General convoca tuaregues para que se juntem ao exército do Mali na luta contra o EI

El Hadj Ag Gamou é um importante militar malinês na luta contra o extremismo e lidera também um grupo armado tuaregue

O general El Hadj Ag Gamou, uma importante figura das forças armadas do Mali na luta contra o extremismo islâmico no país, convocou os tuaregues para que se juntem aos militares no combate ao Estado Islâmico do Grande Saara (EIGS). As informações são do site The Defense Post.

Os tuaregues são um povo semi-nômade que se concentra na parte alta do deserto do Saara e é composto por várias sub-comunidades. O grupo se espalha por diversos países africanos, sobretudo Mali, Argélia, Níger e Líbia.

Gamou, ele próprio membro da comunidade tuaregue, convocou os jovens do grupo a se reunirem “em dez dias” na cidade malinesa de Gao, no nordeste do país, um dos principais focos da insurgência islâmica por lá.

Grupos separatistas compostos sobretudo por tuaregues chegaram a declarar a independência de um território no norte do Mali em 2012. O episódio gerou confrontos com o governo central, e a paz foi restabelecida em 2015 após a assinatura de um acordo de paz.

Militantes tuaregues armados no norte do Mali (Foto: WikiCommons)

O próprio Gamou lidera um a importante organização tuaregue aliada ao governo malinês, o Grupo de Autodefesa dos Imghad Tuaregues e Seus Aliados (GATIA). A junta militar que governa o país atualmente ainda não se pronunciou sobre a manifestação do general.

A convocação ocorre em meio ao aumento da influência do EIGS no continente. Os extremistas, filiados ao Estado Islâmico (E) do Iraque e da Síria, lideram uma grande frente armada que engloba outras facções armadas, todas agora sobre a tutela da principal organização islâmica ativa no Mali.

Por que isso importa?

O Mali vive um período de instabilidade que começou com o golpe de Estado em 2012, quando vários grupos rebeldes e extremistas tomaram o poder no norte do país. De quebra, a nação, independente desde 1960, viveu em maio de 2021 o terceiro golpe de Estado em um intervalo de apenas dez anos, seguindo o que já havia ocorrido em 2012 e também em 2020.

A mais recente turbulência política começou semanas antes do golpe, com a demissão do primeiro-ministro Moctar Ouane pelo presidente Bah Ndaw. Reconduzido ao cargo pouco depois, Ouane não conseguiu formar um novo governo, e a tensão aumentou com a falta de pagamento dos salários dos professores. O maior sindicato da categoria, então, começou a se preparar para uma greve.

Veio a noite do dia 24 de maio, quando o coronel Assimi Goita, vice-presidente do país, destituiu Ndaw e Ouane de seus cargos e ordenou a prisão de ambos na capital Bamako. Segundo ele, os dois líderes civis violaram a carta de transição ao não consultarem o militar na formação do novo governo.

Ao contrário do que ocorreu em golpes anteriores, que contaram com apoio popular, desta vez a maior parte da população malinesa rejeitou a tomada de poder por Goita, que derrubou o governo de transição recém-instituído e assumiu o comando do país. A população civil não foi às ruas protestar contra o militar, mas usou as redes sociais para mostrar sua insatisfação.

Em meio à instabilidade política, cresceu no país a presença de grupos jihadistas ligados à Al-Qaeda e principalmente ao EI, o que levou a uma explosão da violência nos confrontos entre extremistas e militares, com milhares de civis entre as vítimas.

Os conflitos, antes concentrados no norte do Mali, se expandiram inclusive para os vizinhos Burkina Faso e Níger. Assim, a região central maliana se tornou um dos pontos mais violentos de todo o Sahel africano, com frequentes assassinatos étnicos e ataques extremistas contra as forças do governo.

A situação torna-se ainda mais delicada devido à retirada das tropas da França, que até agosto deste ano colaboravam com o governo nacional nas operações de contraterrorismo. A decisão de Paris gera dúvidas quanto à capacidade de o país africano sustentar os avanços obtidos na luta contra os insurgentes.

Quem assumiu o vácuo dos franceses foi o Wagner Group, um grupo russo de mercenários que firmou acordo de cooperação com Goita. Fontes sustentam que o pagamento pelos serviços da organização russa seria de US$ 10,8 milhões por mês, dinheiro que viria da extração de minerais.

Segundo o general francês Laurent Michon, comandante da Operação Bakhane das forças armadas da França, a retirada de suas tropas não tem nenhuma relação com a chegada dos mercenários, como se especulava. Ele diz que o governo militar maliano desde o início deixou claro seu desejo de “nos ver partir sem demora”.

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