O governo da Somália nomeou um membro do Al-Shabaab para o prestigioso cargo de diretor-geral do Ministério de Assuntos Religiosos. O escolhido é Ibrahim Adan Ibrahim Nadara, que deixou o grupo extremista em 2016, durante um processo de anistia, e foi escolhido para a nova função pelo primeiro-ministro Hamza Abdi Barre. As informações são do site Garowe.
No governo somali, Ibrahim Nadara responderá a outro ex-companheiro de Al-Shabaab, Muktar Robow Ali, que foi vice-líder e porta-voz da organização extremista no passado e também mudou de lado em um processo governamental que concedeu anistia a extremistas. Ele hoje é chefe de Assuntos Religiosos do país africano.
Robow Ali é um dos mais proeminentes integrantes do grupo ligado à Al-Qaeda a deixar a militância islâmica, de acordo com analistas. Em 2017, ele admitiu publicamente sua participação em ataques e, ao desertar, prometeu apoio às autoridades somalis. No entanto, foi incapaz de persuadir um número expressivo de rebeldes a se render junto com ele.
A escolha de Ibrahim Nadara não conta com apoio unânime dentro do governo e entre a população. Isso porque ela acontece em um momento desfavorável na luta contra a insurgência islâmica na Somália, com o Al-Shabaab outra vez em evidência após um ataque que matou mais de 30 pessoas em uma praia de Mogadíscio no início de agosto.
Os críticos argumentam que ter antigos membros da organização terrorista infiltrados no governo pode comprometer os esforços no combate à insurgência. Há, porém, quem se coloque a favor da medida, alegando que indivíduos como Ibrahim Nadara e Robow Ali facilitam o diálogo com a facção, podendo eventualmente levar a um cessar-fogo.
Por que isso importa?
O Al-Shabaab chegou a controlar Mogadíscio até 2011, quando foi expulso de lá pelas forças da União Africana (UA). Atualmente, controla territórios nas áreas rurais da Somália e luta para derrubar o governo nacional, tendo inclusive se expandido para a vizinha Etiópia.
O grupo concentra seus ataques no sul e no centro da Somália. As atividades envolvem ataques contra órgãos e oficiais do governo e entidades de ajuda humanitária, além de extorsão contra a população local e proteção de terroristas internacionais que se escondem no país.
Civis são frequentemente vitimados pelos atentados. Um levantamento feito pela ONU e divulgado em dezembro de 2022 aponta que 613 civis morreram em 2022 na Somália em ações terroristas. A maioria dessas pessoas, 315, foi vítima de dispositivos explosivos improvidas (IEDs, na sigla em inglês).
Os números, apresentados pelo Escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH), apontam, ainda, casos de civis atingidos pelas tropas do governo, por milícias armadas aliadas às Forças Armadas e por outros “atores não identificados”. As mais de 600 mortes representam um aumento de um terço em relação a 2021, maior número registrado no país desde 2017.
No Brasil
Casos mostram que o Brasil é um porto seguro para extremistas. Em dezembro de 2013, levantamento do site The Brazil Business indicava a presença de ao menos sete organizações terroristas no Brasil: Al Qaeda, Jihad Media Battalion, Hezbollah, Hamas, Jihad Islâmica, Al-Gama’a Al-Islamiyya e Grupo Combatente Islâmico Marroquino.
Em 2001, uma investigação da revista VEJA mostrou que 20 membros terroristas de Al-Qaeda, Hamas e Hezbollah viviam no país, disseminando propaganda terrorista, coletando dinheiro, recrutando novos membros e planejando atos violentos.
Em 2016, duas semanas antes do início dos Jogos Olímpicos no Rio, a PF prendeu um grupo jihadista islâmico que planejava atentados semelhantes aos dos Jogos de Munique em 1972. Dez suspeitos de serem aliados ao Estado Islâmico foram presos e dois fugiram.
Em dezembro de 2021, três cidadãos estrangeiros que vivem no Brasil foram adicionados à lista de sanções do Tesouro Norte-americano. Eles são acusados de contribuir para o financiamento da Al-Qaeda, tendo inclusive mantido contato com figuras importantes do grupo terrorista. E, mais recentemente, em outubro de 2022, um associado ao EI, com nacionalidade brasileira e negócios no país, foi sancionado pelos EUA.
Para o tenente-coronel do Exército Brasileiro André Soares, ex-agente da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), o anúncio do Tesouro causa “preocupação enorme”, vez que confirma a presença do país no mapa das organizações terroristas islâmicas.
“A possibilidade de atentados terroristas em solo brasileiro, perpetrados não apenas por grupos extremistas islâmicos, mas também pelo terrorismo internacional, é real”, diz Soares, mestre em operações militares e autor do livro “Ex-Agente Abre a Caixa-Preta da Abin” (editora Escrituras). “O Estado e a sociedade brasileira estão completamente vulneráveis a atentados terroristas internacionais e inclusive domésticos, exatamente em razão da total disfuncionalidade e do colapso da atual estrutura de Inteligência de Estado vigente no país”. Saiba mais.