Na Somália, 213 mil pessoas estão ameaçadas de morrer por desnutrição aguda

Seca, insegurança, guerra na Ucrânia, crise climática e pandemia colocam o país africano em uma crise sem precedentes

Milhares de famílias enfrentam a fome na Somália, com cerca de 213 mil pessoas ameaçados de morrer por desnutrição aguda no país africano. Quatro temporadas de chuva fracassadas, insegurança, os efeitos da guerra na Ucrânia, a crise climática e as consequências econômicas da pandemia colocaram a nação em uma crise sem precedentes.

A Somália se prepara para a quinta temporada consecutiva sem chuvas, entre outubro e dezembro. Cerca de 7,8 milhões de pessoas afetadas pela seca, ou metade da população, precisam de assistência humanitária para sobreviver. Confira nove fatos que você precisa saber sobre a crise na Somália e como é possível ajudar:

Mulher atravessa cena árida da Somália, em 2018 (Foto: PNUD Somália)
1. Situação é muito pior que crises anteriores

A atual seca da Somália ultrapassou as secas de 2010 e 2016 em termos de duração e gravidade. Três milhões de animais, dos quais famílias rurais dependem para sua subsistência, já morreram. Quatro estações chuvosas consecutivas fracassadas, que é um evento climático não visto em pelo menos 40 anos, forçaram cerca de um milhão de pessoas a deixar suas casas para encontrar um meio de sobrevivência.

2. Preços dos alimentos dispararam e fome está aumentando

A Somália depende da Rússia e da Ucrânia para mais de 90% de seus suprimentos de trigo. Os efeitos colaterais da guerra entre os países, como a escassez de insumos agrícolas e o aumento dos custos dos combustíveis, fizeram subir os preços dos alimentos. O resultado é sentido especialmente entre as pessoas mais vulneráveis, agricultores de subsistência e populações em áreas afetadas por conflitos.

Pela primeira vez desde 2017, níveis catastróficos de insegurança alimentar foram confirmados em bolsões da Somália, com 213 mil pessoas em condições semelhantes à fome.

3. Crianças são as mais atingidas

Estima-se que 1,5 milhão de crianças e bebês na Somália enfrentam desnutrição aguda. Eles incluem mais de 386 mil crianças que provavelmente estarão gravemente desnutridas.

Crianças com desnutrição aguda grave ficam mais vulneráveis a doenças como cólera, pneumonia, malária e sarampo. Neste ano, pelo menos 730 crianças morreram em centros de nutrição em toda a Somália.

4. Falta de água agrava emergência de saúde e violência baseada em gênero

Cerca de 6,4 milhões de pessoas na Somália não têm acesso a água potável e saneamento, o que as torna mais vulneráveis a surtos de doenças. Neste ano, os casos de suspeita de diarreia aquosa aguda e cólera mais do que duplicaram. No ano passado, os casos suspeitos de sarampo quadruplicaram, afetando cerca de 13 mil pessoas, sendo quase 80% delas crianças.

Mulheres e meninas agora são forçadas a caminhar distâncias maiores para acessar água e abrigo. Isso aumenta a exposição à violência de gênero.

5. Humanitários agiram cedo para salvar vidas

Com base nas lições aprendidas em 2010 e 2016, os parceiros humanitários agiram rapidamente aos alertas precoces para a atual seca. Após o lançamento de análises indicando o risco de fome, os parceiros priorizaram as pessoas nas áreas de maior necessidade. Nos primeiros sete meses deste ano, mais de 5,3 milhões de pessoas afetadas pela seca receberam assistência humanitária.

6. Somalis estão lutando para superar o ritmo implacável das crises

Os esforços de construção de resiliência melhoraram a capacidade de enfrentamento frente à crise, mas a seca excepcionalmente prolongada entre 2020 e 2022 dificultou a recuperação das famílias entre os choques.

Ao mesmo tempo, muitas comunidades afetadas pela seca estão lutando para lidar com as consequências cumulativas de outros choques, incluindo a Covid-19 e os gafanhotos do deserto. Os conflitos também prejudicaram a liberdade de movimento das pessoas que tentam escapar da seca.

7. Tempo de resposta está se esgotando

O financiamento para a crise da Somália aumentou nos últimos meses e permitiu que os humanitários alcançassem mais de 5,3 milhões de pessoas neste ano. Mas é necessário mais financiamento para evitar a perda de vidas em larga escala, especialmente com a ameaça iminente de uma quinta estação chuvosa fracassada.

Os somalis que mais sofrem com a seca em curso são a face humana da crise climática global. Eles e o povo do Chifre da África estão sofrendo algumas das piores consequências das mudanças climáticas, mas emitem pouco ou nenhum dos gases de efeito estufa atribuídos ao aquecimento global. Essa cruel injustiça é especialmente mortal para comunidades que já vivem com recursos escassos e à beira da pobreza.

8. Foi possível evitar a fome antes, é possível evitar novamente

Nos últimos dez anos, o Chifre da África sofreu três secas severas. A seca de 2010, combinada com conflitos e dificuldades para alcançar as pessoas necessitadas, causou fome na Somália. Cerca de 250 mil pessoas morreram.

A seca de 2016 levou milhões de pessoas na região à beira da fome, o que só foi evitado por meio de uma resposta humanitária rápida e oportuna. Financiamento suficiente, alerta precoce e ação, uma resposta coordenada, acesso humanitário desimpedido e cessação de conflitos são fundamentais para evitar a fome e prevenir a perda de vidas em larga escala.

9. Como ajudar

O Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (Ocha) afirma que agora é hora de a comunidade internacional apoiar o povo da Somália. Para o Ocha, em um mundo cada vez mais rico e generoso, nenhum país deveria passar fome. E nenhuma criança deve morrer de fome.

Doações ajudam as Nações Unidas e parceiros humanitários a continuar fornecendo alimentos, água potável, serviços de saúde e outras assistências vitais para pessoas necessitadas. Para contribuir, confira o site do Fundo Humanitário da Somália.

Conteúdo adaptado do material publicado originalmente pela ONU News

Tags: