Níger autoriza invasão de aliados caso sofra ação militar de bloco africano

CEDEAO contesta a tomada de poder por uma junta militar e ameaça intervir com suas tropas para restabelecer a democracia

A junta militar que assumiu o poder através de um golpe de Estado no Níger está disposta a sustentar o novo regime, apesar da exigência da Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) para que a ordem democrática seja restabelecida. Para isso, autorizou os aliados Mali e Burkina Faso, que são igualmente governados por militares, a invadirem o território nigerino caso o bloco use a força para impor sua vontade. As informações são da agência Reuters.

A CEDEAO colocou suas tropas de prontidão para um eventual invasão ao Níger, caso a junta militar atualmente no poder não restabelece o governo democrático do presidente deposto Mohamed Bazoum. Os governos do Chade e da Nigéria já se posicionaram a favor da invasão.

Mohamed Bazoum, presidente deposto do Níger (Foto: twitter.com/PresidenceNiger)

Embora CEDEAO e Níger digam que uma solução pacífica é a prioridade, a ação militar é uma alternativa real. O bloco argumenta que, se a tomada de poder no Níger for bem-sucedida, outras poderiam ocorrer na África, levando a uma sucessão de golpes de Estado que de certa forma já está em curso e se alastraria ainda mais. Argumentam, ainda, que o golpe tende a prejudicar os esforços regionais de combate ao terrorismo islâmico.

Pesa contra a invasão a possibilidade de ela gerar um conflito de maior amplitude, com o envolvimento inclusive de superpotências. O primeiro país arrastado para a guerra poderia ser a Rússia, que através do Wagner Group é parceira de Mali e Burkina Faso, favoráveis ao golpe no Níger.

Em comunicado conjunto transmitido por emissoras estatais no início de agosto, malineses e burquinense alertaram que qualquer intervenção em território nigerino seria considerada “uma declaração de guerra” também contra esses dois países.

Diante desse cenário, os ministros das Relações Exteriores dos três aliados africanos se reuniram na quinta-feira (24). No encontro, o líder da junta do Níger, general Abdourahamane Tchiani, assinou duas ordens “autorizando as Forças de Defesa e Segurança do Burkina Faso e do Mali a intervirem no território nigerino em caso de ataque.”

“Os ministros de Burkina Faso e do Mali reiteraram a sua rejeição de uma intervenção armada contra o povo do Níger, que será considerada uma declaração de guerra”, afirma comunicado conjunto das três nações governadas por juntas militares.

Por que isso importa?

Em 26 de julho, o Níger foi palco de um golpe de Estado, no qual o general Abdourahamane Tchiani, alegando “deterioração da situação de segurança” no país devastado pela ação de grupos jihadistas, se autodeclarou líder nacional dois dias depois após destituir o presidente democraticamente eleito Mohamed Bazoum. 

A ascensão ao poder de Bazoum, eleito no final de fevereiro de 2021, marcou uma transferência pacífica de poder histórica no Níger desde sua independência da França em 1960. Ele agora encontra-se sob custódia da guarda presidencial no palácio da presidência e pode ser julgado sob a acusação de “alta traição”.

O político é reconhecido como um aliado fundamental nos esforços ocidentais para combater a insurgência islâmica na região do Sahel, e Niamei é um dos principais beneficiários da ajuda externa.

Apesar dos apelos de diversos países e blocos regionais, clamando pela reinstauração do presidente deposto, Tchiani rejeitou tais chamados, argumentando que configuram “interferência nos assuntos internos do país”.

Um dos países mais pobres do mundo, conforme classificação da ONU (Organização das Nações Unidas), o Níger luta contra o alastramento do Boko Haram, ligado à Al-Qaeda, e do ISWAP (Estado Islâmico da África Ocidental), ambos da Nigéria, que já expandiram sua atuação para a nação vizinha.

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