União Africana suspende o Níger em represália ao golpe de Estado

Líderes da junta que tomaram o poder têm se negado a reinstituir o governo eleito democraticamente, irritando nações vizinhas

A União Africana (UA) anunciou nesta terça-feira (22) a suspensão do Níger, medida imposta como resposta ao golpe militar ocorrido no final de julho na região da África Ocidental. Além disso, a UA enfatizou a necessidade da junta golpista liberar o presidente eleito, Mohamed Bazoum, e se retirar do poder. As informações são da rede Deutsche Welle.

A organização fez um apelo a todos os Estados-Membros para que rejeitassem essa mudança inconstitucional no governo e evitassem qualquer ação que pudesse conferir legitimidade ao regime ilegal estabelecido em Niamei.

Durante o fim de semana, Abdourahmane Tchiani, líder do golpe, mencionou que a transição do poder para um governo civil poderia levar até três anos. Essa declaração ocorreu durante um encontro entre uma delegação da Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) e o líder da junta militar no sábado.

General Abdourahamane Tchiani e lideranças golpistas (Foto: WikiCommons)

Abdulsalami Abubakar, ex-presidente militar da Nigéria e chefe da delegação, descreveu as negociações como “altamente produtivas”, expressando otimismo de que a crise pudesse ser resolvida diplomaticamente. Na semana passada, o principal bloco econômico da região anunciou a concordância com um possível “Dia D”, ainda não revelado, para uma intervenção militar caso as tentativas diplomáticas não tenham êxito.

Na terça-feira, o Conselho de Paz e Segurança da União Africana (UA) solicitou à Comissão da UA uma avaliação das implicações econômicas, sociais e de segurança em relação ao possível envio de uma força de prontidão para o Níger, exigindo que um relatório seja apresentado ao Conselho.

Tchiani, durante um discurso transmitido pela televisão nacional no sábado à noite, alertou que uma intervenção militar contra a junta “não seria uma tarefa simples”.

Proposta para eleições é negada

Uma proposta da junta militar do Níger para realizar eleições em três anos foi rejeitada pela CEDEAO, agravando um impasse político que tem o potencial de desencadear uma intervenção militar, caso nenhum acordo seja alcançado após o golpe ocorrido em julho.

Na segunda-feira (21), Abdel-Fatau Musah, comissário do bloco econômico, falou à agência Reuters sobre o pleito proposto pela junta militar. Ele reafirmou que a posição da CEDEAO continua a mesma e enfatizou a condição primordial: “É essencial que libertem Bazoum sem impor condições prévias e restaurem imediatamente a ordem constitucional”.

A declaração de Musah repercutiu o discurso do fim de semana, quando Tchiani também expressou a disposição dos líderes do golpe em se engajar em diálogo. Na ocasião, o autodeclarado presidente mencionou que a junta estaria buscando consultas acerca de uma transição de retorno à democracia, projetada para ocorrer ao longo de um período de três anos.

Por que isso importa?

Em 26 de julho, o Níger foi palco de um golpe de Estado, no qual o general Abdourahamane Tchiani, alegando “deterioração da situação de segurança” no país devastado pela ação de grupos jihadistas, se autodeclarou líder nacional dois dias depois após destituir o presidente democraticamente eleito Mohamed Bazoum. 

A ascensão ao poder de Bazoum, eleito no final de fevereiro de 2021, marcou uma transferência pacífica de poder histórica no Níger desde sua independência da França em 1960. Ele agora encontra-se sob custódia da guarda presidencial no palácio da presidência e pode ser julgado sob a acusação de “alta traição”.

O político é reconhecido como um aliado fundamental nos esforços ocidentais para combater a insurgência islâmica na região do Sahel, e Niamei é um dos principais beneficiários da ajuda externa.

Apesar dos apelos de diversos países e blocos regionais, clamando pela reinstauração do presidente deposto, Tchiani rejeitou tais chamados, argumentando que configuram “interferência nos assuntos internos do país”.

Um dos países mais pobres do mundo, conforme classificação da ONU (Organização das Nações Unidas), o Níger luta contra o alastramento do Boko Haram, ligado à Al-Qaeda, e do ISWAP (Estado Islâmico da África Ocidental), ambos da Nigéria, que já expandiram sua atuação para a nação vizinha.

Tags: