Líder de milícia que enfrenta o Exército no Sudão admite negociar cessar-fogo

Encontro entre os comandantes rivais está sendo negociado e pode encerrar a guerra, mas ainda não tem data para acontecer

O conflito civil que arrasou o Sudão nos últimos nove meses tem uma perspectiva de encerramento no horizonte. Mohamed Hamdan Daglo, que lidera a milícia armada Forças de Apoio Rápido (RSF, na sigla em inglês), disse nesta semana que aceita negociar com as Forças Armadas Sudanesas (SAF, na sigla em inglês) um cessar-fogo com efeito imediato. As informações são da agência Associated Press (AP).

Daglo manifestou em duas oportunidades nos últimos dias a intenção de encerrar o conflito. A mais recente ocorreu graças à mediação do presidente sul-africano Cyril Ramaphosa, com quem o paramilitar se reuniu na quinta-feira (4).

“Enfatizei o nosso compromisso inabalável de cessar as hostilidades”, disse Daglo, destacando que atualmente têm sido feitos “esforços consideráveis para encerrar a guerra.”

O general Mohamed Hamdan Daglo, conhecido como Hemedti, líder de uma das facções envolvidas no conflito no Sudão (Foto: Twitter pessoal)

De acordo com Ramaphosa, um encontro colocaria frente a frente Daglo e a contraparte dele nas Forças Armadas, o general Abdel Fattah al-Burhan. Entretanto, uma data ou um local para o evento que pode colocar fim à guerra ainda não foram estabelecidos.

Daglo fez discurso semelhante dias antes, segundo a agência Reuters, durante uma série de visitas a países africanos para debater o fim do conflito. A viagem diplomática faz parte dos esforços liderados pelos EUA e pela Arábia Saudita para encerrar as hostilidades iniciadas em abril do ano passado e que fizeram do Sudão o palco da maior crise de deslocamento forçado do mundo.

Dados da ONU (Organização das Nações Unidas) indicam que mais de 12 mil pessoas morreram devido aos combates, com mais de sete milhões obrigadas a deixar suas casas para escapar da violência. São igualmente frequentes as denúncias de crimes de guerra cometidos por combatentes das duas facções.

Por que isso importa?

O Sudão vive um violento conflito armado que coloca frente a frente dois generais que comandam o país africano desde o golpe de Estado de 2021: Abdel Fattah al-Burhan, chefe das SAF, e Mohamed Hamdan “Hemedti” Daglo, à frente da milícia das RSF.

As tensões decorrem de divergências sobre a incorporação dos combatentes das RSF às Forças Armadas, o que levou a milícia a se insurgir. Hemedti tem entre 70 mil e cem mil homens sob seu comando, de acordo com a rede Deutsche Welle (DW), enquanto al-Burhan lidera um efetivo de cerca de 200 mil.

No dia 16 de abril, um domingo, explosões puderam ser ouvidas no centro da capital Cartum, mais precisamente no entorno do quartel-general militar do Sudão e do palácio presidencial, locais estratégicos reivindicados tanto por militares quanto pelas RSF.

O aeroporto internacional da capital, tomado pela milícia, foi bombardeado com civis dentro. Aeronaves foram destruídas, e caças da Força Aérea sudanesa e tanques foram usados contra os paramilitares.

Embora as SAF sejam mais bem equipadas e em maior número, as RSF são igualmente bem treinadas, o que equilibra as ações. O balanço de forças apenas prolonga as hostilidades e a violência decorrente, com nenhum dos dois lados conseguindo se impor sobre o inimigo.

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