Um confronto entre membros das forças de segurança do Mali e jihadistas deixou 14 soldados mortos na terça-feira (10), na região central do país africano. Detalhes do ocorrido foram confirmados pela polícia e pelas forças armadas somente no dia seguinte.
Os extremistas armaram uma emboscada contra um comboio militar, em uma estrada entre as cidades de Mopti e Segou. Eles iniciaram o ataque com dispositivos explosivos improvisados (IEDs, na sigla em inglês), e na sequência houve troca de tiros, de acordo com o site The Defense Post
As informações iniciais indicavam que 12 militares e sete terroristas haviam morrido. Porém, as forças armadas malianas divulgaram um comunicado no Twitter posteriormente e atualizaram os números: 14 soldados mortos, 11 feridos e um veículo destruído, além de 31 extremistas mortos e um detido.
COMMUNIQUÉ N° 001 DE L'ÉTAT-MAJOR GÉNÉRAL DES ARMÉES DU 11 JANVIER 2023. pic.twitter.com/OepmYwuMVI
— Forces Armées Maliennes (@FAMa_DIRPA) January 11, 2023
Segundo o texto, uma operação aérea foi realizada na sequência do ataque, inclusive com a presença de um drone, e permitiu aos militares a “neutralização” de 14 dos 31 agressores mortos.
Um oficial do exército afirmou que um dos militares mortos chegou a ser socorrido e levado ao hospital com ferimentos graves, mas não resistiu. Entre as vítimas fatais do confronto está o capitão que liderava o comboio militar.
Por que isso importa?
O Mali vive um período de instabilidade que começou com o golpe de Estado em 2012, quando vários grupos rebeldes e extremistas tomaram o poder no norte do país. De quebra, a nação, independente desde 1960, viveu em maio de 2021 o terceiro golpe de Estado em um intervalo de apenas dez anos, seguindo o que já havia ocorrido em 2012 e também em 2020.
A mais recente turbulência política começou semanas antes do golpe, com a demissão do primeiro-ministro Moctar Ouane pelo presidente Bah Ndaw. Reconduzido ao cargo pouco depois, Ouane não conseguiu formar um novo governo, e a tensão aumentou com a falta de pagamento dos salários dos professores. O maior sindicato da categoria, então, começou a se preparar para uma greve.
Veio a noite do dia 24 de maio, quando o coronel Assimi Goita, vice-presidente do país, destituiu Ndaw e Ouane de seus cargos e ordenou a prisão de ambos na capital Bamako. Segundo ele, os dois líderes civis violaram a carta de transição ao não consultarem o militar na formação do novo governo.
Ao contrário do que ocorreu em golpes anteriores, que contaram com apoio popular, desta vez a maior parte da população malinesa rejeitou a tomada de poder por Goita, que derrubou o governo de transição recém-instituído e assumiu o comando do país. A população civil não foi às ruas protestar contra o militar, mas usou as redes sociais para mostrar sua insatisfação.
Em meio à instabilidade política, cresceu no país a presença de grupos jihadistas ligados à Al-Qaeda e principalmente ao Estado Islâmico (EI), o que levou a uma explosão da violência nos confrontos entre extremistas e militares, com milhares de civis entre as vítimas.
Os conflitos, antes concentrados no norte do Mali, se expandiram inclusive para os vizinhos Burkina Faso e Níger. Assim, a região central maliana se tornou um dos pontos mais violentos de todo o Sahel africano, com frequentes assassinatos étnicos e ataques extremistas contra as forças do governo.
A situação torna-se ainda mais delicada devido à retirada das tropas da França, que até agosto deste ano colaboravam com o governo nacional nas operações de contraterrorismo. A decisão de Paris gera dúvidas quanto à capacidade de o país africano sustentar os avanços obtidos na luta contra os insurgentes.
Quem assumiu o vácuo dos franceses foi o Wagner Group, um grupo russo de mercenários que firmou acordo de cooperação com Goita. Fontes sustentam que o pagamento pelos serviços da organização russa seria de US$ 10,8 milhões por mês, dinheiro que viria da extração de minerais.
Segundo o general francês Laurent Michon, comandante da Operação Bakhane das forças armadas da França, a retirada de suas tropas não tem nenhuma relação com a chegada dos mercenários, como se especulava. Ele diz que o governo militar maliano desde o início deixou claro seu desejo de “nos ver partir sem demora”.