Conteúdo adaptado de material publicado originalmente em inglês pela ONU News
As Nações Unidas saudaram o reinício das conversações em Jeddah, na Arábia Saudita, que podem colocar fim ao conflito de meses entre o exército sudanês e a milícia Forças de Apoio Rápido (RSF, na sigla em inglês), que deixou milhares de mortos e levou o Sudão a mergulhar numa crise humanitária.
“Nunca foi cedo demais para o início das negociações de Jeddah. Mais de seis meses desde o início da crise no Sudão, a tragédia humanitária no país continua a se desenrolar inabalável”, afirmou o coordenador de ajuda de emergência da ONU, Martin Griffiths, num comunicado divulgado no domingo (29).
Embora tenha saudado o reinício das conversações e agradecido à Arábia Saudita por acolhê-las, Griffiths sublinhou a terrível situação: “Milhares de pessoas foram mortas ou feridas. Uma em cada nove pessoas fugiu de casa. Quase um terço da população poderá em breve sofrer de insegurança alimentar.”
O conflito eclodiu no Sudão em meados de abril, quando as tensões entre o exército sudanês e as RSF paramilitar eclodiram numa guerra aberta na capital, Cartum, e em outros locais do país.
Crise humanitária ‘colossal’
O chefe da ajuda de emergência da ONU afirmou ainda que o sistema de saúde do Sudão está em frangalhos, com o espectro de surtos de doenças, incluindo a colera, se aproximando. Além disso, uma geração de crianças sudanesas corre o risco de perder uma educação completa.
Griffiths sublinhou que a comunidade humanitária faz todo o possível para satisfazer estas necessidades cada vez maiores.
“Desde meados de abril prestamos assistência a 3,6 milhões de pessoas, mas isto representa apenas 20% das pessoas que esperamos ajudar”, explicou, observando que os trabalhadores humanitários “estão paralisados pelos combates, pela insegurança e pela burocracia, tornando o ambiente operacional no Sudão extremamente difícil.”
“É por isso que estas conversações em Jeddah são críticas. Precisamos das Forças Armadas Sudanesas e das Forças de Apoio Rápido para quebrar o impasse burocrático”, afirmou.
Griffiths, que também é subsecretário-geral da ONU para Assuntos Humanitários, acrescentou: “Precisamos que eles cumpram plenamente o direito humanitário internacional. Precisamos deles para garantir o acesso seguro, sustentado e sem entraves às pessoas necessitadas, seja em Darfur, em Cartum ou no Cordofão.”
À luz da “crise humanitária colossal”, Griffith disse que o escritório da ONU que ele dirige, conhecido como OCHA , facilitará o aspecto humanitário destas negociações.
Cessar-fogo abrangente
Entretanto, a Missão Integrada de Assistência à Transição das Nações Unidas no Sudão (UNITAMS) também saudou o reinício das conversações em Jeddah, que facilitadas pela Arábia Saudita, bem como pelos Estados Unidos, pela União Africana (UA) e pela Autoridade Intergovernamental para o Desenvolvimento (IGAD).
Num comunicado de imprensa , a Missão disse esperar que “esta nova ronda de negociações resulte na implementação da Declaração de Compromisso para Proteger os Civis do Sudão, assinada em 11 de maio de 2023, e num cessar-fogo abrangente, fatores cruciais para aliviar o sofrimento do povo sudanês.”
A missão também saudou as iniciativas atuais de uma vasta gama de atores civis que apelam pelo fim da guerra, enfatizando a necessidade urgente de uma solução que conduza a uma retoma da transição política democrática.