uma cobra mortal” e disse que “não há solução a não ser matá-la, antes que ela mate você”.

Ao prometer confrontar os insurgentes, ele inclusive alertou a população para que não seja pega no fogo cruzado. “O Al-Shabaab será confrontado usando todos os métodos que a guerra permitir. Eles serão bombardeados, invadidos e submetidos a ataques aéreos. Então, fique longe deles”, disse Mohamud.

No Brasil

Casos mostram que o Brasil é um porto seguro para extremistas. Em dezembro de 2013, levantamento do site The Brazil Business indicava a presença de ao menos sete organizações terroristas no Brasil: Al Qaeda, Jihad Media Battalion, Hezbollah, Hamas, Jihad Islâmica, Al-Gama’a Al-Islamiyya e Grupo Combatente Islâmico Marroquino.

Em 2001, uma investigação da revista VEJA mostrou que 20 membros terroristas de Al-Qaeda, Hamas e Hezbollah viviam no país, disseminando propaganda terrorista, coletando dinheiro, recrutando novos membros e planejando atos violentos.

Em 2016, duas semanas antes do início dos Jogos Olímpicos no Rio, a PF prendeu um grupo jihadista islâmico que planejava atentados semelhantes aos dos Jogos de Munique em 1972. Dez suspeitos de serem aliados ao Estado Islâmico foram presos e dois fugiram.

Em dezembro de 2021, três cidadãos estrangeiros que vivem no Brasil foram adicionados à lista de sanções do Tesouro Norte-americano. Eles são acusados de contribuir para o financiamento da Al-Qaeda, tendo inclusive mantido contato com figuras importantes do grupo terrorista. E, mais recentemente, em outubro de 2022, um associado ao EI, com nacionalidade brasileira e negócios no país, foi sancionado pelos EUA.

Para o tenente-coronel do Exército Brasileiro André Soares, ex-agente da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), o anúncio do Tesouro causa “preocupação enorme”, vez que confirma a presença do país no mapa das organizações terroristas islâmicas.

“A possibilidade de atentados terroristas em solo brasileiro, perpetrados não apenas por grupos extremistas islâmicos, mas também pelo terrorismo internacional, é real”, diz Soares, mestre em operações militares e autor do livro “Ex-Agente Abre a Caixa-Preta da Abin” (editora Escrituras). “O Estado e a sociedade brasileira estão completamente vulneráveis a atentados terroristas internacionais e inclusive domésticos, exatamente em razão da total disfuncionalidade e do colapso da atual estrutura de Inteligência de Estado vigente no país”. Saiba mais.

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