O ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, está nas Filipinas. Esta é a primeira visita de um chanceler brasileiro desde o início das relações diplomáticas entre Brasil e o país insular em 1946, conforme comunicado da pasta. E ocorre em meio à crescente tensão entre Manila e a China.
Durante a reunião, os representantes diplomáticos tiveram um diálogo amplo sobre diversas questões que influenciam a agenda bilateral, além de discutirem acontecimentos regionais e globais, incluindo as prioridades nacionais e os objetivos de desenvolvimento socioeconômico de ambos os países.
Eles enfatizaram os interesses comuns de suas nações em combater a fome e a pobreza, enfrentar a crise climática, promover a transição energética, garantir a segurança alimentar e nutricional e colaborar em áreas como agricultura, assuntos marítimos, energias renováveis, biocombustíveis sustentáveis, defesa, ciência, tecnologia e inovação, entre outros campos de interesse compartilhado.
Foram assinados dois acordos: um para fortalecer a cooperação entre universidades e escolas técnicas e outro para promover a colaboração em projetos técnicos entre os dois países.
A visita às Filipinas faz parte da estratégia do Brasil para fortalecer seus laços com os países da Associação das Nações do Sudeste Asiático (Asean), bloco composto por dez nações da região, com o qual o Brasil possui o status de “Parceiro de Diálogo Setorial”.
Em 2023, o comércio bilateral alcançou um recorde de 1,86 bilhão de dólares, com exportações de 1,55 bilhão e um superávit brasileiro de 1,24 bilhão. O Brasil se destaca como principal fornecedor de carne bovina e de frango para as Filipinas, e segundo maior fornecedor de carne suína. As Filipinas são o segundo maior mercado de carne suína brasileira.
Filipinas sob assédio da China
A visita do chanceler também ocorre conforme crescem as tensões entre Filipinas e China, que reivindicam grandes extensões do Mar da China Meridional, uma das regiões mais disputadas do mundo. Vietnã, Malásia, Brunei e Taiwan também estão inseridos na disputa pelos ricos recursos naturais da hidrovia.
A China é acusada de avançar sobre a jurisdição territorial dos demais países, construindo ilhas artificiais e plataformas de vigilância e incentivando a saída de navios pesqueiros para além de seus domínios marítimos. O objetivo dessa política é aumentar de forma gradativa a soberania chinesa no Mar da China Meridional.
As medidas, entretanto, desrespeitam uma arbitragem internacional estabelecida em Haia, em 2016, que invalidou as reivindicações de Beijing sobre a hidrovia, pela qual passam anualmente cerca de US$ 3 trilhões em comércio marítimo.
Beijing não reconhece a decisão e desde então, passou a construir ilhas artificiais em posições estratégicas do Mar da China Meridional, a fim de manter presença permanente por lá. Ao menos três dessas construções estão totalmente militarizadas, conforme apontam imagens de satélite.
Em meio a tal cenário, navios da China e das Filipinas voltaram a colidir durante uma altercação na última segunda-feira (19). Após o episódio, os EUA lembraram Beijing do pacto de defesa mútua que mantêm com Manila, o que levaria o governo norte-americano a se envolver militarmente em um eventual conflito.