O atual verão do Hemisfério Norte tem apresentado ondas de calor atipicamente intensas na América do Norte, na Europa e na China, com centenas de mortes já registradas. Um estudo realizado por pesquisadores da iniciativa World Weather Attribution indica que tal cenário seria “praticamente impossível” se o ser-humano não “tivesse aquecido o planeta queimando combustíveis fósseis.”
“Sem a mudança climática induzida pelo homem, esses eventos de calor teriam sido extremamente raros. Na China, teria sido um evento em 250 anos, enquanto o calor máximo como o de julho de 2023 teria sido praticamente impossível de ocorrer na região dos EUA/México e no sul da Europa”, diz o estudo.
Os pesquisadores da World Weather Attribution reforçam o alerta de que as ondas de calor causam milhares de mortes anualmente. E citam inclusive a possibilidade de que as estatísticas conhecidas de óbitos relacionados às altas temperaturas sejam subnotificados, vez que muitos países carecem de estatísticas confiáveis.
Outro estudo, esse publicado na revista Nature Medicine no dia 10 de julho, ratifica o alerta. Segundo a análise, mais de 61 mil pessoas morreram devido às altas temperaturas durante o verão na Europa no ano passado. A Itália foi o país mais afetado, registrando cerca de 18 mil mortes, seguida pela Espanha, com pouco mais de 11 mil, e pela Alemanha, com aproximadamente oito mil.
A situação tende a se repetir neste ano, com recordes de calor registrados em diversos locais. No Vale da Morte, nos EUA, as temperaturas ultrapassaram os 50º C no dia 16 de julho, mesma marca registrada no noroeste da China. Na Espanha, a Catalunha teve o dia mais quente de todos os tempos.
E as mortes já começaram a ser registradas em 2023, com mais de 200 vítimas fatais do calor no México. Espanha, Itália, Grécia, Chipre, Argélia e China também relataram óbitos, além de um grande aumento nas hospitalizações devido a problemas relacionados às altas temperaturas.
“Em todas as regiões, uma onda de calor com a mesma probabilidade da observada hoje teria sido significativamente mais fria em um mundo sem mudanças climáticas”, diz o estudo. “A menos que o mundo pare rapidamente de queimar combustíveis fósseis, esses eventos se tornarão ainda mais comuns, e o mundo experimentará ondas de calor ainda mais quentes e duradouras.”
A fim de amenizar o impacto do calor, o estudo destaca os efeitos positivos de planos de ação já implementados em alguns países. E afirma que cidades que possuem planejamento urbano para calor extremo, algo muito comum por exemplo no Oriente Médio, tendem a ser mais frias, reduzindo assim o efeito da ilha de calor urbana.