A ONG Anistia Internacional afirmou na quarta-feira (7) que empresas de tecnologia vêm apoiando o governo da Venezuela na perseguição a opositores, citando um aplicativo ligado ao regime de Nicolás Maduro que foi usado para denunciar cidadãos que se posicionam contra a permanência dele no poder.
De acordo com a entidade, o aplicativo, que não teve o nome citado, foi retirado das lojas virtuais por duas empresas de tecnologia, Google e Apple. Mas não sem antes causar estrago, já que a plataforma teria sido alterada para oferecer aos venezuelanos um sistema de denúncias em benefício de Maduro.
“Essas empresas estão cumprindo com suas responsabilidades de direitos humanos?”, questiona Matt Mahmoudi, chefe da Iniciativa do Vale do Silício da Anistia Internacional. “Se estivessem, elas teriam avaliado o risco de tal aplicativo ser usado pelo governo venezuelano não apenas para limitar o direito das pessoas à liberdade de expressão e reunião pacífica, mas também potencialmente contribuir para prisões ilegais, detenções e outros abusos graves de direitos humanos.”
Na semana passada, a Anistia afirmou que mortes foram documentadas na violenta repressão imposta pelo governo aos protestos populares que se seguiram à eleição presidencial. No pleito, Maduro declarou vitória com 51% dos votos, gerando contestação dos opositores, que o acusam de fraude eleitoral. Eles afirmam foi seu candidato, Edmundo González Urrutia, quem venceu a eleição, com 70% dos votos.
A vitória de Maduro é igualmente contestada por governos estrangeiros e analistas, que pedem a divulgação detalhada dos votos para atestar a legitimidade da vitória. “Votar não faz uma democracia – a contagem legítima e transparente dos votos sim”, diz artigo publicado pelo think tank Atlantic Council, ante aos relatos de intimidação de eleitores e “outras irregularidades”.
A Anistia lembra, ainda, que o governo venezuelano vem sendo investigado pelo Tribunal Penal Internacional (TPI) por crimes contra a humanidade, incluindo perseguição, e que a Missão de Investigação da ONU (Organização das Nações Unidas) na nação sul-americana relatou a política de repressão implementada pelas autoridades.
“A Anistia documentou repetidamente como, com muita frequência, empresas de tecnologia se envolvem em práticas que criam impactos adversos aos direitos humanos sem uma avaliação adequada desses riscos”, disse Mahmoudi.