Mais de 50 pessoas morrem em possível ataque terrorista em Burkina Faso

Entre as vítimas estão 17 soldados das forças armadas do país africano e dezenas de voluntários que serviam a uma milícia armada pró-governo

Um ataque atribuído a jihadistas matou mais de 50 integrantes das forças de segurança de Burkina Faso na segunda-feira (4), segundo informações fornecidas pelo exército no dia seguinte. A violência ocorreu na comuna de Koumbri, província de Yatenga, norte do país africano.

As vítimas são 17 soldados das forças armadas burquinenses e dezenas de combatentes voluntários de uma milícia armada ligada ao governo. Após o ataque, as forças de segurança iniciaram uma operação para expulsar os jihadistas de Koumbri e alegam ter matado “dezenas deles”.

“Este ato de extrema covardia não ficará impune. Todos os esforços estão sendo feitos para neutralizar os elementos terroristas restantes em fuga”, afirma comunicado do governo cujo conteúdo foi parcialmente reproduzido pela agência Associated Press (AP).

Com base no número de mortos, este é um dos piores ataques registrados no país desde setembro do ano passado, quando o capitão Ibrahim Traoré assumiu o poder no segundo golpe de Estado registrado no país em um intervalo inferior a 12 meses.

Não está claro qual grupo foi responsável pelo ataque de segunda, mas Burkina Faso enfrenta um levante jihadista de grupos ligados tanto à Al-Qaeda quanto ao Estado Islâmico (EI). Segundo relatório do Centro Africano de Estudos Estratégicos, o número de vítimas do terrorismo quase triplicou no país desde o primeiro golpe, em janeiro do ano passado.

“Esta violência, juntamente com a propagação geográfica das atividades extremistas que efetivamente rodeiam Uagadugu (a capital nacional), coloca Burkina Faso mais do que nunca à beira do colapso”, afirma o documento.

Além das mortes, outro efeito da ação dos extremistas é o deslocamento forçado de pessoas que deixam suas casas para fugir da violência, como ocorreu em Koumbri.

“Embora as forças estatais tentem recapturar algumas áreas e criar um ambiente para o regresso das pessoas deslocadas, este ataque colocou ainda mais pressão sobre outras localidades importantes na área, como a capital regional Ouahigouya”, disse Rida Lyammouri, pesquisador sênior do think tank Centro de Políticas para o Novo Sul, de Marrocos.

Soldados das forças de Burkina Faso durante exercício militar (Foto: WikiCommons)
Por que isso importa?

Burkina Faso convive desde 2015 com a violência de grupos terroristas, insurgência que levou a um conflito com as forças de segurança e matou milhares de pessoas. Facções armadas lançam ataques ao exército e a civis, desafiando também a presença de tropas estrangeiras.

Os ataques costumavam se concentrar no norte e no leste, mas agora estão se alastrando por todo o país, com quase metade do território nacional fora do controle do governo central. Assim, Burkina Faso superou Mali e Níger como epicentro da violência jihadista na região.

pior ataque extremista já registrado em Burkina Faso ocorreu em 5 de junho de 2021, quando insurgentes incendiaram casas e atiraram em civis ao invadirem a vila de Solhan, no norte. Na ocasião, 160 pessoas morreram.

Após um período de relativa calmaria, a violência aumentou no último ano, após a tomada do poder no país por uma junta militar em janeiro de 2022. Oficiais descontentes derrubaram o presidente eleito Roch Marc Christian Kabore, que enfrentava protestos pela forma como combatia a sangrenta insurgência jihadista. Mais tarde, em setembro, um segundo golpe levou a nova mudança no poder, com o capitão Ibrahim Traoré assumindo o governo central. A instabilidade só faz crescer o problema da insurgência.

Para especialistas, os extremistas decidiram aproveitar a divisão pública no país. “Os novos ataques sinalizam uma onda crescente de militância no norte de Burkina Faso e levantam preocupações sobre o alcance crescente de grupos terroristas que, sem dúvida, estão dificultando ainda mais o trabalho da junta de proteger o país”, disse Laith Alkhouri, CEO da Intelonyx Intelligence Advisory, uma empresa que realiza análises no setor de inteligência.

A situação tornou ainda mais delicada em 2023, após a França acatar um pedido do governo central burquinense e retirar suas tropas da nação africana. Paris mantinha entre 200 e 400 membros de suas forças especiais por lá, parte da Operação Barkhane de combate ao extremismo no Sahel.

A violência descontrolada gerou uma crise humanitária que forçou mais de dois milhões de pessoas a fugir de suas casas, com milhares de mortes ligadas ao conflito. Estima-se que quase cinco milhões de pessoas sofram de insegurança alimentar em Burkina Faso, três milhões delas no estágio agudo.

No Brasil

Casos mostram que o Brasil é um porto seguro para extremistas. Em dezembro de 2013, levantamento do site The Brazil Business indicava a presença de ao menos sete organizações terroristas no Brasil: Al-Qaeda, Jihad Media Battalion, Hezbollah, Hamas, Jihad Islâmica, Al-Gama’a Al-Islamiyya e Grupo Combatente Islâmico Marroquino.

Em 2001, uma investigação da revista Veja mostrou que 20 membros terroristas de Al-Qaeda, Hamas e Hezbollah viviam no país, disseminando propaganda terrorista, coletando dinheiro, recrutando novos membros e planejando atos violentos.

Em 2016, duas semanas antes do início dos Jogos Olímpicos no Rio, a PF prendeu um grupo jihadista islâmico que planejava atentados semelhantes aos dos Jogos de Munique em 1972. Dez suspeitos de serem seguidores do EI foram presos e dois fugiram.

Mais recentemente, em dezembro de 2021, três cidadãos estrangeiros que vivem no Brasil foram adicionados à lista de sanções do Tesouro Norte-americano. Eles são acusados de contribuir para o financiamento da Al-Qaeda, tendo inclusive mantido contato com figuras importantes do grupo terrorista.

Para o tenente-coronel do Exército Brasileiro André Soares, ex-agente da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), o anúncio do Tesouro causa “preocupação enorme”, vez que confirma a presença do país no mapa das organizações terroristas islâmicas.

“A possibilidade de atentados terroristas em solo brasileiro, perpetrados não apenas por grupos extremistas islâmicos, mas também pelo terrorismo internacional, é real”, diz Soares, mestre em operações militares e autor do livro “Ex-Agente Abre a Caixa-Preta da Abin” (editora Escrituras).

Ele acrescenta: “O Estado e a sociedade brasileira estão completamente vulneráveis a atentados terroristas internacionais e inclusive domésticos, exatamente em razão da total disfuncionalidade e do colapso da atual estrutura de Inteligência de Estado vigente no país”. Saiba mais.

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