O governo do Mali solidificou ainda mais sua aliança com a Rússia ao anunciar na segunda-feira (5) a ruptura dos laços diplomáticos com a Ucrânia. A junta militar que governa a nação africana acusa Kiev de participação em uma ação que terminou com a morte de dezenas de mercenários do Wagner Group no mês passado. As informações são da rede Al Jazeera.
No final de julho, ao menos 50 mercenários morreram em um violento confronto no Mali. O grupo paramilitar teria sofrido uma emboscada realizada por uma facção rebelde formada por tuaregues e por membros do Jamaat Nasr al-Islam wal Muslimin (JNIM), grupo extremista islâmico ligado à Al-Qaeda.
O número de baixas é incerto. Enquanto fontes ligadas ao Wagner falam em cerca de 50 vítimas fatais, entre mercenários, soldados malineses e civis, o JNIM diz que matou 84 membros da organização paramilitar privada russa, parceira do governo do Mali no setor de segurança.
Depois do ataque, Andriy Yusov, porta-voz da agência de inteligência militar da Ucrânia (GUR), sugeriu que seu governo colaborou com os rebeldes. Segundo ele, os grupos que emboscaram os mercenários receberam previamente “todas as informações de que precisavam, o que lhes permitiu realizar sua operação contra os criminosos de guerra russos.”
Em resposta, a junta militar que governa a nação africana se disse “profundamente chocada” e afirmou que a declaração de Yusov confirma o “envolvimento da Ucrânia em um ataque covarde, traiçoeiro e bárbaro por grupos terroristas armados que resultou na morte de membros das Forças de Defesa e Segurança do Mali.”
Diante de tal cenário, Bamako anunciou a ruptura diplomática “com efeito imediato”, conforme declarou o coronel Abdoulaye Maiga, porta-voz do governo. Ele ainda acusou a Ucrânia de violar a soberania malinesa e de apoiar o terrorismo internacional com sua ajuda aos rebeldes e aos extremistas.
Representantes russos na África
Mesmo após a morte de fundador e líder Evgeny Prigozhin, em 23 de agosto de 2023. o Wagner Group segue ativo na África devido à importância estratégica do continente para o Kremlin. Trata-se de uma fonte de renda crucial para o país, afogado nos gastos com a guerra da Ucrânia. Moscou faturou, somente desde o início do conflito, US$ 2,5 bilhões com ouro de países africanos.
A Rússia ainda mantém laços políticos e econômicos históricos com vários países africanos, que vêm desde a Guerra Fria. Nos últimos anos, tais relações se fortaleceram, inclusive com acordos militares entre Moscou e alguns regimes, envolvendo vendas de armas, treinamento de forças locais e, em alguns casos, o estabelecimento de instalações russas.
No Mali, em particular, os mercenários têm a missão de combater a insurgência islâmica, assim como o fazem em nações vizinhas como Burkina Faso e Níger. Além da intensa presença russa, esses três países africanos guardam outra semelhança, pois são atualmente governados por juntas militares.