Força Aérea da Etiópia destrói barragem e compromete geração de energia no país

Usina abastecia diversas áreas do norte do país e foi destruída em meio à resposta do governo à ação armada dos rebeldes de Tigré

A destruição de uma hidrelétrica após um ataque aéreo das forças etíopes, nesta quarta-feira (1°), contra rebeldes em Tigré, deve impactar severamente na distribuição de energia no país nos próximos meses. A barragem era responsável pelo abastecimento de diversas áreas do norte do país, informou o portal independente Garowe Online.

A usina foi bombardeada em meio aos conflitos na região do Chifre da África entre as forças de segurança nacionais da Etiópia e a TPLF (Frente de Libertação do Povo Tigré), partido político com um braço armado que faz reivindicações separatistas. O primeiro-ministro Abiy Ahmed se juntou pessoalmente ao front de batalha, em meio às seguidas derrotas das forças do governo e ao avanço rebelde rumo à capital Adis Abeba.

Destruição da usina deve comprometer abastecimento e resultar em apagões nos próximos meses (Foto: Twitter/Reprodução)

Em comunicado, o gabinete do premiê etíope disse que suas ações “não negam a necessidade de paz”, apenas que o exército está confrontando um grupo que o líder rotula como terrorista, relatou o portal All Africa.

“A decisão do primeiro-ministro de se juntar ao exército no campo de batalha não significa, em princípio, uma mudança da posição do governo por uma solução pacífica para o conflito. Em vez disso, ele está evitando a conspiração de organizações terroristas e seus aliados estrangeiros”, justifica a nota oficial.

A queda da barragem ocorre em meio a alegações das forças de defesa de Tigré, uma organização ligada à TPLF, de que Adis Abeba também cortou a rede de telecomunicações da região após ter destruído uma infraestrutura no norte da Etiópia, ocorrida no início da guerra, em novembro de 2020.

O porta-voz dos insurgentes, Getachew Reda, condenou o ataque. “O regime moribundo de Abiy Ahmed fará o que puder para destruir qualquer coisa que possa beneficiar o povo de Tigré”, declarou.

O comunicado do gabinete do primeiro-ministro também anunciou que forças pró-governo recuperaram a cidade histórica de Lalibela, classificada pela Unesco como patrimônio mundial. O local havia sido conquistado por rebeldes do Tigré e, desde então, estava imersa em conflitos. “Lalibela foi libertada, e a ocupação do TPLF, eliminada”, relatou a nota.

As forças de segurança nacionais, com apoio de aliados, também lançou ataques que visam à retomada de territórios na região de Amhara. O conjunto de ofensivas, que teve envolvimento da Força Aérea, recapturou Gashena, Arbit, Dubko, Molale, Mezezo, Degolo, Were Ilu, Aketsa e Shewa Robit.

Por que isso importa?

A região de Tigré, no extremo norte da Etiópia, está imersa em conflitos desde novembro, quando disputas eleitorais levaram Addis Abeba a determinar a tomada das instituições locais. A disputa opõe a TPLF (Frente de Libertação do Povo Tigré), partido político com um braço armado, às forças de segurança nacionais da Etiópia.

Os militares chegaram a reconquistar Tigré, mas os rebeldes viraram o jogo e começaram a ganhar território. No final de junho, eles anunciaram um processo de “limpeza” para retomar integralmente o controle da região e assumiram o comando de Mekelle, a capital regional.

Pouco após a derrota do exército, o governo da Etiópia decretou um cessar-fogo e deixou Tigré. Os soldados do exército aliada Eritreia também deixaram de ser vistos por lá. Posteriormente, com o avanço dos rebeldes e a conquista das regiões vizinhas de Afar e Amhara, o exército foi enviado novamente para apoiar as tropas locais.

Durante o conflito, a TPLF se aliou ao OLA (Exército de Libertação Oromo, da sigla em inglês), que no ano passado se desvinculou do partido político homônimo e passou a defender de maneira independente a etnia Oromo, a maior da Etiópia.

A coalizão passou superar o exército nos confrontos armados e atualmente ruma para a capital. A chegada a Adis Abeba pode representar a vitória derradeira dos rebeldes, o que levou o governo a convocar a população para pegar em armas em defesa da soberania nacional.

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