China firma acordo com o Equador e fortalece sua presença na América Latina

Parceria, que precisa de aprovação do Congresso, é o mais recente sinal de que os EUA estão perdendo espaço na região

Os governos da China e do Equador anunciaram na quinta-feira (11) a assinatura de um acordo de livre comércio que frustra os Estados Unidos e sinaliza a crescente influência de Beijing na América Latina. As informações são do jornal Financial Times.

Segundo o Ministério do Comércio equatoriano, o acordo, que ainda carece de aprovação legislativa, visa a aumentar as exportações não petrolíferas em algo entre US$ 3 bilhões e US$ 4 bilhões. Os EUA seguem como maior parceiro comercial do Equador, mas a China já ocupa o posto se o petróleo for tirado da conta.

Entre os produtos abrangidos pelo acordo destacam-se os agrícolas e agroindustriais, entre eles camarão, banana, flores cortadas, cacau e café.

“Esta é uma oportunidade para ampliar a cooperação”, disse o ministro do Comércio da China, Wang Wentao. Já o o ministro equatoriano da Produção, Comércio, Investimentos e Pesca, Julio José Prado, disse que o acordo “coloca o Equador no mapa da Ásia.”

O presidente do Equador, Guillermo Lasso: influência chinesa crescente (Foto: WikiCommons)

As influências chinesa e norte-americana no país da América do Sul serão testadas nos próximos meses, vez que o acordo precisa ser ratificado pelo Congresso. A tendência é a de que Beijing e Washington atuem nos bastidores para tentar, de um lado, aprovar o acordo, e, do outro, vetá-lo.

O presidente equatoriano Guillermo Lasso, pró-EUA e que atualmente enfrenta um processo de impeachment, teve que se voltar à China após a embaixadora do Equador em Washington, Ivonne Baki, reclamar que o governo Biden não dá ao país dela a devida importância comercial.

O comércio bilateral entre Equador e China em 2022 foi estimado em US$ 12 bilhões, com as exportações equatorianas na casa dos US$ 5,7 bilhões. Trata-se de um aumento de 58% em relação ao ano anterior, segundo dados da Câmara de Comércio de Quito. Já as importações, focadas sobretudo em produtos industrializados, foram avaliadas em US$ 6,4 bilhões.

EUA perdem terreno

A recente parceria firmada com o Equador é mais um sinal da crescente influência chinesa na América Latina. Na visão de David Castrillon-Kerrigan, professor-pesquisador sobre questões relacionadas à China na Universidade Externado, da Colômbia, o governo dos EUA está “perdendo o controle” da região, antigamente conhecida como “quintal” norte-americano.

“Os Estados Unidos estão definitivamente perdendo influência em todas as frentes, especialmente na frente econômica, mas também diplomática, política e culturalmente”, disse Castrillon-Kerrigan em março à agência Associated Press (AP).

Entre 2005 e 2020, os chineses investiram mais de US$ 130 bilhões na América Latina, segundo o Instituto de Paz dos Estados Unidos. O comércio entre a China e a região também disparou, devendo chegar a mais de US$ 700 bilhões até 2035.

Tamanho poder de influência da China também vem da iniciativa multibilionária Nova Rota da Seda (BRI, na sigla em inglês, de Belt And Road Initiative), que ofereceu aos países em desenvolvimento ferrovias, portos, usinas de energia e outras obras de infraestrutura financiadas por empréstimos concedidos a taxas de mercado.

Mas existem interesse escusos por trás disso, na visão de Mateo Haydar, pesquisador da Heritage Foundation. “Há ambições absolutas de que a China se torne a influência dominante na América Latina”, disse ele ao site Washington Examiner em janeiro do ano passado. “O desafio é abrangente e há absolutamente um interesse militar e de segurança nisso. Essa ameaça está crescendo, e é um tipo de ameaça diferente do que vimos com os soviéticos”.

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