Jihadistas armam emboscada em rodovia e matam 14 soldados do exército do Mali

Forças armadas afirmaram no Twitter que 31 agressores foram mortos no confronto, que também feriu 11 militares

Um confronto entre membros das forças de segurança do Mali e jihadistas deixou 14 soldados mortos na terça-feira (10), na região central do país africano. Detalhes do ocorrido foram confirmados pela polícia e pelas forças armadas somente no dia seguinte.

Os extremistas armaram uma emboscada contra um comboio militar, em uma estrada entre as cidades de Mopti e Segou. Eles iniciaram o ataque com dispositivos explosivos improvisados (IEDs, na sigla em inglês), e na sequência houve troca de tiros, de acordo com o site The Defense Post

As informações iniciais indicavam que 12 militares e sete terroristas haviam morrido. Porém, as forças armadas malianas divulgaram um comunicado no Twitter posteriormente e atualizaram os números: 14 soldados mortos, 11 feridos e um veículo destruído, além de 31 extremistas mortos e um detido.

Segundo o texto, uma operação aérea foi realizada na sequência do ataque, inclusive com a presença de um drone, e permitiu aos militares a “neutralização” de 14 dos 31 agressores mortos.

Um oficial do exército afirmou que um dos militares mortos chegou a ser socorrido e levado ao hospital com ferimentos graves, mas não resistiu. Entre as vítimas fatais do confronto está o capitão que liderava o comboio militar.

Soldados do exército do Mali durante o golpe de Estado de 2012 (Foto: Wikimedia Commons)
Por que isso importa?

O Mali vive um período de instabilidade que começou com o golpe de Estado em 2012, quando vários grupos rebeldes e extremistas tomaram o poder no norte do país. De quebra, a nação, independente desde 1960, viveu em maio de 2021 o terceiro golpe de Estado em um intervalo de apenas dez anos, seguindo o que já havia ocorrido em 2012 e também em 2020.

A mais recente turbulência política começou semanas antes do golpe, com a demissão do primeiro-ministro Moctar Ouane pelo presidente Bah Ndaw. Reconduzido ao cargo pouco depois, Ouane não conseguiu formar um novo governo, e a tensão aumentou com a falta de pagamento dos salários dos professores. O maior sindicato da categoria, então, começou a se preparar para uma greve.

Veio a noite do dia 24 de maio, quando o coronel Assimi Goita, vice-presidente do país, destituiu Ndaw e Ouane de seus cargos e ordenou a prisão de ambos na capital Bamako. Segundo ele, os dois líderes civis violaram a carta de transição ao não consultarem o militar na formação do novo governo.

Ao contrário do que ocorreu em golpes anteriores, que contaram com apoio popular, desta vez a maior parte da população malinesa rejeitou a tomada de poder por Goita, que derrubou o governo de transição recém-instituído e assumiu o comando do país. A população civil não foi às ruas protestar contra o militar, mas usou as redes sociais para mostrar sua insatisfação.

Em meio à instabilidade política, cresceu no país a presença de grupos jihadistas ligados à Al-Qaeda e principalmente ao Estado Islâmico (EI), o que levou a uma explosão da violência nos confrontos entre extremistas e militares, com milhares de civis entre as vítimas.

Os conflitos, antes concentrados no norte do Mali, se expandiram inclusive para os vizinhos Burkina Faso e Níger. Assim, a região central maliana se tornou um dos pontos mais violentos de todo o Sahel africano, com frequentes assassinatos étnicos e ataques extremistas contra as forças do governo.

A situação torna-se ainda mais delicada devido à retirada das tropas da França, que até agosto deste ano colaboravam com o governo nacional nas operações de contraterrorismo. A decisão de Paris gera dúvidas quanto à capacidade de o país africano sustentar os avanços obtidos na luta contra os insurgentes.

Quem assumiu o vácuo dos franceses foi o Wagner Group, um grupo russo de mercenários que firmou acordo de cooperação com Goita. Fontes sustentam que o pagamento pelos serviços da organização russa seria de US$ 10,8 milhões por mês, dinheiro que viria da extração de minerais.

Segundo o general francês Laurent Michon, comandante da Operação Bakhane das forças armadas da França, a retirada de suas tropas não tem nenhuma relação com a chegada dos mercenários, como se especulava. Ele diz que o governo militar maliano desde o início deixou claro seu desejo de “nos ver partir sem demora”.

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