O processo de retirada das tropas norte-americanas do Níger, a pedido do governo local, foi concluído. A informação foi divulgada na segunda-feira (16) pela porta-voz do Pentágono Sabrina Sing, conforme relatou a agência Associated Press (AP).
A ruptura entre Washington e Niamey ocorreu após uma reunião que o primeiro-ministro nigerino Ali Mahaman Lamine Zeine teve com Molly Phee, principal autoridade do Departamento de Estado dos EUA para assuntos africanos.
De acordo com o premiê, a autoridade norte-americana teria contestado a aproximação entre o governo militar nigerino e a Rússia, determinando também o fim do diálogo entre a nação africana e o Irã. Se não fosse atendida, o acordo de segurança entre Níger e EUA seria cancelado. Zeine, então, optou por romper ele mesmo o pacto e expulsar as tropas norte-americanas.
As últimas bases que ainda eram ocupadas por tropas norte-americanas foram esvaziadas no mês passado, de acordo com Sing. Até então, um pequeno destacamento de militares seguia nas instalações para realização de tarefas administrativas, mas esses também foram embora. Hoje, permanecem no país africano apenas os integrantes das Forças Armadas encarregados de proteger a embaixada.
Rússia substitui aliados ocidentais
A saída das tropas norte-americanas deixa o terreno livre para os russos, que vêm colhendo os frutos da crise democrática que se instalou na África, com uma sucessão de golpes de Estado que colocaram no poder juntar militares alinhadas com o Kremlin. Após Burkina Faso e Mali, o Níger foi palco da tomada de poder mais recente, em julho de 2023.
Uma das medidas do governo militar liderado pelo general Abdourahamane Tchiani foi romper acordos de segurança com França e EUA, determinando que as tropas dos dois países se retirassem. A relação entre Níger e Rússia foi uma das causas da crise entre o país africano e Washington, de acordo com o primeiro-ministro apontado pelos militares para governar o país.
A aliança com Moscou, ao contrário daquela com Washington, não se faz através das Forças Armadas regulares, e sim de de mercenários. O Wagner Group foi quem primeiro se estabeleceu no continente, mas vem sendo desfeito desde a morte de seu líder, Evgeny Prigozhin.
Outros grupos surgiram nos mesmos moldes, e quem melhor se posiciona para assumir o espólio do antecessor é uma organização paramilitar privada chamada “The Africa Corps“, atrelada ao Ministério da Defesa russo, embora não seja integrada às Forças Armadas.
O porta-voz militar do Níger, coronel major Amadou Abdramane, confirmou em junho a parceria com a Rússia, mas disse que ela foi negociada “sob uma base estatal, conforme acordos de cooperação militar assinados com o governo anterior (pré-golpe), para adquirir equipamento militar necessário à sua luta contra os terroristas que fizeram milhares de vítimas nigerinas inocentes sob o olhar indiferente de grande parte da comunidade internacional.”
Para Moscou, a África representa ainda uma fonte de renda crucial, conforme o país se afoga nos gastos com a guerra da Ucrânia. A Rússia faturou, somente desde o início do conflito, US$ 2,5 bilhões com ouro de países africanos.