Honduras direciona sua diplomacia a Beijing e expõe influência crescente da China na América Latina

A presidente hondurenha, Xiomara Castro, anunciou na terça-feira que buscará estreitar laços com a China, o que implicaria em distanciamento de Taiwan

A presidente de Honduras, Xiomara Castro de Zelaya, escreveu na terça-feira (14) no Twitter que seu país buscaria relações diplomáticas com a China, o que implicaria em romper relações com Taiwan. A decisão do governo hondurenho de cortar laços diplomáticos com a ilha semiautônoma em favor de Beijing aponta para a crescente influência chinesa na América Latina, segundo matéria da rede Voice of America (VOA).

“Encarreguei o chanceler Eduardo Reina de gerir a abertura das relações oficiais com a República Popular da China, como sinal da minha determinação em cumprir o Plano de Governo e expandir livremente as fronteiras em concertação com as nações do mundo”, tuitou Xiomara.

Reina disse que a decisão foi baseada em “pragmatismo, não ideologia”, tendo sido motivada pela dívida do país, que é de US$ 20 bilhões, segundo o jornal Guardian. De acordo com ele, Honduras tem necessidades de energia, políticas sociais e serviço da dívida, que estão “afogando o país”. E acrescentou que Tegucigalpa ainda pretende manter relações comerciais com Taiwan.

Recentemente, a China financiou em Honduras a represa Patuca III, orçada em US$ 300 milhões e inaugurada em janeiro de 2021 pelo então presidente Juan Orlando Hernández. Beijing tem como hábito usar o comércio e o investimento como incentivos para estreitar laços, como fez na região com Costa Rica, Panamá, El Salvador e Nicarágua. Além desses países latinos, também fez o mesmo com nações do Pacífico Sul, incluindo as Ilhas Salomão.

A presidente de Honduras, Xiomara Castro de Zelaya (Foto: WikiCommons)

Tamanho poder de influência chinês também vem da iniciativa multibilionária Nova Rota da Seda (BRI, na sigla em inglês, de Belt And Road Initiative), que ofereceu aos países em desenvolvimento portos, ferrovias, usinas de energia e outras infraestruturas, financiados por empréstimos concedidos a taxas de mercado. Em meio a tensões crescentes com Washington, toda essa cifra astronômica investida na América Latina parece estar “se pagando”.

O Ministério das Relações Exteriores de Taiwan se pronunciou sobre o assunto na quarta, manifestando “sérias preocupações” a respeito do anúncio de Xiomara. Também instou o país a considerar cuidadosamente sua decisão e “não cair na armadilha da China”, o que poderia ter como consequência o rompimento da amizade de longa data entre a ilha e Tegucigalpa.

A mudança do país da América Central de Taiwan para Beijing deixa o turbulento território insular com relações diplomáticas formais com apenas 13 países, entre eles o Paraguai.

Por conta do princípio “Uma Só China“, o país mais populoso do mundo não permite que nações com as quais sustenta diplomacia mantenham relações oficiais com a sua considerada província rebelde.

EUA enfraquecido na América Latina

Na visão de David Castrillon-Kerrigan, professor-pesquisador sobre questões relacionadas à China na Universidade Externado da Colômbia, o episódio serve como um exemplo de como o governo dos EUA está “perdendo o controle” da América Latina.

“Para países como Honduras, não reconhecer o governo de Beijing significava perder oportunidades”, disse Castrillon-Kerrigan. “Os Estados Unidos estão definitivamente perdendo influência em todas as frentes, especialmente na frente econômica, mas também diplomática, política e culturalmente”, acrescentou.

Entre 2005 e 2020, os chineses investiram mais de US$ 130 bilhões na América Latina, segundo o Instituto de Paz dos Estados Unidos. O comércio entre a China e a região também disparou, devendo chegar a mais de US$ 700 bilhões até 2035.

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