ONU: Conheça a nova coordenadora das Nações Unidas em Angola, Zahira Virani

Em entrevista, Zahira Virani fala dos desafios enfrentados para o desenvolvimento de Angola nas próximas décadas

Esta entrevista foi publicada originalmente no portal ONU News

Em entrevista, a nova coordenadora residente da ONU (Organização das Nações Unidas) em Angola, Zahira Virani, fala sobre cooperação, desenvolvimento sustentável e combate à pandemia no país africano, 45 anos após sua independência.

ONU News: Por onde a senhora passou dentro do Sistema das Nações Unidas até chegar a este posto em Angola?

Zahira Virani: Nunca, na minha vida, pensei que iria estar tão ligada ao mundo lusófono porque há menos de quatro anos, eu não falava uma palavra de português sequer. Então, quando cheguei lá me dei conta de que tinha de aprender o português rapidamente. E foi assim: aprendi.

Eu cheguei às Nações Unidas através de um programa, que se chamada Lead. Eu trabalhei no Panamá, em Genebra, Tadjiquistão, Afeganistão, Bósnia-Herzegovina, São Tomé e Príncipe, como coordenadora. E aqui, com muito prazer. É uma honra estar aqui na qualidade de coordenadora-residente do sistema, em Angola.

ON: E como foi aprender o português?

ZV: Ainda não podemos falar no passado [risos], pois ainda estou aprendendo. Não foi fácil, mas não foi difícil também não. A língua portuguesa é uma língua tão bonita. Eu gosto muito. Tem palavras tão suaves. E os portugueses têm uma maneira de falar, de pensar, o sentimento é diferente. E adorei.

Eu fiquei em São Tomé e Príncipe quase quatro anos. E foi uma boa oportunidade para aprofundar a minha relação com o português. E espero que aqui também, eu tenha a oportunidade de aprender mais.

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A nova coordenadora da ONU em Angola, Zahira Virani, em pronunciamento (Foto: Facebook/Zahira Virani)
ON: Angola é um país que pretende melhorar em termos econômicos, pretende se recuperar. Sabemos que Angola transita para uma economia de rendimento médio. Até agora, qual você acredita ser o maior desafio do país, 45 anos depois da independência?

ZV: É uma pergunta muto boa, mas também uma pergunta complicada. Um país tão grande, com uma história pós-conflito, um país que é mais jovem que eu. Infelizmente, durante quase 20 anos, na guerra civil, o país e o povo sofreram muito. E depois do crescimento econômico, da paz, infelizmente a economia do país cresceu só baseada em petróleo e em recursos naturais.

Como todos sabemos, o preço do petróleo global baixa todos os dias e 90% do orçamento do Estado vem do petróleo. Então um dos maiores desafios é diversificar a economia, desenvolver e encorajar o crescimento econômico, mas de uma maneira que não vá prejudicar o Meio Ambiente. 

Mas o mais importante é impulsionar a economia de maneira que se reduzam as taxas de desigualdade. Se olharmos o resto da África, Angola tem uma população jovem, muito jovem. Pelo menos 65% da população têm menos de 25 anos.

Essa juventude tem direito a estudar, ter emprego e ter um futuro baseado nos Direitos Humanos, na democracia e também em uma economia sustentável. Então, na minha opinião, esses são os maiores desafios que enfrentamos neste momento em Angola.

ONU: Conheça a nova coordenadora das Nações Unidas em Angola, Zahira Virani
Trânsito na capital angolana, Luanda; país foi o maior beneficiado pelos recursos extras liberados pelo programa (Foto: Wikimedia Commons)
ON: Este também é um ano especial para Angola dentro das Nações Unidas. São 45 anos desde a independência e o mesmo tempo dentro das comunidades das Nações. Como é que vê esta ligação e percebe que esta ligação, enfim, de alguma forma é considerada pelo governo de Angola?

ZV: Recentemente estive com o presidente [João Lourenço] na inauguração da Academia de Diplomacia de Angola. Este caso, em particular, me deixou muito contente por ver Angola priorizando a diplomacia.

Angola está tentando formar uma liderança, um papel mais forte, e acho que é fantástico para nós, para as Nações Unidas, para o multilateralismo e também para o continente africano. Porque todos os países têm muito a aprender com Angola.

Este país aprendeu lições de uma maneira dura, depois da independência, durante a guerra. Acho que Angola, neste momento, tem um papel forte não só para promover seus interesses em comércio ou investimento estrangeiro, mas também para partilhar estas lições e os valores de democracia, paz, estabilidade.

Então, aqui, no Escritório da ONU, vamos trabalhar com o Governo e o Ministério das Relações Exteriores para fortalecer e para promover este novo papel de Angola.

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