Milícia somali diz que matou 45 membros do Al-Shabaab e decapitou alguns deles

Insatisfeitos com a seca histórica, a violência extremista e a incapacidade do governo central, civis pegam em armas para defender suas terras

Membros de uma milícia aliada ao governo da Somália dizem ter matado, no sábado (17), 45 membros do Al-Shabaab, grupo extremista ligado à Al-Qaeda no país africano. Alguns dos insurgentes teriam sido decapitados, segundo informações da agência Reuters.

“O Al-Shabaab não é forte, apenas queima pessoas, decapita pessoas e coloca suas cabeças nas ruas para aterrorizar”, disse Ahmed Abdulle, um líder local da cidade de Hiran, onde ocorreu o confronto. “Agora, estamos fazendo o mesmo: ordenamos a decapitação de combatentes do Al-Shabaab”.

Os episódios de sábado (17) foram gravados, e vídeos de ao menos dois combatentes do Al-Shabaab sendo decapitados foram compartilhados no aplicativo de mensagens Telegram.

O Estado de Hirshabelle, onde fica Hiran, testemunha um aumento da ação de milícias civis apoiadas pelo governo somali. A violência na região, somada à pior seca em 40 anos e à incapacidade do poder central de solucionar o problema do extremismo islâmico, levam cada vez mais civis a pegarem em armas.

Episódios semelhantes foram reportados no Estado vizinho de Galmudug, onde a população também formou grupos armados de resistência aos insurgentes. “Nesta semana recapturamos nove aldeias”, disse Ahmed Shire, ministro regional da Informação. “É uma grande revolução no Estado de Galmudug”.

Recentemente, o presidente Hassan Sheikh Mohamud prometeu que “o Al-Shabaab será confrontado usando todos os métodos que a guerra permitir”. Ele, inclusive, recomendou à população civil que não seja pega no fogo cruzado e deixe as áreas comandadas pelos extremistas. “Eles serão bombardeados, invadidos e submetidos a ataques aéreos. Então, fique longe deles”.

Soldados do exército da Somália em ação contra o Al-Shabaab, agosto de 2012 (Foto: AMISOM/Flickr)
Por que isso importa?

O Al-Shabaab chegou a controlar a capital Mogadíscio até 2011, quando foi expulso de lá pelas forças da União Africana. Atualmente, controla territórios nas áreas rurais da Somália e luta para derrubar o governo nacional, tendo inclusive se expandido para a vizinha Etiópia.

O grupo concentra seus ataques no sul e no centro da Somália. As atividades envolvem ataques a órgãos e oficiais do governo e a entidades de ajuda humanitária, além de extorsão contra a população local e proteção de terroristas internacionais que se escondem no país.

Um relatório do International Crisis Group (Grupo de Crise Internacional, em tradução literal), cuja meta é prevenir guerras em todo o mundo, diz que derrotar o Al-Shabaab é uma tarefa complexa devido à quantidade de seguidores em território somali, algo na casa dos cinco mil. Assim, a melhor estratégia para o governo somali seria a negociação

“Combinada com a disfunção e a divisão entre seus adversários, a agilidade dos militantes permitiu que se inserissem na sociedade somali”, diz o documento. “Há um crescente consenso nacional e internacional de que o Al-Shabaab não pode ser derrotado apenas por meios militares”.

O relatório, porém, afirma que a diplomacia não vem sendo considerada pelo governo. “Há pouco apetite entre as elites somalis ou os parceiros internacionais do país para explorar alternativas, principalmente conversas com líderes militantes”. E acrescenta: “A alternativa é mais luta sem um fim à vista”.

Militarmente, a luta contra o Al-Shabaab conta também com o suporte dos EUA, que anunciaram em 2022 o envio de cerca de 500 soldados à Somália. O governo norte-americano havia decidido retirar suas tropas do país durante o governo do presidente Donald Trump, mas Joe Biden reativou a missão.

No Brasil

Casos mostram que o Brasil é um porto seguro para extremistas. Em dezembro de 2013, levantamento do site The Brazil Business indicava a presença de ao menos sete organizações terroristas no Brasil: Al Qaeda, Jihad Media Battalion, Hezbollah, Hamas, Jihad Islâmica, Al-Gama’a Al-Islamiyya e Grupo Combatente Islâmico Marroquino.

Em 2001, uma investigação da revista VEJA mostrou que 20 membros terroristas de Al-Qaeda, Hamas e Hezbollah viviam no país, disseminando propaganda terrorista, coletando dinheiro, recrutando novos membros e planejando atos violentos.

Em 2016, duas semanas antes do início dos Jogos Olímpicos no Rio, a PF prendeu um grupo jihadista islâmico que planejava atentados semelhantes aos dos Jogos de Munique em 1972. Dez suspeitos de serem aliados ao Estado Islâmico foram presos e dois fugiram.

Mais recentemente, em dezembro de 2021, três cidadãos estrangeiros que vivem no Brasil foram adicionados à lista de sanções do Tesouro Norte-americano. Eles são acusados de contribuir para o financiamento da Al-Qaeda, tendo inclusive mantido contato com figuras importantes do grupo terrorista.

Para o tenente-coronel do Exército Brasileiro André Soares, ex-agente da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), o anúncio do Tesouro causa “preocupação enorme”, vez que confirma a presença do país no mapa das organizações terroristas islâmicas.

“A possibilidade de atentados terroristas em solo brasileiro, perpetrados não apenas por grupos extremistas islâmicos, mas também pelo terrorismo internacional, é real”, diz Soares, mestre em operações militares e autor do livro “Ex-Agente Abre a Caixa-Preta da Abin” (editora Escrituras). “O Estado e a sociedade brasileira estão completamente vulneráveis a atentados terroristas internacionais e inclusive domésticos, exatamente em razão da total disfuncionalidade e do colapso da atual estrutura de Inteligência de Estado vigente no país”. Saiba mais.

Tags: