O conflito civil no Sudão, iniciado no dia 16 de abril, completou recentemente seis meses com a triste marca de mais de nove mil mortos. A informação foi divulgada por Martin Griffiths, subsecretário-geral para assuntos humanitários e coordenador de ajuda de emergência da ONU (Organização das Nações Unidas).
“Meio ano de guerra mergulhou o Sudão num dos piores pesadelos humanitários da história recente. Os civis não tiveram trégua no derramamento de sangue e no terror. Os serviços básicos estão desmoronando. Isto não pode continuar”, disse ele através da rede social X, antigo Twitter.
Half a year of war has plunged #Sudan into one of the worst humanitarian nightmares in recent history.
— Martin Griffiths (@UNReliefChief) October 15, 2023
Civilians have known no respite from bloodshed and terror.
Basic services are crumbling.
This cannot go on.
My statement: https://t.co/My1ra4Pwte
Em comunicado divulgado pelo Gabinete das Nações Unidas para a Coordenação dos Assuntos Humanitários (OCHA), Griffiths destacou ainda que casos de violência sexual continuam sendo registrados, com as hostilidades ganhando cada vez uma motivação étnica.
Ele revelou, ainda, que entre as vítimas do conflito estão ao menos 45 trabalhadores humanitários mortos ou detidos, quase todos cidadãos sudaneses. Os profissionais da área que ainda atuam encontram sérias dificuldades, impedidos de chegar à população necessitada devido à ação dos grupos armados envolvidos no conflito e aos desafios de segurança.
“Mesmo nas áreas a que podemos aceder, as organizações humanitárias são prejudicadas pelo subfinanciamento: apenas 33% dos US$ 2,6 bilhões necessários para ajudar os necessitados no Sudão neste ano foram recebidos”, afirma Griffiths.
As Nações Unidas também marcaram os seis meses de conflito com números atualizados. O Sudão abriga atualmente a maior crise de deslocamento interno do mundo, com mais de 7,1 milhões de pessoas forçadas a deixar suas casas para outras regiões dentro do país. Dessas, 4,5 milhões foram deslocadas desde o início das hostilidades, segundo a Organização Internacional para as Migrações (OIM).
A capital Cartum, onde teve início o conflito, é o maior foco de deslocamento, origem de três milhões de todos os deslocados. Há, porém, quem tenha optado por deixar o país, sendo o Chade quem mais recebe cidadãos sudaneses. Outros destinos preferenciais são Egito, Sudão do Sul, Etiópia, República Centro-Africana e Líbia.
“A onda de pessoas recém-deslocadas em todo o Sudão sobrecarregou os serviços públicos e os recursos nas áreas de chegada, criando condições de vida terríveis para milhões de pessoas”, diz a ONU. “A situação é agravada pela significativa degradação da infraestrutura, pelo colapso dos serviços bancários e financeiros, pelas frequentes interrupções na internet, telecomunicações e fornecimento de eletricidade e pela destruição das instalações de saúde.”
Por que isso importa?
O Sudão vive um violento conflito armado que coloca frente a frente dois generais que comandam o país africano desde o golpe de Estado de 2021: Abdel Fattah al-Burhan, chefe das Forças Armadas Sudanesas (SAF, na sigla em inglês), e Mohamed Hamdan “Hemedti” Daglo, à frente da milícia Forças de Apoio Rápido (RSF, na sigla em inglês).
As tensões decorrem de divergências sobre como cem mil combatentes da milícia paramilitar devem ser integrados ao exército e quem deve supervisionar esse processo.
No dia 16 de abril, um domingo, explosões puderam ser ouvidas no centro da capital Cartum, mais precisamente no entorno do quartel-general militar do Sudão e do palácio presidencial, locais estratégicos reivindicados tanto por militares quanto pelas RSF.
O aeroporto internacional da capital, tomado pela milícia, foi bombardeado com civis dentro. Aeronaves foram destruídas, e caças da força aérea sudanesa e tanques foram usados contra os paramilitares.
Desde que o conflito se espalhou, primeiro pela capital, depois por outras regiões do país, as nações estrangeiras que tinham cidadãos e representantes diplomáticos no Sudão realizaram um processo de evacuação, viabilizado por um frágil cessar-fogo que não foi totalmente respeitado pela partes.
Os números de civis mortos e vítimas de abusos diversos não param de crescer desde então. A situação levou o secretário-geral da ONU, António Guterres, a dizer em julho que o país africano está “à beira de uma guerra civil“.